Homenagem a meu eterno inspirador,Guilherme de Almeida,(1890-1969) por seu poema "A HÓSPEDE" cuja transcrição encontra-se no fim desta página.
REENCONTRO
J.B.Xavier
Vem, vem, não tenhas medo...
Porque mesmo te esperando, chegaste cedo
E tornaste tua visita inesperada...
Vejo-te ainda com o pó da estrada,
Apoiando-se no humílimo bordão...
Vem, meu coração,
Deixa-te sentar neste cantinho
Onde há tanto eu guardo o carinho
Reservado a ti, em minhas longas esperas...
Vem, que desde muitas eras
Eu te espero nessa humilde guarida...
Mata tua sede de amor, minha querida,
Nos beijos que são teus desde que nasci...
Vem, que também cruzei fronteiras para ter-me aqui,
E forças retirei de uma esperança teimosa...
Mas ainda trago a pétala daquela delicada rosa
Que um dia colocaste em meu livro de poemas...
Vem, que já não há mais dilemas,
Há apenas um reencontro, tardio e desesperado
Construído sobre os escombros do passado...
* * *
A HÓSPEDE
Guilherme de Almeida
Não precisa bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo
pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.
Dorme. Sonha. Desperta. Da colméia
nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
e vai. Há sol nos frutos dos pomares.
Não olhes para trás quando tomares
o caminho sonâmbulo que desce.
Caminha - e esquece.
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