SER, TER E PARECER
No inicio da sociedade o homem tinha seu respeito e era ele tratado pelo nome, uma palavra era o que eles precisavam e eram ouvidos até onde suas palavras chegavam. Amados, admirados até os dias atuais, homens como: Moises, Sócrates, Julio Cesar, Aristóteles e tantos outros. Ou seja, o homem tinha ciência que seu nome tinha valor, peso e era admirado pelo seu próprio eu. O seu nome já dizia tudo. O fio de bigode tinha bem mais valor que a falsa força de um cartão de Crédito e que o ser era reconhecido na sua totalidade, civil e socialmente. Assim caminhava o homem no seu tempo, com dignidade e honra. Precisando de algo que não conseguia produzir se dirigia ao outro e fazia a oferta de um saco de grão ou um serviço em troca do que desejava e assim suas necessidades eram supridas. Vivia com o que sua força física e inteligência lhe permitiam.
Alguns séculos se passaram, vieram com eles algumas revoluções, entre elas a de maior destaque à revolução industrial, os homens saem do campo e vão para as cidades ou burgos, e aí ocorre uma grande transformação na sociedade humana. O salário agora é a grande mercadoria de troca, o ser passa a sofrer no seu comportamento os primeiros desejos de ter, ter casa, ter escola, ter fazenda, ter gado, ter transporte, em fim, ter.
Assim, nesse momento da historia o homem passa a valer pelo o que tem e o seu caráter é subjugado a um valor inerente ao que ele tem e sua honra estar ligada diretamente ao trabalho, pois assim sendo, o homem abandonou o campo para ter ou extrair para si o que a cidade podia lhe oferecer, sendo esse momento até enaltecido em uma letra de música do eterno Gonzaga Junior. “... Sem o seu trabalho o homem não tem honra...” Agora o ter sobrepuja o ser, e o homem segue feliz, certo de tudo, trabalhando e escondendo-se de si. Uma vida voltada para o trabalho, ou qualquer meio que exista ou que o próprio homem crie para obter lucro e essa passa a ser a palavra de ordem que faz o homem vender sua paz, seu sossego, sua família e tudo de mais valoroso para o espírito, tudo é conduzido e orientado desde o seu nascimento até a sua morte para que o homem pague o preço de sua ganância.
Parecia que tudo ia bem, onde os valores distorcidos faziam o homem agir com ganância, passando por cima de tudo para ter.
E depois, já no fim do século vinte, surge à revolução tecnológica, um novo ciclo se inicia e para nos adaptarmos a ele vamos tomar ansiolíticos, antidepressivos, e tudo quanto nos trouxer perda de apetite e repouso ao corpo, um corpo vazio de caráter, honra, dignidade, respeito, romantismo, em fim, um corpo magro, ossos e pele apenas.
Tudo para estar em acordo pelo o que dita à mídia, agora o ser que queria ter, já não deseja só ter, quer parecer também.
Parecer com o símbolo sexual, quer parecer quer estar bem, quer está combinando com os padrões de beleza, bem estar e status. Um homem belo por fora, uma bela máscara social. Uma casca oca de valores.
Quer parecer um ser. Mas como se sua aparência nega a tudo? Inclusive a si mesmo. Um ser vazio, sem ter, porém parecendo ter e parecendo ser.
Raimundo Lindoberto Fernandes
Mossoró, 07 de dezembro de 2009.
|
