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Artigos-->Reflexões durante viagem ao Jorro -- 20/03/2006 - 09:54 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Reflexões durante viagem ao Jorro





Ao visitar Caldas do Jorro nesses dias calorentos de início de março, a décima oitava vez que dois amigos aposentados e eu viajamos para as terras de Tucano, ocorrem-me duas reflexões que desejo partilhar com os leitores: a situação da rodovia Br-116 e o problema da escassez de água no semi-árido.

A questão do trecho da estrada que vai de Serrinha a Tucano já foi objeto de comentários em tempos passados, mas esse fato não é motivo para abandonar o tema.

Nos últimos dez anos esses pouco mais de oitenta quilômetros foram recuperados algumas vezes. Operações tapa-buracos ou recapeamento asfáltico têm sido realizados a cada dois, três anos por empreiteiras, serviços que duram uns poucos meses, até que as chuvas e o tráfego pesado mostrem a precariedade das obras.

A gente não sabe a que atribuir a má qualidade dos trabalhos executados, mas é levado a supor que a) ou os orçamentos aprovados são insuficientes para cobrir os custos, ou b) há desvio de recursos para outras finalidades...

No momento a estrada está tão ruim que os habitantes de Tucano a interditaram por quase dois dias, num protesto para obter que seja consertada imediatamente, e nós decidimos fazer um percurso de mais de duzentos quilômetros para fugir dela, na volta a Salvador, preferindo o longo caminho via Euclides da Cunha/Monte Santo/Queimadas/Santa Luz/Valente/Conceição do Coité e Serrinha, tomando a rodovia estadual que está excelente.

Já a questão alusiva à escassez de água na região da caatinga me leva ao polêmico projeto de transposição do rio São Francisco, que já tratei nesta página.

Não é que pretenda agora voltar ao tema, que tem ensejado manifestações de técnicos do quilate de Manoel Bonfim e do governador João Alves, mas o assunto é tão antigo e importante que não se pode perder a oportunidade de tratar dele, principalmente nesses tempos pré-eleitorais, em que a demagogia e a insensatez podem dar partida a esse faraônico empreendimento, pelo que consta eleito como prioridade do governo do nordestino Luiz Inácio Lula da Silva.

Como falei em Manoel Bonfim, é bom anotar que ele é contra a transposição do São Francisco porque entende que o Nordeste, especificamente o semi-árido, não precisa de suas águas. Segundo ele, “ a região é a mais açudada do planeta, onde se acumulam 25 bilhões de metros cúbicos de água, mais do que o São Francisco despeja anualmente no Oceano Atlântico”.

Esse formidável reservatório, um estoque inesgotável, não é utilizado para abastecimento humano e animal das populações que estão no seu perímetro, e muito menos para atividades econômicas.

Além dessas reservas de superfície, Bonfim menciona as águas subterrâneas, um potencial hídrico inaproveitado.

É precisamente nesse aspecto que quero abordar a situação da bacia subterrânea de Tucano-Jatobá, uma das maiores do país.

Quando a gente visita a estância hidromineral do Jorro percebe o enorme desperdício de água. Dos dois poços profundos existentes na cidade as águas quentes e límpidas jorram continuamente há mais de cinqüenta anos para o lazer e tratamento de certas doenças dos moradores e turistas no centro da praça principal, em alguns hotéis e pousadas e no parque municipal. E nada mais se faz com ela. Roças, fazendas e moradores da zona rural próximos à vila não contam com o benefício desse prodígio que a natureza deixou à disposição de todos. Pessoas e animais localizados a dois quilômetros da cidade podem morrer de sede (espero que seja uma figura de retórica).

Nem mesmo um açude foi construído nas proximidades para acumular águas bombeadas do subsolo, que pudessem servir ao consumo humano, animal e à irrigação.

Provavelmente com menos de 1% do orçamento estimado para a obra da transposição se montaria um sistema de captação, de acumulação e de distribuição dos mananciais da bacia Tucano-Jatobá.

A incúria governamental, aliada à sedução exercida pelos projetos megalomaníacos, aos quais naturalmente se associa a fartura das verbas públicas que despertam interesses de toda ordem, tudo isso faz com que se desprezem as pequenas obras, que são capazes de atingir os mesmos objetivos das grandes.

Quero encerrar este artigo voltando a citar Manoel Bonfim. No seu artigo “Tudo pelos mananciais” ele informa que a transposição do São Francisco alcançará apenas 0,6% da área do Polígono das Secas, enquanto o aproveitamento adequado de parte dos 70.000 açudes do semi-árido beneficiará muito mais gente e ainda permitirá que se instalem projetos de irrigação. Sem contar o uso das reservas subterrâneas!

Salvador, 20 de março de 2006



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