Aquilo que não entendo
É tão bom ficar assim:
Não me ofende, não ofendo,
Nem desconfio de mim!
Quando imagino Caim
No extremo da ambição
Assassinando o irmão
É que traduzo enfim
O hediondo festim
Daqueles que vão vivendo
Sobre as cinzas do horrendo
A cevarem-se no pó
Da vida que mete dó...
Aquilo que não entendo.
Quanto mais vou conhecendo
Pormenor a pormenor
O que me provoca dor,
Mais ainda vou sofrendo
Os que vejo padecendo
A favela sem jardim
Entre os arautos do "nim",
Arrivantes que abomino
E para ser assassino
É tão bom ficar assim.
No supremo varandim
De servir a humanidade
Não admito à vaidade
Assento sobre cetim
Enquanto lata e capim
Nesta vida forem sendo
Tecto de vivos morrendo...
E quem sobre tal pleito
Neste ou noutro conceito
Não me ofende, não ofendo.
O Brasil, estou crendo,
Muito em breve irá mudar
A maneira de sonhar
Aos que vivem não vivendo
E se este parecer acendo
Sem novela ou folhetim
Só tenho um único fim:
Se dos humanos o templo
A pele for o exemplo...
Nem desconfio de mim!