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Artigos-->O discurso legalista do medo ( Senhora Kramer ). -- 13/03/2006 - 10:10 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Hemos de combinar la dureza de la serpiente com la pacífica dulzura de la paloma: Fuertes de espíritu, pero tiermos de corazón. Se si tienen cualidades de serpiente y nos faltan las cualidades de la paloma, seremos frios, malvados y egoístas; si tenemos las cualidades de la paloma sin las de la serpiente, seremos sentimentales, anêmicos y abúlicos. Hemos de combinar, pues, las dos.”



- Hugo Chávez, “El Golpe Fascista contra Venezuela”, enero de 2002.





Em recente artigo publicado no Jornal do Tocantins, 12/03/06, edição nº 3.623, a jornalista Dora Kramer mostrou claramente a que veio no quesito de ideologizar uma opinião, desrespeitando códigos de ética proeminentes a sua profissão. Publicou um texto em que expunha de maneira pragmática seu desdém aos menos favorecidos, defendendo políticas ineficientes ao país. Falou sobre problemas do campo de maneira pessoal ( defendendo sua cômoda origem burguesa ), como se estivesse reproduzindo o discurso preconceituoso da elite paulistana do Estado Novo getulista. No clássico discurso dos legalistas ( versão brasileira do fascismo mussolinista ) contra o processo socialista liderado pelos soviéticos, jornalistas predecessores de Carlos Lacerda criaram o discurso do medo, uma curiosa tática maniqueísta apoiada pelos mecanismos populistas hegemônicos dos EUA, onde deturpava as propostas revolucionárias anti-imperialistas dos movimentos populares na América Latina.



Em seu panfletário texto, a senhora Kramer utilizou termos interessantes, afinal, o tema é polêmico ( Reforma Agrária ), e todos nós sabemos o quanto tem sido difícil falar sobre ele. Até porque, alia o planejamento reformista para uma sociedade mais justa, com o desenvolvimento agrário baseado na agricultura familiar, apoio técnico ao campo e geração de emprego compatíveis no âmbito da sustentabilidade econômica. Em vias de práxi, essa deveria ser a Reforma Agrária condizente às mazelas do povo. Mas, analisemos o escrito de Kramer:



“ Das invasões, o MST passou aos saques, aos bloqueios de estradas, à ocupação de prédios, interrupção de pedágios, tomadas de reféns e, sob o beneplácito das autoridades constituídas, chegaram agora a práticas tão criminosas quanto obscurantistas”.



O termo correto é ocupação. Demarcar território em uma área improdutiva, que esteja indisponível ao plantil e irrigação. No caso da zona urbana, se instalar em prédios públicos/privados que se encontrem em situação de abandono. A invasão se caracteriza pela tomada à força de um bem alienável, que nas funções de seu uso, prestem serviço de utilidade ao povo. Os veículos de comunicação empregam propositadamente um conceito errôneo acerca dessa informação. Na história do MST, não há registros de “assaltos” ou “práticas criminosas”. Existe, sim, uma má e pejorativa descrição de suas atividades na luta pela Reforma Agrária.



Essa luta remonta na brava resistência de Canudos, no Arraial de Antônio Conselheiro (Bahia), destruído pelas tropas do exército no final do século XIX. Vamos mais além, com o Quilombo dos Palmares ( fundado no século XVII ), em Alagoas, a primeira grande investida contra o escravismo monocultor lusitano da metrópole.



Os casos citados, são tentativas resistentes a um modelo econômico que prejudicou o país – desde sua formação – na busca por uma solução à distribuição das riquezas na situação de colônia. Claro que são casos específicos, atendem a contextos regionalizados, mas são exemplos dessa luta emblemática pelos meios de produção distribuídos democraticamente no Brasil. A raiz do não-crescimento de renda do brasileiro, está embutida numa centralização de terras e capital promovida pela economia açucareira e cafeeira. Coisa dos barões. Basta estudarmos Celso Furtado e Florestan Fernandes para entendermos um pouco este processo do desenvolvimento nacional monocultor-extrativista-exportador-predatório.



Kramer cita o desrespeito pelas autoridades por parte do MST. Quando atribui adjetivos enganosos como “vandalismo”, “barbárie” e outras inverdades, incita o leitor a tomar partido de sua causa, e, neste caso, da empresa na qual trabalha, o jornal Estadão, de São Paulo. Pois bem, invasão e destruição são práticas históricas do Estado, não do MST.



“ Se a idéia é fazer uma agenda de barbáries obedecendo às datas marcantes, uma onda vermelha”.



Essa “onda vermelha”, citada pela autora da coluna não é sinônimo de vandalismo nem atrocidades. Aliás, as acusações de seqüestro são infundadas. O que me reforça a dizer que o PCR – Primeiro Comando Ruralista – , esta sim, uma organização criminosa fundada por latifundiários que já matou inúmeros camponeses, principalmente na região sul do país, não é mencionada nas linhas da autora.



Talvez a senhora Kramer não saiba, mas no dia 17 de abril de 1996, 19 agricultores sem-terra foram brutalmente assassinados pela polícia militar na “curva do S”, em Eldorado do Carajás, sudeste do Pará. O coronel Pantoja – chefe da operação – ordenou que soldados de seu destacamento atirassem contra homens, crianças, idosos e mulheres indefesas. A chacina – de repercussão internacional – foi aplaudida pelo então governador – na época – Almir Gabriel. Em 2006, estaremos completando 10 anos do ocorrido. Como tributo aos camponeses mortos, o MST promove uma onda de ocupações pacíficas, discussões, reuniões com representantes do Governo, intensificando a luta por uma sociedade mais justa. Este é o abril vermelho. Em tese, seria a única forma de pressionar o Estado e sociedade civil a repensarem sua histórica exclusão social enquanto nação constituída. A autora, também, defende a violação ao texto constitucional de 1988:

“ Capítulo III – Política Fundiária – Artigo 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social”.



Recentemente, a Deputada Federal Kátia Abreu (TO) propôs na Câmara, um projeto-lei que criminaliza oficialmente ações anti-latifúndio ( no caso de ocupações ) nas questões rurais da política fundiária. Articuladora titular da Bancada Ruralista, Kátia Abreu defende a utilização de milícias paralelas ao poder do Estado contra o MST. Seria a violação “legal” dos direitos humanos...



Sugiro que a senhora Kramer estude um pouco mais sobre a história de seu país. Sua coluna efêmera presta um deserviço à sociedade, apenas reforçando seu discurso elitista. Leia jornalistas sérios, que tenham compromisso com alguma coisa, como José Arbex Jr., Marilene Felinto, Bernardo Kucinski, Gabriel Prioli, Paulo Marcum, entre outros.



Não venha com doutrinas neocoloniais.







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