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Artigos-->CRONICA DO DIA-A-DIA (LADRÕES) -- 27/02/2006 - 01:04 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CRÔNICA DO DIA-A-DIA



Francisco Miguel de Moura*





Saí para resolver uma questão muito séria. Apressado como se fosse um jovem homem de negócios. Na verdade o que tinha para fazer era bem simples e não precisava de tanta pressa. Deixei o carro no estacionamento, já ia chegando às bordas da calçada de descer ao leito da rua, dei com a vista em dois homens que subiam, sentido oeste/leste, a rua de cruzamento. Pela calçada. Ora subiam, ora desciam o passeio, inquietos, rápidos. Não pude ver-lhes bem o rosto. O mais novo, parecendo ser filho, dialogava com o pai. Naquele segundo ouvi:

- “Pai”!

E nada pude perceber das demais palavras – poucas – que trocaram.

O velho não era tão velho, pode-se dizer que tinha uma idade média. Os dois, magros. Olhavam rapidamente e mexiam com o olhar e o rosto rapidamente, para diversas direções como se estivessem buscando alguma coisa perdida. O mais moço abordou-me de forma desusada, mas de longe, gungunando. Parecia gago quando se dirigiu ao pai, mas esta impressão se me desfez ao aproximar-se de mim. Chegando mais para perto, apontou para o meu relógio:

- Quantas horas?

Estendi-lhe rapidamente as mãos abertas, mostrando-lhe os dez dedos. Mas o homem veio vindo, quase me toca, e foi gaguejando:

Quero ver! – referia-se evidentemente ao relógio, que era (e é) uma bonita jóia, marca “Mido”, folheada a ouro, adquirida recentemente. Alumiava ao sol da manhã.

Respondi-lhe com o polegar em riste balançando, o que queria dizer categoricamente:

- Nã, nã, nã, nã, nã!... - E atravessei a rua fazendo uma curva para distanciar-me mais dele.

Pareceu apartarem-se um do outro, porém “morei” logo na “armação”. O relógio era o objeto de seus desejos. Ou o celular que eu conduzia, embainhado e à mostra, pois não uso terno nem camisa por fora das calças, derramando farinha como se diz. Na falta da carteira, quem sabe o que mais queriam alcançar? O cartão de crédito era impossível. Vestia uma calça do tipo faroeste, justa, bolsos na frente, portanto não lhes ofereciam condições.

Segui meu caminho.

“O velho escapou desta”, murmurou um passante.

Ao final, o que conto foi um incidente de rua como se levasse um encontrão ou uma pisada no pé. Mas podia ter acontecido algo tão comum hoje em dia: furto ou roubo, com ou sem agressão pessoal. Na verdade, quem sai à cidade não vê ninguém em quem possa confiar, todos são suspeitos. A ladroagem tomou conta deste país, se tornou norma. Vive-se a síndrome do assalto, seqüestro, assassinato, furtos grandes e pequenos, crimes de todas as espécies.

Observando-os atentamente, embora sem deixar transparecer, vi que rodeavam o quarteirão: subiram mais um, viraram à direita, depois devem ter ido à esquerda, para confundir, e entrado numa agência bancária para tentarem passar golpes nas mulheres, viúvas ou não, pensionistas e aposentados – as vítimas mais visadas.

Tive sorte, naquele dia. Mas, na verdade, não se pode sequer ter piedade de um esmoler. Outrora não se via com maus olhos a mulher, a criança, o velho, o pensionista, o aposentado, o cego, o surdo-mudo, o aleijado, enfim qualquer mendigo. Hoje, o próximo esmoler pode ser seu algoz: um assaltante disfarçado. E temos que viver com eles, os ladrões. É quase um conviver. As ruas estão cheias, andam de pé, de bicicleta, de moto, de automóvel. Quando saem à rua têm o mesmo traje que qualquer um de nós. Esconder a cara é um sintoma. Olhos disfarçadamente baixos, rápidos e pouca fala, outros. É claro que ninguém nunca teve marca na testa. Mas se a gente prestar bem atenção, podemos nos livrar deles, algumas vezes, deixando o perigo ficar na conta dos acidentes. Eu tive sorte. Voltei são e salvo para casa.





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*Francisco Miguel de Moura, brasileiro, escritor, mora em Teresina, Piauí.E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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