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cronicas-->Portas -- 23/10/1999 - 12:00 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você já tentou conversar com uma porta? Posso
garantir que é muito difícil. A gente vai
falando, dando porquês, explicando, criando
metáforas, gastando ora vejas e veja bens (ou
será vejas bem?), ou seja, aplicando todos os
artifícios para cativá-la. E nada, ela fica ali,
quieta, sem expressão, não diz nada, sequer um Ã
hã de concordància.

Eu realmente não consigo conversar com uma
porta. Eu já não sou de muita conversa e ela ali,
imóvel. Fica difícil.

As portas são como alguns órgãos do governo, não
entendem sua missão constitucional. Talvez
ninguém tenha explicado a elas que sua razão de
ser é abrir, deixar passar, receber o visitante,
ser gentil. A porta está lá para servir, para
acatar o toc toc, ser aberta e deixar passar. Do
ponto de vista de quem está dentro, da mesma
forma, cabe à porta abrir-se, revelar o mundo
que está lá fora. Engana-se quem ache que a porta
fecha, tranca. Ao contrário, sua função é abrir.
Não fosse assim, em lugar de portas faziam-se
paredes. Saía mais barato. Tanto é assim que às
portas e janelas dá-se o nome genérico de
aberturas. Mas há portas que não compreendem isto
e insistem em ficar mudas e trancadas. Algumas,
mais ranzinzas, batem e fazem um escàndalo.

Eu não consigo falar com portas, mas há quem
tenha esta habilidade. Cenira, minha sogra, por
exemplo. Vai falando, gesticulando, contando
casos e, quando se vê, a porta já está sorrindo.
Claro que não passa disto, mas para uma porta
muda, sorrir já está de muito bom tamanho.

Mas como tudo, com o tempo as portas também vão
se transformando. As mais antigas tinham um
pequena portinhola por onde se fazia o primeiro
atendimento ao visitante. Com o tempo e o aumento
da violência e da bisbilhotagem em geral estas
portinholas foram convertidas em olhos mágicos.
Aqueles buraquinhos que de um lado se vê o outro
mas do outro não se vê o lado - para os amantes
da eletrónica, seria algo como um diodo visual.
Eles funcionam. O problema maior é quando, se vai
olhar quem está fora e se enxerga um olho
arregalado, o visitante tentando olhar para
dentro. Por segurança fecharam a portinhola e
prejudicaram o bom dia. Depois, acabaram com o
olho mágico, substituído que foi pela càmera de
TV que dá uma visão mais ampla do visitante.
Pularam etapas na evolução. Antes, deviam fazer
olhos mágicos com lente grande angular. Pelo tal
olho mágico não lastimo. É muito chato mesmo. De
dentro se vê o mundo de forma muito limitada,
isto quando o visitante não vai para o lado para
não ser visto. Quem está fora não sabe se já está
sendo visto ou não. Não pode nem arrumar o cabelo
ou compor o traje antes de ser visto. Me refiro
àquela arrumadinha geral que se dá quando se
chega a algum lugar.

Com avanço da eletrónica e a falta do que vender,
criaram-se portas mais socializadas que se abrem
à chegada do visitante, sem nada perguntar, sem
maiores exigências. Basta chegar perto e ela já
vai se abrindo, justamente como uma porta deve
fazer. Elas não falam ainda, mas imagino que
muito breve estarão nos desejando bom dia e
perguntando como vamos. Mais gentil.

-Bom dia Dona Fernanda. Está tudo bem?

Aos poucos, haverão de evoluir e, em breve,
deverão estar contando piadas e fazendo fofocas.
Aí provavelmente vão reclamar dizendo que a porta
é oferecida, que fala com todo mundo, que é
inoportuna.

Não se pode contentar a todos.

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