Uma passeata pediu o Golpe de 64
Marcha da Família reuniu 1 milhão de pessoas
O medo do comunismo levou mais de 1 milhão de pessoas para a rua em 19 de março de 1964. No dia consagrado a São José, padroeiro da família, o povo brasileiro decidiu que não ia ficar acomodado na sala, assistindo a mais um capítulo da novela Alma Cigana, de Ivani Ribeiro, enquanto os vermelhos avançavam pela retaguarda. A massa saiu às 16h da Praça da República, no centro de São Paulo, e chegou duas horas depois à Catedral Metropolitana, na Praça da Sé.
Faixas, cartazes e palavras de ordem alertavam sobre o perigo comunista e sua ameaça ao mundo livre: “Vermelho bom, só o batom”, “Verde, amarelo, sem foice nem martelo”. Era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que entraria para a história como uma das mais reacionárias manifestações populares de todos os tempos.
A inspiração vinha de campanhas semelhantes organizadas pelo padre norte-americano Patrick Peyton contra as “manobras vermelhas”. O estopim foi o comício realizado uma semana antes no Rio pelo presidente da República, João Goulart. Setores conservadores, indignados com as “reformas de base” anunciadas por Goulart, queriam promover uma manifestação ainda maior. Conseguiram.
A organização reuniu entidades femininas e religiosos católicos. O deputado Antônio Sílvio da Cunha Bueno, o publicitário José Carlos Pereira de Sousa e a freira Ana de Lourdes, sobrinha de Ruy Barbosa, articularam a marcha. Logo conquistaram as adesões do presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, do governador paulista, Adhemar de Barros, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e de associações como a União Cívica Feminina e a Sociedade Rural Brasileira. Alunos do Colégio Mackenzie formaram uma delegação especial. Até a apresentadora de tevê Hebe Camargo desfilou.
– Sabíamos que os militares só definiriam sua posição depois que houvesse uma manifestação pública e inequívoca de que ninguém mais suportava aquela situação de greve e inflação – declarou tempos mais tarde o deputado Cunha Bueno.
Com efeito, duas semanas depois da passeata paulista veio o golpe militar de 1964. As marchas da família, que vinham se repetindo em outras capitais, foram mantidas, mas mudaram de nome. Passaram a ser as “marchas da vitória”. A marcha do Rio, em 2 de abril, reuniu 1 milhão de pessoas.
fonte: Agência RBS de notícias
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