Banqueiros de suas cidades
Agora que me preparo para lançar um livro sobre antigos chefes e colegas, com o título de Gente do Econômico, achei necessário fazer um artigo sobre algumas personalidades que não foram biografadas na obra, mas que tiveram grande importância na história do banco e da Bahia.
Quero falar dos gerentes do banco no interior do Estado.
As primeiras agências bancárias instaladas fora da capital foram as de Vitória da Conquista e São Félix, que se inauguraram em 1930, graças à iniciativa do presidente do Banco Econômico de então, Dr. Góis Calmon. Ele obtivera do Ministério da Fazenda autorização para abrir outras sete (Alagoinhas, Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Juazeiro e Santo Amaro.).
Instalar um banco no interior,naquele tempo, era uma coisa muito complicada. Sem qualquer meio de comunicação a não ser o Correio e com estradas carroçáveis, a gestão de uma agência bancária em lugar tão distante da capital como Vitória da Conquista implicava em grandes dificuldades.
A maior delas, com toda certeza, consistia na escolha de uma pessoa de confiança para gerenciar a filial.
No caso de Conquista, o ex-governador da Bahia e dirigente do Econômico, Góis Calmon, decidiu nomear para o cargo Joaquim Hortélio da Silva Filho, jovem comerciante bem conceituado, genro do coronel Zeferino Ferreira da Silva, chefe político local.
Em 1930 poucos moradores de Conquista sabiam o que era um banco e praticamente ninguém confiaria seu dinheiro à sua guarda. A presença de um respeitado homem da terra servia para infundir confiança aos clientes. Em pouco tempo a agência passou a ser conhecida como “banco do sr. Joaquim Hortélio” e prosperou.
Com Hortélio, e pelas três décadas seguintes, até o fim dos anos sessenta, o Econômico associou seu nome aos dos homens que escolhia para responder pelas agências, em geral comerciantes, pecuaristas e uns poucos profissionais liberais.
Infelizmente, a Revolução de 30 e o exílio de Góis Calmon interromperam a expansão que ele pretendia imprimir ao estabelecimento bancário. Somente a partir de 1944 seu filho Miguel Calmon, que assumira cargo de diretor em 1941, deu continuidade ao programa de abertura de agências no interior do estado.
Naturalmente que ele seguiu a praxe de nomear cidadãos de grande respeitabilidade para a gerência dos departamentos.
Mas, o novo presidente do banco não fez apenas isso. Decidiu dar uma formação profissional àquelas pessoas, prepará-las adequadamente para a administração do crédito bancário, objetivando transformá-las em agentes de desenvolvimento.
Através de reuniões periódicas em Salvador, que duravam três dias, de visitas pessoais às cidades onde eles atuavam, de cartas, bilhetes, relatórios e estatísticas ia doutrinando esses bancários novatos e transferindo-lhes o justo conceito de suas elevadas responsabilidades perante os cidadãos e autoridades dos municípios.
Dr. Miguel Calmon gostava de dizer que eles eram os banqueiros de suas cidades e que, nessa condição, tinham o dever de apoiar os empreendimentos que ali se instalassem, de prestar toda a ajuda financeira possível aos bons empresários, que geravam empregos e pagavam impostos.
Naquela época, embora já existisse o sistema de limites de crédito, o gerente era quem decidia, soberanamente, quanto emprestar a cada cliente.
A ação desses homens no interior do estado foi importante para o desenvolvimento de suas cidades, e muitos ganharam tal notoriedade que vieram a assumir posições de importância.
É impossível neste texto lembrar o nome desses pioneiros, até porque não me lembro de todos, mas julgo indispensável anotar os daqueles que não esqueci, além de Joaquim Hortélio, que veio a ser deputado estadual: Victor Nascimento, em Alagoinhas, Mário Padre, em Itabuna, Ariston Cardoso, em Ilhéus, Gilberto Meneses, em Feira de Santana, Jorge Guerra, em Cruz das Almas, e que chegou a prefeito do município, Amado Barberino, em Jacobina, Joaquim Moreira, em Coarací, Osmane Ferreira, em Ibicaraí, Ramiro de Paula Tourinho e depois Fábio Viana, em Jequié, Luiz Galvão Marinho, em Ruy Barbosa, Aydano Vaz de Queiroz, em Itaberaba, José Ferreira Gomes, em Itambé, Abelardo Carvalho e depois Carlos Mota, em Serrinha, esse que também foi prefeito, Vicente Quezado Leite e José Leal Ivo de Carvalho, em Brumado, José Rolemberg Leite, que havia sido governador do Estado, em Aracajú, Aloysio Costa Oliveira, em Castro Alves e Osvaldo Scofield de Souza, em Caravelas.
Os estudiosos e historiadores estão a nos dever um trabalho sobre a vida bancária no interior do estado e a participação dos gerentes de bancos no desenvolvimento das cidades.
Salvador, 21/04/06
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