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Infanto_Juvenil-->A boneca de Ravenala -- 19/11/2018 - 14:11 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tinha sete anos, e  se lembra de quase todas as estórias que sua avó contava. Passava a mão na cabeça da netinha e dizia: ‘Durma, Princesa, durma... Vou retirar os monstros dos teus olhos. Pode dormir agora. Eles jácute; se foram!’  Dormia, não sem antes reclamar: “Eles estão voltando, vovó! Os monstros estão em meus olhos e não me deixam dormir. Conte uma estória!”

— Posso contar outra vez A Lagoa Encantada?
— Não, aquela não! Tenho medo da carimbamba.
— Jácute; contei todas  que sabia!
— Pode ser inventada, vovó!  Pode ser inventada.
— Todas as estórias são inventadas, minha filha!
— Então invente uma!
E Corina contou:
A fada da sabedoria foi convidada para um congresso que deveria acontecer, nos primeiros dias de vida de uma pequena formiga albina. A formiga seria um fardo para o formigueiro, por isso, deveria ter sido arrancada e jogada fora, quando ainda ovo. O destino da pequena formiga estava prestes a transformar-se num exílio de vida ou numa pena de morte, mas, por sorte, a fada madrinha postou-se no meio da assembleia e vaticinou: ‘Esta menina serácute; frondosa como uma palmeira, e quando soprar o vento Norte, navegarácute; os sete mares e serácute; muito aplaudida. O som de seu trompete serácute; um acalento para a alma de quem dela se aproxima, e toda a Terra conhecerácute; seus feitos.’   Houve profundo silêncio, no mundo encantado das formigas, em seguida, a rainha decretou:  ‘A partir de agora, a formiga albina se chamarácute; Beethoven. Providenciem a orquestra, organizem o espetácute;culo, quero ouvir o último momento da quinta sinfonia. ’
— Beethoven existiu de verdade, vovó?
— A formiga Beethoven, só existiu na imaginação de seu criador, mas o compositor existiu. A nova sinfonia de Beethoven, por exemplo, faz um bem enorme a minha alma. Por certo, minha filha, gerações futuras, haverão de usar a boa  música para estimular o cérebro humano a se reorganizar.
Corina teve vontade de dizer que o menino Davi tocava harpa quando, o rei Saul se sentia perturbado por maus espíritos, e logo que Davi tomava a harpa, Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava.  
Parece que Corina fala de um menino sem parte do cérebro, que  aprendeu a ler e a escrever, ouvindo músicas. Mas, como  poderia saber de Herman, se ele ainda  não nasceu? Como saber se não serácute; abortado?  Muitos morrem antes de nascer!... Como pode morrer  uma pessoa antes de nascer, a boneca de Ravenala  não compreendia. Talvez Corina falasse de seu filho Ludovico que tinha  um buraco no cérebro, viveu sete anos e aprendeu a tocar cavaquinho. Ou falasse mesmo de Beethoven! Não necessariamente da formiga, mas do alemão filho de dona Magdalena. 
— Beethoven tinha um buraco no cérebro?
— Não! Ele tinha um cérebro privilegiado.
— Não entendi.
— Desculpe-me, Maria Emília! Esqueço que tua cabeça é de pano.
— Branquela!
— Cuidado com o preconceito racial. Isso pode ser considerado crime. 
— Em algum país do mundo,  é crime quebrar um ovo de tartaruga, mas é permitido matar um feto humano.
O diácute;logo interrompeu-se.
 Passos arrastados aproximam-se do quarto. 
— É vovó! Finja que dorme!...
— Jácute; estou fingindo.
O trinco deu um estalo e a porta do quarto se abriu. Corina vê Emília embrulhada em panos de dormir.
— Vovó! Emília estácute; aborrecida comigo.
— Por que Emília estácute; brava contigo?
— Dei uma palmada no bumbum dela.
Corina faz uma retrospectiva, desde as primeiras horas da manhã, até o entardecer, e se recorda  de que, ainda cedo, “acariciara” o traseirinho de Ravenala, com uma palmada, por  causa de uma travessura.
— Amanhã,  você pedirácute; desculpas a Emília!
— E se não houver amanhã? E se o sol não acordar?...
— O Sol vai nascer outra vez! É necessácute;rio que o dia velho descanse e desperte renovado. É preciso que o galo cante três vezes para despertar o homem que dorme. 
 — Não deveria haver noite! Vultos vagueiam. Vampiros e lobisomem passeiam na escuridão.
— Isso é lenda!
— A carimbamba também é lenda? Tenho medo da carimbamba.
— Muitas vezes,  a ficção avança os muros da realidade ou a realidade penetra o labirinto da ficção. O que hoje é ficção, amanhã pode ser realidade, mas monstros não existem. Eles são obras criadas por mente doentia.
Ravenala insiste.
— A carimbamba existe?
 — Quando se acredita numa coisa, ela passa a existir de verdade. Mas a carimbamba só existe em teus medos. E agora que se casou com a mocinha camponesa, o encanto foi quebrado.
— E a velhinha?
— Bem, a velhinha faz parte da técnica utilizada pelo autor, para que a história nunca acabe, continue viva e passe de geração para geração. A ficção mostra-se  tão real, que  personagens dos contos de fadas saem dos livros e vão morar em mundos reais, como a tua  boneca. Sabe de onde ela  veio?
— Emília  me falou que seu pai era  um homem bom, e foi preso, porque escrevia livros. Se eu escrever um livro, também serei presa?
— Não dê crédito a tudo  que diz uma boneca. Agora, durma, Princesinha.
Corina retirou-se.
 Seus passos lentamente se afastavam, até desparecerem do alcance auditivo da neta.
— Pode acordar,  Emília, a vovó jácute; foi.
— Ufa! Jácute; estava cansada de fingir...
 
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 19/11/2018
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