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Artigos-->Um Pouco de Brecht - Dra. Elizabeth Marinheiro -- 23/02/2006 - 15:39 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Um Pouco de Brecht

Elizabeth Marinheiro*



Bertold Brecht é um dos autores mais discutidos nos últimos tempos. Ao lado de uma obra densamente complexa, está um artista em pleno debate, ao qual toda conceituação precipitada perderia a significação. Teceremos apenas as considerações que os primeiros contactos com o dramaturgo alemão nos forem permitindo.

Não nos ocuparemos dele como criador do teatro épico, em quem encontramos os costumes mais bem ajustados à expressão dramática. Daquele que, revolucionando os gêneros literários, terminou por criar a chamada Sociologia da Forma, oferecendo-nos uma linguagem cênica integralmente renovada e doando à posteridade um teatro “cuja categoria central é a dialética”, (Sim, o artista de Augusta soube teatralizar a dialética ao alcance de todos...) Nem falaremos ao teatrólogo que, vencendo o caturrismo do teatro conservador, quis transformar o espectador num observador crítico, despertando-lhe a consciência adormecida. Não de Berthold Brecht – o imenso dramaturgo da Alemanha de após-guerra – nos ocuparemos agora. Mas, de Bertold Brecht, o poeta que desconhecíamos.

Sua poesia, embora simples, não é tão fácil. Requer leitura lenta e reflexão.

Brecht apresenta uma original técnica do verso, deixando bem clara aquela intenção de aproximar a poesia do teatro, e, acima de tudo, da linguagem coloquial.

Esse comportamento nos parece sensato, porque a poesia, fugindo ao hermetismo dos “Palavreadores pomposos”, passará a atingir melhor o público a que se destina. Alcançar as massas – eis o objetivo de Brecht.

Não achamos que a poesia se está tornando demasiado prosaica. Observamos uma relativa aproximação de prosa e poesia o que anulará preceitos superados, bem como dará ao poeta maior capacidade de exprimir-se com palavras, sem a ritual preocupação da forma.

Se a prosa tem sido um veículo de maior penetração e comunicação, a poesia- dela avizinhando-se- tornar-se-à, é óbvio, mais acessível à compreensão humana. Nesse sentido, faz-se oportuno lembrar os verdadeiros poemas em prosa contidos na literatura universal, como é o caso de Juan Ramon Jimenez, de alguns romances de Alencar e de tantos outros de grande aceitação.

E essa poesia com feições de prosa vamos encontrá-la também em Bertold Brecht. Mais que ninguém Brecht viveu integrado à sua época, tão massacrada pelas guerras mundiais.

Assim e que a sua primeira fase pode ser denominada “poesia de inquietação filosófica”. Temos aí uma poesia visivelmente niilista, e que por não ser panfletária, tem sido desvalorizada pela crítica. São os versos de “Os Sermões Domésticos” cheirando a sangue e falando de morte. E se Brecht participou sensivelmente de sua época, a temática não poderia ser outra, no mundo da miséria hitleriana.

Isto sem falarmos na poesia da benevolência e do socorro mútuo que impregna grande parte da produção brechitiana:

“Não faz mal a si próprio nem a ninguém, encher de alegria a todos e a si também- eis o bem”.

Concluímos, por conseguinte, que a par da obra marxista , Brecht fez também obra teológica. Talvez residam aí as razões que levaram Haas e Willet a estabelecer paralelos entre a arte brechitiana e os dramas escolásticos de entonação católica de Calderón de la Barca e Paul Claudel.

O poeta vai sentindo-se tê-lo-ia conduzido ao desespero, não fora a saída imediata para o socialismo; saída esta que assinala o advento da segunda fase de sua obra poética. Estamos agora diante de Brecht que quer transformar sua obra numa poderosa arma de conscientização. E é ele próprio quem diz: “Precisamente porque as coisas estão como estão, elas assim não continuarão.”

Trata-se da já famosa poesia participante, em oposição à poesia conformada. Poesia de crítica social. De ação socializante. Porque, segundo Brecht, o homem pode e deve transformar o mundo. A Obra brechitiana está, pois, dirigida pelo princípio da ação e do dinamismo, como acentuam os sociólogos da arte.

O caráter renovador de Brecht parece-nos mais válido no campo estilístico que na própria temática. Seus temas, embora refletindo a problemática do nosso tempo, caem de certo modo, na intolerável unilateralidade dos que não buscam outro caminho senão o da Arte Social, fartamente explorada e decantada.

É-nos impossível negar a extraordinária significação estética de sua obra poética, porém, não hesitamos em apontá-la como altamente comprometida com causas políticas. Em muitos versos o artista parece ceder lugar ao político:

“O pão dos que têm fome foi comido. “Da carne não se sabe mais. Inútil o suor derradeiro pelo povo”. Mais adiante, na mesma Cartilha de Guerra Alemã – “A data não foi ainda marcada no calendário todos os meses e todos os dias ainda estão livre. Desses dias, um terá uma cruz”.

Em “Canção do Negociante” vamos encontrar uma lição prática sobre o valor de mercadorias que o homem adquire no regime burguês e capitalista:

“Quem vem a ser mesmo o arroz?

Não sei nem quero saber.

Tenho raiva de quem sabe:

O que o arroz é eu não sei

Dele só conheço o preço”.



“Chegado o frio, o algodão fica mais caro

As tecelagens pagam altas comissões

Algodão em geral, há até demais.



Que vem a ser o algodão?



Dele só conheço o preço.

O processo contínuo de reelaboração criadora existente na cultura “brechitiana é o suficiente para que a sua obra seja respeitada, passando a exigir estudo sério e minucioso, o que lamentavelmente ainda não está no nosso alcance.

Fim



(*) Doutorado na França. Professora aposentada da UFPB. Laureada várias vezes com prêmios nacionais e internacionais. Idealizadora e Organizadora dos Congressos Brasileiro e Internacional de Literatura, realizados de dois em dois aos em Campina Grande-PB da década de 70 até 1996. Presidente da Associação Brasileira de Semiótica-regional da Paraíba. Fundadora da FACMA (Fundação Artístico- Cultural Manoel Bandeira de Campina Grande-PB), descobriu a cantora paraibana, Elba Ramalho que aí iniciou participação artística no teatro local, atuou nos Corais Falados Manoel Bandeira, fundado pela professora Elizabeth Marinheiro. Ocupa cadeira na Academia Paraibana da Letras, a primeira mulher a ocupar a Academia na Paraíba. Mulher de grande capacidade intelectual e administrativa.











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