Pouco se sabe da vida particular de Tebas, um escravo que viveu na São Paulo do século XVIII. O que se sabe é que suas intervenções foram fundamentais para resolver problemas de engenharia naqueles tempos recuados. O seu primeiro aparecimento deu-se por volta de 1750, quando as obras da construção da catedral, iniciadas em 1746, esbarraram em um problema de difícil equação: nenhum construtor profissional queria arcar com a responsabilidade de erguer a torre, que apresentava aspectos técnicos considerados muito acima dos recursos de engenharia disponíveis na cidade. Com o impasse, as obras foram paralisadas, provocando enorme celeuma. Foi nesse clima de polêmica que surgiu a figura de Tebas. Fez ele saber aos interessados que seria capaz de construir a torre. Convocado à presença dos responsáveis pela obra, para espanto geral, apresenta-se um preto escravo, de cuja existência, naturalmente, ninguém ouvira falar.
Tebas demonstra, então, com minúcias, a forma pela qual ergueria a referida torre, para estupefação dos doutores engenheiros, que não tiveram dúvidas de confiar-lhe o serviço. Mas, há um detalhe, adverte Tebas: como recompensa, quero a alforria.
Mexem-se todos, mais estupefação, e o senhor de quem Tebas era dono promete-lhe a alforria. Em 1775 a catedral e sua majestosa torre estavam concluídas. A mesma igreja foi demolida em 1910, para dar lugar à atual Catedral da Praça da Sé.
Tebas foi mais adiante: constrói a torre do Recolhimento de Santa Tereza, antes de ser requisitado para mais um desafio: era preciso um projeto prático e rápido, para o abastecimento de água no centro da cidade. Convém lembrar que estamos falando de 1760, e não havia ainda canos de ferro, manilhas e nenhum dos recursos existentes nos dias de hoje.
E não é que Tebas resolveu o problema? Construiu, no Largo da Misericórdia um chafariz de pedra de cantaria, captando e canalizando a água, que foi distribuída por gravidade até onde fica a Praça das Bandeiras, no Vale do Anhangabaú, estendendo cerca de um quilômetro de canalização. Canalização, como?! Já não foi dito que não havia essa “tecnologia”? Tebas surpreende mais uma vez. Modelando papelão impregnado com betume, criou resistente tubulação, deixando, como em outras vezes, os doutores boquiabertos.
Em 1919, o historiador Afonso de Freitas encontrou restos dessa canalização, quando fazia escavações no então Lago do Piques, hoje Praça das Bandeiras. Mais de 150 anos, portanto, duraram o encanamento inventado por Tebas. Por ironia da História, desse autêntico gênio ninguém sabe nem seu primeiro nome. Não fosse a memória popular ter registrado seus feitos, Tebas teria desaparecido sem deixar marcas, como se nunca tivesse existido.
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Por Orlando B. Santos
Bibliografia: Oliveira, Carolina Rennó Ribeiro de - BIOGRAFIAS DE PERSONALIDADES CÉLEBRES - São Paulo: LISA, 1982.
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