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Artigos-->A CRÍTICA DOS CRÍTICOS -- 25/01/2006 - 20:04 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CRÍTICA DOS CRÍTICOS – UM LIVRO



Francisco Miguel de Moura*

(Da Academia Piauiense de Letras)





Os escritores de modo geral e não somente os poetas sentem ou sentiram algum dia a angústia da influência. Atrás do escritor de hoje está toda a literatura do passado, desde que a história é história. É um peso muito grande a carregar.

- De forma que era muito mais fácil ser escritor antigamente - diria alguém.

- Talvez – respondo a meu interlocutor solitário.

- Mas... E os conhecimentos e as facilidades que temos hoje, desde a escola aos livros, às bibliotecas, aos computadores? - ele insistirá.

Não se trata aqui das dificuldades materiais. Na ordem espiritual é que se situam. O fato é que a angústia é um dos sentimentos que mais afligem o homem que pensa e escreve. Primeiro aquela angústia de não encontrar, "no molambo da língua paralítica", como diria o poeta Augusto dos Anjos, a necessária e correta palavra ou frase portadora de sua emoção, de tal forma que vá fielmente cair no coração do leitores.

Há alguns anos apareceu um livro e uma tese do crítico Haroldo Bloom, com o título de "A Angústia da Influência - Uma Teoria da Poesia". Ganhei um exemplar dessa obra, oferta do meu amigo e colega da Academia, Dr. Wilson de Andrade Brandão, falecido dia 25 deste mês de abril de 2001, depois de longo padecimento. A oferta se explica: primeiro, porque ele foi um crítico literário que tinha muito tino, muita sabedoria, e só não desenvolveu essa atividade por causa de suas obrigações como professor de Direito e cultor da ciência de Ulpiano; depois, porque me via como um bom crítico literário em nosso meio, em quem acreditava; e por último, por sermos amigos desde o tempo em que assumiu a Secretaria da Cultura (e foi o primeiro Secretário da pasta), a chamado do Governador Alberto Silva.

Á primeira vista, achei a obra difícil, maçante, e pensei até que fosse mais uma bossa intelectual que um tratado sério da influência poética. Enganava-me. E hoje guardo volume com todo o carinho, ao pôr os olhos na dedicatória do amigo recém-falecido.

Foi então que, lendo um poema de Marly de Oliveira, uma das mais líndimas representantes da renovação poética de 1945, logo nos primeiros versos senti um sabor ao mesmo tempo doce e acre da influência de Drummond. A poesia começa assim: "Não ficarão as coisas findas /senão na imaginação / ou na lembrança que a vida / pouco a pouco modifica."

O poema de Drummond que me veio à lembrança, imediatamente, foi: "As coisas tangíveis / tornam-se insensíveis / à palma da mão. / Mas as coisas findas, /muito mais que lindas, / essas ficarão".

As “coisas findas” ficaram sublinhadas, agarradas, gritando na minha mente.

Diria meu leitor:

- E se você não conhecesse o poema de Drummond?

Mas Carlos Drummond de Andrade é um poeta imenso. Seria um pecado não ter lido CDA, sendo um poeta ou leitor de hoje. Mesmo não o tendo lido, não significa que não tenha o dever moral (talvez seja melhor dizer ético ou estético) de lê-lo e assimilá-lo, sobretudo quem pretenda ser um crítico ou um leitor de qualidade.

Só então comecei a dar razão a Harold Bloom. Ele diz, bem no inicio de sua teoria, que “os poetas fortes fazem a história deslendo-se uns aos outros, de maneira a abrir um espaço próprio à fabulação”.

Sabemos muito bem que o que diz Marly de Oliveira não é o mesmo que o que disse Drummond. Entretanto, nós que cuidamos da forma, não podemos descurar dessas nuanças e minúcias. A fonte de Marly foi Drummond e não o contrário. Se temos que considerar um maior e outro menor poeta, é nessa ordem que os temos aqui.

Na busca do poema de Drummond, senti que ele "desleu” muitos outros poetas nossos e certamente também estrangeiros. Precisaria pesquisar suas leituras, suas influências, se tivesse que fazer um trabalho profundo sobre sua poética. Colocamos, aqui, apenas uma indicação.

E então, como ficaríamos? Marly imita Drummond, que imita Gonçalves Dias, e Álvares de Azevedo, que imitaram Byron, que imita...

E o Drummond ficaria na sombra de outros poetas?

Já no miolo da sua explicitação teórica, Harold Bloom sai com esta forte argumentação:

"Os poetas, à medida que se tornam fortes, não lêem mais a poesia de X ou Y, porque os poetas realmente fortes só são capazes de se ler a si mesmos."

Se isto não tivesse saído da pena de um critico da altura de Haroldo Bloom, talvez fosse um escândalo. Eu já disse coisa semelhante, antes de ler Harold Bloom. Mas foi no nosso meio provinciano, e o meio da província é tão tacanho que ninguém presta a menor atenção a nada que não venha de fora. A província é a reprodução da colônia. Na província todos são colonos e colonizados.

Sabem o que me disseram? Que eu me exibia querendo aparecer de sabido, era muita pretensão minha. Se não fosse uma idiotice. Para que falar mais?

Esse fato prova que o crítico Haroldo Bloom e a crítica de modo geral, pelo menos nos seus princípios, não têm nada de original. A crítica em si mesma é uma atividade intelectual, que revolve e debate idéias. E as idéias estão no ar, qualquer pessoa pode pegá-las e reescrevê-las. Quase não há originalidade na crítica. Apenas dois itens fornecem meios de criatividade: o descobrimento de valores novos e a renovação de velhos métodos. E, hoje, ambos estão cada vez mais difíceis.

Originais são os criadores, na área da emoção: poetas, romancistas, contistas e até cronistas. Quando conseguem sê-lo. Mas não é fácil.

___________________________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI, e tem e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

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