Peguei o elevador distraída, queria descer, ele subiu.
Fiquei aborrecida, estava atrasada. Mas enfim, no ultimo andar uma mulher, com cerca de uns 45 anos, pequena, frágil, entrou escondida numa enorme bandeja de café.
Estávamos as duas ali, ninguém mais.
Fiquei penalizada e perguntei:
___ Oi, que bandejão, precisa de ajuda, está pesado?
___ Um pouco, mas já estou acostumada.
___Qual seu andar, que aperto pra você.
___ Primeiro, por favor.
Aquela bandeja ainda me incomodava.
___ Não acha melhor colocar a bandeja aqui no banquinho da ascensorista?
Em situações como esta que eu vivi, gostaria mais é de fazer um vídeo, não uma crónica-relato, as palavras são insuficientes na transmissão da imagem, mas vou tentar.
Seu uniforme de copeira, preto com aventalzinho branco estavam impecáveis e, o gorrinho branco, sob os cabelos curtos já branqueando, era extremamente gracioso e, as luvas de renda fina, cheiravam a passado. Parecia uma boneca-copeira.
Seu rosto, mais que o rosto, a expressão! Nunca, em toda a minha vida, instantaneamente, de pronto, sem precisar mais de um segundo de observação, percebi a felicidade (nem sei se esse termo consegue transmitir o que vi, mas é o que mais se aproxima).
Tudo naquele rosto era felicidade, os olhos, a boca, o nariz, as sobrancelhas, a pele. Transcendia, recendia felicidade.
___ A senhora trabalha aqui no prédio, perguntou delicadamente.
___Sim, no décimo andar. Mas nunca vi a senhora por aqui.
___Meu primeiro dia e meu primeiro serviço, nunca trabalhei fora, passei no concurso público.
___Boa sorte então no novo emprego.
___ Amem.
E sorriu e, quando sorriu, a felicidade saiu voando pela boca, praticamente vazia, sem dentes.
Foi o sorriso mais lindo que já vi, numa boca vazia.
Chegamos no primeiro andar pegou a bandeja e saiu do elevador e eu vi que também seu andar era feliz.
Eu saí dali com vontade de chorar, mas chorar de verdade, copiosamente, (e como se diz na gíria "me descabelar em lágrimas pela rua"). Não sei em função da felicidade que vi ou, se dos dentes, que não vi, ou de constrangimento perante mim mesma por exigir tanto pra ser feliz e, com a boca completa de dentes, sorrir tão pouco!