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Artigos-->O SEGREDO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO -- 24/01/2006 - 06:55 (Felipe de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Um dos maiores poetas da lìngua portuguesa, João Cabral de Melo Neto, escondeu um segredo desde que deixou o Recife na década de 40. Poucas pessoas conhecem os detalhes desta época aonde o poeta, com apenas 21 anos, foi internado no Sanatòrio do Recife a pedido da sua famìlia. João Cabral andava sempre irritado, nervoso e exausto por causa de uma dor de cabeça crônica e insuportàvel que o atormentava desde os 16 anos.



Durante a permanência no hospital psiquiàtrico, ainda hoje pertencente a famìlia Pernambucano de Melo, parentes pròximos de João Cabral, o jovem poeta aproveitou a tranquilidade do local para fazer o que mais gostava : descansar, ler e escrever. " Naquela época João teve uma grande depressão. Vivia angustiado e nossa famìlia não aceitava a idéia dele ir morar no Rio de Janeiro. " Confessa em entrevista por telefone a irmã do poeta, Maria de Lourdes Melo Neto.



No livro de registro dos pacientes, ficha nùmero 385, diz que João Cabral foi internado no Sanatòrio, no dia 17 de dezembro de 1941, queixando-se de nervosismo e cansaço. O poeta teve alta médica somente seis meses depois, no dia 18 de junho de 1942, vivendo durante todo este tempo no regime semi-aberto.



O doutor Jarbas Pernambucano, hoje falecido, anota no històrico médico. " O paciente tem tendência para a literatura, particularmente a poesia. A essa atividade se entrega de corpo e alma." Num outro trecho ele acrescenta : " Toma doses exageradas de aspirinas, chegando a consumir cinco a seis comprimidos por dia, durante um longo perìodo."



O futuro autor de Morte e Vida Severina jà tinha tentado de tudo para acabar com a sua incuràvel dor de cabeça : exames de vista, usou òculos, aplicação de ondas curtas e uma infinidade de exames. No laudo médico as observações sobre o paciente : "Sua dor de cabeça sò melhora com algumas distrações. È insuportàvel, deixa-o irritado, nervoso, sem apetite." E ainda uma outra observação : " Vive sempre no quarto lendo e escrevendo, Recebe bem os médicos e adaptou-se rapidamente ao Sanatòrio. Inteligente e culto a sua vida se faz em função da sua dor de cabeça." Relata na ficha médica o doutor Pernambucano de Melo.



Os médicos do Sanatòrio sempre souberam que essa dor de cabeça crônica era psiquica. Tentaram suprimir os analgésicos e a coordenação psico-motora do paciente foi sensivelmente abalada. Os psiquiatras chegaram a conclusão de que o jovem poeta tinha uma constituição psicopàtica -obsessão fixa por uma idéia. Na sua ficha médica foi escrito uma observação a parte : "O paciente està sobre tratamento elétrico solicitado." Nesta parte da ficha médica o documento està datado e assinado pelo pròprio João Cabral de Melo Neto. O futuro autor de Cão Sem Plumas foi tratado a base de médicamentos antidepressivos e sessões de choque elétricos.



O autor de Pedra do Sono sentiu, pela primeira vez, uma dor intensa no supercìlio esquerdo em 1936, logo apòs uma gripe. Essa dor de cabeça teimava sempre em retornar e, para amenizar o sofrimento, a ùnica saìda era ingerir doses exageradas de aspirinas.. Numa entrevista João Cabral confessa que sofre deste mal desde os 16 anos. "Jà fiz umas dez operações e nenhuma deu certo. Hoje estou convencido de que a dor é de origem psiquica. Com a idade parece està doendo menos. Houve uma época na minha vida que isto se tornou uma obsessão. Eu tomava a aspirina para evitar a chegada da dor de cabeça. Atualmente sò tomo quando ela chega. O consumo baixou um pouco, de seis para cinco por dia." Explica João Cabral em 1972.



O jornalista Caio Souza Leão, amigo da época de boêmia do poeta no Recife, explica que João sempre foi calado, reservado e de pouco contato social. "Lembro-me de que ele tinha uma dor de cabeça que o atormentava dia e noite. João sempre foi uma pessoa fràgil, sensìvel e desconfiado. Somente os ìntimos sabiam dessa dor de cabeça crônica."



João Cabral morreu sem saber o real motivo da sua dor de cebeça. Os médicos sempre dizeram que essa dor de cabeça passaria com o tempo e foi exatamente isto o que aconteceu. Ao amigo e psiquiatra Ulisses Pernambucano, ele confessou que sò ficou curado da dor de cabeça depois de uma operação de gastrite. "Depois de velho a dor de cabeça passou. Acho que foi essa operação de gastrite que me curou." Tenta uma explicação para este mal que teve que suportar durante toda a sua vida.



O poeta e ex-diplomata João Cabral de Melo Neto, nasceu no Recife, no dia 9 de janeiro de 1920. Filho de uma famìlia tradicional de classe média alta, passou a infância nos engenhos de Santo Aleixo, no municìpio de São Lourenço da Mata. Nunca frequentou uma universidade, mas considera o que aprendeu com escritor e crìtico Willy Lewin e seus amigos, no extinto Café Lafayette, um curso universitàrio equivalente ao de Letras ou Filosofia.

Na década de 40 foi morar no Rio de Janeiro e conhece Carlos Drummond de Andrade, escritores e intelectuais da cidade. Ingressa na carreira diplomàtica em 45 e dai em diante trabalha em diversas cidades do mundo : Londres, Barcelona, Servilha, Marselha e Madri.



Toda a sua vida foi impregnada de poesia, cidades e o eterno aroma e amor de Pernambuco. Sua poesia objetiva não aceitava sentimentalismos e traços supérfluos. O escritor Ariano Suassuna, conheceu o poeta logo apòs a Segunda Guerra Mundial. Muitas vezes iam juntos assistir ao jogos de futebol. " A poesia dele é toda baseada no Não. A poesia popular tem uma espécie de anti-poesia que se assemelha muito com a poesia do João e essa tematica nos une plenamente."



Casado pela segunda vez com a poetisa, Marly de Oliveira, João Cabral no final da vida dificilmente saia do seu apartamento no Rio e raras vezes concedia entrevistas. Quase cego devido a uma degeneração da retina e com constante problemas de saùde, os familiares não permitiam viagens ou entrevistas. Tentei vàrias vezes falar com o poeta sobre essa época da sua vida, mas tive sempre a barreira do Não vinda da sua famìlia.



João Cabral define melhor do que ninguém a sua poesia : " A poesia é uma coisa construida, planejada de fora para dentro. Minha preocupação é despertar o leitor. Poesia não deve adormecer, mas despertar a consciência." Afirma João Cabral no excelente Cadernos de Literatura do Instituto Moreira Sales.



Felipe de Oliveira.

novo e-mail : felipeoliveira@giganet.bf





























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