Usina de Letras
Usina de Letras
247 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50483)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->QUEM NÃO SE SENTE... -- 27/02/2006 - 15:51 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Ken Livingstone, o presidente da Câmara de Londres, foi suspenso por um mês, por ter ofendido um jornalista judeu; David Irving, historiador britânico foi condenado a três anos de prisão por ofender a comunidade judaica; e os governos de quase duas dezenas de países islâmicos exigem que o governo da Dinamarca castigue as pessoas responsáveis pela publicação de caricaturas de Maomé, ofensivas ao Profeta e à comunidade islâmica.



Estas coisas não aconteceram assim de repente nem simultaneamente. Até parece que estiveram em longa gestação para nascerem agora ao mesmo tempo.



O remoque do autarca londrino que ofendeu o jornalista judeu foi já em Fevereiro do ano passado e só agora, depois de um ano de processo, o tribunal deu o castigo de um mês de suspensão, mais 80.000 libras de custas. O encontro entre o mayor de Londres e o jornalista judeu ter-se-á dado mesmo à saída duma reunião da câmara e, mais ou menos nestes termos. Quando Oliver Finegold se apresentou como jornalista do Evening Standard, o mayor que anda de facas arrancadas com o jornal, atirou-lhe a bordoada retórica do costume, perguntou... e respondeu à sua própria pergunta:



—E dantes o que é que fazias? Fostes criminoso de guerra alemão?

—Não. Eu sou judeu. Não fui criminoso de guerra alemão, e por acaso, estou muito ofendido com isso.

Mr. Livingstone, em vez de pedir desculpa ao ofendido jornalista, atirou-lhe outra bordoada:

—Bom... pois talvez estejas... Mas o que tu me pareces, de facto, é guarda dum campo de concentração. Tu fazes isto porque te pagam, não é mesmo?



A ofensa do historiador David Irving à comunidade judaica vem já de 1989 e terá sido feita num discurso que ele fez, algures na Áustria, e numa entrevista que deu também nesse país. Mr. Irving terá então negado ou minimizado o Holocausto. Voltou à Áustria em Novembro passado, e foi preso pela justiça de Viena que se honra de ter excelente memória. A sentença saiu um dia destes – três anos na cadeia. Mr. Irving também é um homem “crispado”, para usar o adjectivo poético do Manuel Alegre. Tem a fama (e possivelmente o proveito) de apadrinhar e endoutrinar tendências direitistas de certa juventude austríaca.



Já Ken Livingstone, embora se situem em polos ideológicos opostos (chamam-lhe o mayor vermelho), parecia ter contas em aberto com a comunidade judaica. Acusam-no de comparar o Hamas palestino com Likud israelita como os dois lados da mesma moeda. E de justificar, ou pelo menos explicar, os métodos kamikaze da resistência palestina... Se eles não têm jactos, nem bombas, não têm outro remédio senão usar os próprios corpos como armas.



O caso dos famigerados cartoons de Maomé, aparece no outro hemisfério em que se vai polarizando culturalmente este nosso desordenado mundo. Salvo erro, foram publicados em Novembro passado, num jornal dinamarquês. Trata-se de uma dúzia de caricaturas ofensivas do Profeta. Os protestos começaram na Dinamarca e recentemente estenderam-se a quase todo o mundo islâmico, levando, no seu rasto, a destruição de muitas vidas e fazendas. Os desenhos são, de facto, profanações graves da figura mais venerável da religião islâmica, um universo de quase mil e trezentos milhões de pessoas, e a segunda religião do mundo. Os governos de muitos países islâmicos exigem à Europa, especialmente à Dinamarca, desculpas, castigo dos profanadores e leis que proíbam que a profanação volte a acontecer. Mas na Europa diz-se que fazer e publicar caricaturas faz parte de um direito fundamental em democracia — a liberdade de expressão.



Foi exactamente isso que disse Durão Barroso, o chefe do executivo europeu:

—A liberdade de expressão não é negociável. É um valor fundamental da nossa sociedade europeia e democrática.



Será. Mas o Senhor Corvelo, o meu vizinho do lado, que não tem papas na língua, acha que o respeito pelos sentimentos dos outros é também importante.

—É sim senhor, vizinho. O respeito pelos outros é uma coisa muito bonita... e evita muita barafunda. Imagine que faziam desenhos desses de Jesus Cristo... Como é que a gente se sentia? Que isto, quem não se sente não é de boa gente!



Quando eu disse ao Senhor Corvelo que das três comunidades, a judaica, a islâmica e a cristã, quem menos se sentia era a gente, ele não me acreditou.

—Olhe que é verdade, homem, há caricaturas, filmes, livros... a profanar a imagem de Cristo, aí por todo o lado.

—E ninguém diz nada? A comunidade judaica consegue suspender o presidente lá de Londres e meter na cadeia o professor de história, a comunidade islâmica castiga a Dinamarca com boicotes, ataques às embaixadas, etc. E a gente deixa fazer pouco cá da gente? Não está certo. Eu cá inda digo que quem não se sente não é de boa gente.

































Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui