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Discursos-->Discurso de despedida do general Heleno -- 26/05/2011 - 09:15 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
General-de-Exército Heleno

BRASÍLIA, 09 MAI 2011

Em meu nome e do Gen Mayer, agradeço a presença de todos. Há exatos 16 511 dias, transpus o portão dos novos cadetes da AcademiaMilitar das Agulhas Negras. Iniciava-se então o ciclo mais produtivo de minha vida. Tentarei, emalguns minutos, recordar, sumariamente, personagens, fatos e reflexõesque marcaram de forma indelével essa trajetória. Começo pelos meus 21 irmãos de Arma. Caminhamos juntos, desde a sábiaescolha que fizemos, há 42 anos. Reunimos a melhor Turma de Cavalariada história do Exército. Custo a acreditar que alguns cavalgam hojenas pradarias eternas. Guedes, Gaspar, Vilarinho e Pedro Couto, guardode vocês, que saíram de forma sem permissão, uma enorme e irremediávelsaudade. Minha gratidão aos abnegados e brilhantes mestres e instrutores,muitos aqui presentes, que renovaram periodicamente meu horizonte deconhecimento, nas diversas escolas do nosso primoroso Sistema Militarde Ensino, oásis indiscutível da educação, em um País, onde esse temasó é prioritário nos palanques eleitorais. Minha homenagem aos Oficiais Generais com quem convivi, ao longodesses 45 anos. Exemplos de dedicação, honradez e profissionalismo,eles são escolhidos por um Sistema de Promoções que não é infalível,por ser conduzido por seres humanos, entretanto é marcado pelahonestidade de propósitos, pela isenção e pelo senso de justiça.Espero que não aceitemos jamais ingerências políticas nesse processo,sob pena de violarmos nossos valores mais caros. Comandantes e comandados, por intenções, atos e palavras, escrevem ahistória militar. Fui brindado, de aspirante ao mais alto posto, peloconvívio com sucessivos comandantes, da mais alta estirpe. Não voucitá-los para evitar omissões. Eles me ensinaram, sobretudo, que nadasubstitui o exemplo. Com eles aprendi que o Chefe militar nem sempreconsegue ser um líder, mas jamais pode abdicar de tentar sê-lo,obstinadamente. Aos meus comandados, dedico uma reverência respeitosa. Eles foram aprincipal motivação da minha vida profissional. Obrigo-me a umacitação especial aos que me acompanharam nas duas mais difíceis erelevantes missões de minha carreira. No Haiti, como comandante de umaforça de paz, em um país estrangeiro, numa situação real, e naAmazônia, onde a presença efetiva do Estado Brasileiro se resume,quase sempre, à estóica presença das Forças Armadas. Confirmei, nessasocasiões, o valor do soldado brasileiro e a sabedoria do postulado quecultivei incansavelmente: ao subordinado devemos, antes de tudo,respeito e lealdade. Jamais violei esses princípios. Orgulho-me depoder encará-los, desde sempre, com a cabeça erguida, olhos nos olhos. A meus últimos comandados, do Departamento de Ciência e Tecnologia,impõe-se uma explicação. Quando fui nomeado para chefiá-los, vocêsouviram, nos corredores do Quartel-General, que eu estava sendocolocado em uma geladeira profissional. Sem dúvida, o DCT nada tinha aver com meu perfil e minhas aptidões. Por decisão do ComandanteSupremo, eu me tornara o exemplo típico do homem errado no lugarerrado. Como aprendi, desde cadete, que missão é para ser cumprida,procurei superar minhas notórias deficiências nessa área. Seguindo ospassos de meus antecessores, busquei valorizar ainda mais o EngenheiroMilitar e fazer com que o Exército avaliasse melhor a importância daCiência e Tecnologia no mundo de hoje. Lutei para que a ForçaTerrestre se convencesse de que não haverá a tão sonhadatransformação, sem um investimento maciço em autonomia e inovaçãotecnológica. A experiência, graças a vocês e ao ineditismo de tudo queconheci e aprendi, foi gratificante. Espero que colham os frutos dessetrabalho. Passo agora às jóias mais preciosas desse ciclo: meus filhos Renata eMário Márcio. Vocês nos deram pouquíssimos problemas e infinitasalegrias, até pelas escolhas que fizeram no casamento. Por serem maisajuizados do que eu, negaram-me a chance de aplicar os ensinamentosde Psicologia que a AMAN e a vida me transmitiram. Não seguirei apraxe de lhes pedir desculpas pela ausência. Eu e vocês ausentamo-nosquando as circunstâncias exigiram, sempre em busca do sucesso, que,felizmente, todos alcançamos. Meus adorados netos, Leonardo,Henrique e Luís Felipe enchem o presente de alegria e serão, porcerto, os perpetuadores do clã, no futuro. Sônia, você é única. Foi sempre o sustentáculo da família. Amor eemoção à flor da pele. Atua em todo o campo de batalha. Comanda oapoio logístico e faz a segurança da área de retaguarda. Às vezesdefende o dispositivo e realiza contra-ataques de desaferramento. Temainda papel preponderante nas ações retardadoras e nos retraimentos e,fatalmente, será bastante exigida a partir de agora, na retirada.Devo-lhe parcela considerável do meu sucesso. Obrigado por tudo. Propositalmente deixei por último meus pais. Sem eles, por motivosóbvios, nada disso teria acontecido. Dona Edina, minha extremada mãe, professora por vocação, avóamantíssima. Tu foste a educadora clarividente que jamais transigiucom a displicência e exigiu-me, sempre, no limite da minhacompetência. Tu me mostraste que a vida é luta renhida e fez de mim umestudante diferenciado, não pela inteligência, mas sim pelo método epela objetividade. Lembro de ti, intensamente, cada vez que devosuperar-me e não foram poucas vezes. Cel Ary, meu adorado pai. A saúde frustrou teus ideais de guerreiro ete transformou em um admirado professor. Partiste muito cedo, quandoeu era um jovem tenente. Eras o meu amigo mais leal e sincero, meucompanheiro de todas as horas, meu ombro acolhedor. Tua presença, tuagargalhada, teu assobio enchiam a casa. Personificavas a alegria deviver. Lutaste, em 1964, contra a comunização do país e me ensinaste aidentificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticaspara tentar impor um regime totalitário, de qualquer matiz. Foste meuexemplo de dedicação profissional, retidão de caráter, honestidade inabalável, e amor ao Exército e ao Brasil. Minhas senhoras e meus senhores. Não vou agradecer ao Exército pelo muito que me proporcionou. Mantivecom a Instituição uma relação de amor intenso, sem máculas, uma trocade energia e conhecimento, desinteressada e produtiva. Se voltasse a passar pelo portão dos novos cadetes, faria tudonovamente. Talvez conseguisse ser mais solidário, mais atencioso, maisorganizado, mais paciente, mais competente e mais uma infinidade deoutros predicativos. Talvez por isso não nos deixem repetir opercurso. Perderia a graça. Fui aconselhado, algumas vezes, a ser menos impetuoso e maistolerante. Preferi, como Cervantes, seguir pela estreita senda daCavalaria, e, como ele. desprezar certas honrarias para não abdicar demeus valores. A partir de hoje, assistirei, da arquibancada, a mis um desafioinédito, que o nosso querido Brasil parece disposto a enfrentar: ser aprimeira potência mundial a possuir Forças Armadas mal equipadas emuito mal remuneradas, no entanto altamente motivadas e extremamentecompetentes, como provam todos os dias, nas mais diferentes missões.Tomara que a experiência continue a dar certo. Lembro apenas um pensamento de Rui Barbosa: "A Nação que confia maisnos seus direitos do que em seus soldados, engana a si mesma e cavasua ruína." Ao meu dileto amigo Gen Mayer, faço votos de que continue se valendoda competência, do bom senso, da inteligência, da liderança e dacapacidade de gerência que o trouxeram até aqui. O Departamento deCiência e Tecnologia ganha hoje um grande chefe militar. Que Deus oproteja. Aliás, devem estar surpresos por não ter falado em Deus até aqui. Nãojulguei necessário. Com Ele me entendo de modo especial. Não precisode igrejas, de rezas, nem de reverendos. Bastam meus pensamentos, meussentimentos e meus atos.

Obrigado a todos.

Brasil acima de tudo!

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