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Artigos-->A TIRANIA DAS COISAS -- 07/02/2006 - 23:46 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A TIRANIA DAS COISAS



Francisco Miguel de Moura*





Sou contra todas as tiranias, a das religiões, das ciências... E das coisas.

O passado foi rico em crítica acerba aos desmandos da civilização. Quem não lembra de “Eugênia Grandet” e de “Madama Bovary”, romances de Honoré de Balzac, que refletiam a moral e os costumes da Europa do seu tempo, os homens e seus governantes no que feria a dignidade humana?

O poeta Augusto dos Anjos (1884-1914) lembrava“a dor da força desaproveitada”, tal como “a estática do nada.” Com estilo ardente e dramático, como se previsse do “tudo” e o “nada” que nos esperava (e mais nos espera) escreveu no seu livro “Eu” assim: “Rugia nos meus centros cerebrais / a multidão dos séculos futuros: / – Homens que a herança de ímpetos impuros / tornara etnicamente irracionais.” Traduzindo para hoje, esses versos nos dizem de uma força “mal-aproveitada”, quando a civilização se obceca e se irracionaliza a exaurir o planeta de todas as suas riquezas naturais para fabricar “naturezas mortas”, descartáveis – esse mundão de mercadorias que inundam os mercados, supermercados e shoppings, desde as grandes cidades às periféricas. Arrancam da terra, do ar e do mar as últimas gotas de petróleo, tiram o ferro, o aço, o diamante, o urânio e um sem número de minerais para fabricar objetos de pouca valia, de pouca duração, e com isto poluir as águas e a atmosfera, fazendo desertos tais como os fossos da camada de ozônio, parte essencial da biosfera. Não se trata de coisa distante de nós, está em nossas ventas. Como será a Amazônia, daqui a 10, 20, 30 anos? Não será mais que um deserto e um fio d’água. Ou um lago insalubre, infestado de mosquitos e doenças terríveis. Ou um pequeno oásis onde cavarão poços para matar a sede dos cristãos que sobrevivam às doenças provocadas pela civilização. Reclamam os otimistas: – Mas já há tanto remédio pra tantas doenças como antes não tinha, o presente é melhor que o passado. Digo eu, que poderia ser bem melhor, com padrão de vida da população, sem fomes nem guerras, sem ignorância alfabética e moral (quer dizer com poucos analfabetos e criminosos).

Sabemos que a ciência é um fato. Mas também é um fato que, cooperando com os homens de estado, de empresa, de indústria, os fazedores do mercado e do capital, ela, a ciência, ajuda a destruir o mundo, sem ao menos indicar os meios de recuperar os estragos. Mesmo porque não pode: o homem sabe destruir e destrói, mas não sabe nem pode consertar o mal que fez e faz à natureza e, por tabelinha, a si próprio. Assim, nossa casa está carcomida. E quem vai-nos dar outra?

Retomo, em consonância com o início, a lição dos escritores, e neste caso do grande escritor português Eça de Queirós, na pele de um amigo de Jacinto – personagem de seu conto “Civilização” (na verdade, embrião de “A Cidade e as Serras”) – que encara muito bem a situação do progresso civilizatório do século XIX. Ouvindo os bocejos de Jacinto, que vivia no meio do fausto e das quinquilharias adquirida na Inglaterra e Alemanha, o narrador escreve: “Cada um desses utensílios de aço, de marfim, de prata, impunham ao meu amigo, pela influência onipoderosa que as coisas exercem sobre o dono (sunt tyrannix rerum) o dever de o utilizar com aptidão e deferência. E assim as operações do alindamento de Jacinto apresentavam a prolixidade, reverente e insuprimível, dos ritos de um sacrifício”.

Conclua-se, então, que quem hoje vive na “civilização” sabe que os sacrifícios são bem maiores do que os do tempo de Eça, e extrapolam os limites da casa e da propriedade, estendendo-se ao universo de nossa casa maior, o Globo Terrestre.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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