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Cronicas-->VIVENDO E APRENDENDO A JOGAR -- 19/01/2002 - 07:21 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VIVENDO E APRENDENDO A JOGAR

Luiz Alberto Machado

Nunca fui muito achegado a jogar nada, talvez seja por isso que nunca gostei de andar militando em política partidária, preferindo minha atitude política nos escritos, nos dizeres, nas expressões. Votar, sim, sempre votei, voto e votarei. Nunca me negarei a esse direito da cidadania.
Claro que quando era menino me esgueirava atrás de uma bola, me achando um Rivelino, um Pelé, um craque qualquer, quando, na verdade, nada mais era que um perna-de-pau incorrigível de levar rasteira até de aleijado. Verdade, certa vez, na maior correria - esta era a minha única habilidade no trato com a bola, empurrá-la prá frente e sair pé na bunda atrás que nem louco -, dei de inventar a driblar o que não sabia e, aproveitando da deficiência do zagueiro, tentei dar um toque daquele da vaca. O cabra mais sabido que eu, passou a rasteira com a moleta na maior cama-de-gato, e estoporei o joelho na quina dum paralelepído. Resultado: sangreiro velho espirrou, uma pisa da gota porque tava jogando bola todo limpinho e um banho com álcool, vinagre e creolina para tirar as impurezas adquiridas com o fato. Berreiro triste o meu. Minha mãe ali, braba: - Vou costurar esse talho com linha de vara-de-pescar, seu desgraçado! Óxe, aí é que eu me escondia para não ver nem médico nem enfermeiro, só mertiolate e mercúrio, assoprando que nem doido para não doer tanto como doía. Mais nada.
Abandonei o futebol aos onze anos de idade e juro que seria um atleta renomado, não fosse minhas presepadas de mangar de todo mundo, levando chapuletada a cada ironia.
Também não vou negar que de meninote a adolescente não tenha virado tabuleiros com cartas de baralho, pedras de dominó, tacos de sinuca e tentar adivinhar uma vez na vida o palpite na porrinha. Era péssimo: não distinguia valete de rei, copas de pau ou ouros; nem sabia armar direito uns toques quando possuía uma trinca de sena e o cara mais batido que trem atrasado e, ainda, perder a partida do dominó; imperícia pura no taco, não distinguindo as cores e o valor das bolas no sinuca, perdendo mais pelos finos de cego que por ausência de encaçapar algumas delas; muito menos havia comido bosta de cigano para adivinhar com quantos palitos o sujeito viria num blefe de carregado quando o indistinto vinha de lona. Ora, mau jogador que se preze, recolhe seus muafos e parte para outra. Nada, inventei de aprender xadrez, tá esse eu gostei, muito embora nunca tenha conseguido dar nenhum xeque mate em qualquer principiante que mal sabia o nome das pedras. Mas gostei e perdura até hoje essa mania de perder tempo mexendo com bispos, rainhas, reis, cavalos e torres, como se fosse um sabichão de tão ultrajante imodéstia. Só nas raríssimas horas vagas e de brincadeira, só. Os outros tipos de jogo tenho verdadeiro horror.
Assim, também, na política partidária. Primeiro que percebi que os outros acham a gente com cara de besta. Segundo, só eles possuem a razão de tudo. E eu só via golpe na zona abaixo da cintura. Nem no futebol do meu tempo lá no interior das grotas, onde a perna começava do pescoço prá baixo e a gente só via nego com a língua de fora, pedindo penico. Isso sem contar com a tuia de faca, canivete e desaforos, no maior arranca-rabo quando acabava a partida. Pois é, começava na risadagem e findava no maior quebra-pau, um intrigado do outro.
Do mesmo jeito vi a política partidária na provinciazinha e depois nas de àmbito nacional. É cada golpe baixo, tanta sujeira, meio-mundo de hipocrisia, nego armando falcatrua e mentindo deslavadamente, aparecendo mais que vagalume na escuridão, paparicado vergonhoso, intrigas despropositais, front de oportunismos, oposições de conveniências, patifarias amoitadas, pilantragens sórdidas, nossa! Foi quando um amigo meu, doido de pedra, disse: - Política é feito cozinhar feijão! O que é bom, desce! O que não presta, aparece!
Ora, eu que sempre fui um mau jogador, nunca que poderia entrar nessa não. E da vez que ventilei me afiliar nalgum partido, este mesmo amigo me disse: - Quer botar a família na roda, entre prá política! Você vai ver como é que se degenera fácil qualquer sujeito descente!
E insistia que o cara entrava na política probo e saía mais sujo que bueira de esgoto! É só ver a cara-de-pau dos sujeitos negando o fisiologismo clientelista. Tá cá gota! Verdade. E principalmente num país como o nosso onde as legendas foram criadas para aluguel de farsantes. Que embrulhada, meu! Em quem acreditar, afinal? No discernimento. A gente só não pode dar uma de abestalhado e re-empossar defenestrados sem-vergonha que já foram banidos em nome da moral e da lei e posam de vítimas do sistema nocivo que eles próprios criaram. E outra: eu prefiro mulher no poder! Agora, aquela do Maranhão, gente, é de lascar; nela votar, nem que eu tivesse sido esconjurado, milhões de palmos inferno adentro enfiado, para fazer uma besteira dessa pro meu país. Basta o que a gente passou: replay, jeito maneira.
Por enquanto, enfiando as mãos pelas pernas, dando pirueta prá arranjar o ganha-pão e cheio de nó pelas costas remoendo os desatinos do Brasil, fico cantarolando aquela canção do Guilherme Arantes imortalizada na voz da deusa Elis Regina. Vivendo e aprendendo a jogar. Pau neles! E nela! Ó! No mais: glup! Glup! Bié bié!

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