Usina de Letras
Usina de Letras
220 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62145 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13566)

Frases (50551)

Humor (20021)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140784)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6175)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->KEZO – LUZ DIVINA ÀS MUITAS VIDAS JÁ DESESPERANÇADAS -- 07/01/2006 - 04:39 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Oito de dezembro de 2005. Feriado religioso em vários municípios do Estado, inclusive em nossa cidade. Uma data que entrará para a História. Não para História do Brasil, mas para a de minha família. Exatamente às 21h deste dia, entre as Ruas 15 de novembro e Prudente de Moraes, o motoqueiro Cleverson Aparecido Lima da Mota, meu querido IRMÃO, colidiu contra uma caminhonete, que lhe cortou a preferencial. Mesmo arremessado a alguns metros, ele levantou-se e, segundo testemunhas, ensaiou alguns passos em direção à calçada, caindo em seguida...Para nunca mais se levantar!



Quando fomos avisados do ocorrido pela assistente social do Hospital de Clínicas, pensávamos que fosse algo simples, cuja medicina, em estágio de evolução constante, pudesse tratar; todavia, ao sabermos pela equipe médica que o recebeu de que ele estava com as pupilas dilatadas em demasia, quase surtamos. Para quem não conhece a rotina da medicina, pupila dilatada é sinal de traumatismo craniano, assim, quanto maior a dilatação, menores as possibilidades de sobrevivência.



Conhecedora do assunto por ser profissional da área da saúde há 16 anos, minha mãe não conteve o desespero, afinal, seu filho do meio, um garoto bonito, forte, de índole invejável, cujos vinte e oito anos seriam comemorados no domingo daquela semana, estava em coma profundo, com sete regiões cerebrais lesionadas pelo impacto.



A notícia correu a cidade... Em poucos minutos, lá estavam todos os parentes em frente ao hospital, debaixo da garoa, aguardando o primeiro das dezenas de boletins médicos. Cleverson, ou KEZO, para os mais íntimos, funcionário de carreira da SPCAR, oficina de autos, assim como disse Fagundes Varela em o "Cântico do Calvário", era em vida a pomba predileta, que sobre um mar de angústias conduzia o ramo da esperança. Era a estrela que entre as névoas do inverno cintilava, apontando o caminho ao pegureiro. Era a messe de um dourado estio. Era o idílio de um amor sublime. Era a glória, a inspiração, a pátria, orvir de sua família! Ah! No entanto, varou-lhe a flecha do destino! Sinal de que estava partindo, deixando pais, irmãos e amigos órfãos de seu inconfundível sorriso. A dor, assim como a lança que atravessou o corpo de Jesus, dilacerava nossas almas, conduzindo-nos ao pranto e às orações.



A agonia durou 10 dias, e, em 17 de dezembro, às 8h30, após a análise minuciosa da incansável equipe de especialistas em neurologia do HC, liderada pelo digníssimo doutor Luiz Antonio de Araújo Sant’ Ana, confirmou-se o que já era esperado: sua morte encefálica.



Ao saber do ocorrido, minha mãe desmaiou em pleno CTI, sendo de imediato socorrida pelo doutor Salum; meu pai, em silêncio, encheu os olhos de lágrimas, respirou fundo e rezou por sua alma; eu, desorientado, com o choro preso à garganta durante todo o período, fazendo-se de forte para que minha mãe não sofresse ainda mais, retirei-me da sala e caminhei por longos minutos por corredores soturnos, desalmados...Quando dei por mim, estava na lavanderia, completamente perdido. De lá, com as forças quase esvaecidas, liguei para D. Amélia Sanches Daniel, diretora da EE. Monsenhor Bicudo, minha chefe e amiga, e pedi socorro, não estava mais agüentando aquela dor insuportável que impiedosamente se aflorava em meu âmago. Diante de amigos e agora de minha mãe e pai, pela primeira vez, Chorei...Chorei...Chorei...Chorei...



Ao chegar em casa, já me esperavam quase todos os meus amigos, entre eles D. Lurdes Marcelino Machado, diretora de ensino do Colégio Bezerra de Menezes, Rejane de Oliveira Alba, coordenadora, além dos senhores Armando Ferrioli e Paulo, diretores da Mantenedora da respectiva instituição. Nunca me senti tão protegido!



Mesmo diante de tanto sofrimento, nossa família, após uma breve reunião, optou por doar todos os órgãos do Kezo. Assim, sob os cuidados do casal amigo Marílis e Marcos, retornei ao hospital para dar entrada à autorização. O que nos motivou a tomar tal decisão – muito difícil, por sinal, foram as boas lembranças deixadas por ele, afinal, Kezo era feliz, acreditava na força divina, era sincero, amigo e muito sensível como ser; bastava uma pessoa desconhecida se aproximar e lhe pedir um pedaço de pão para que ele doasse o seu almoço; bastava um pedido de ajuda, para que largasse tudo e viesse ao nosso encontro. Então, se ele era uma LUZ DIVINA em vida, por que não compartilhá-la com outros de nossos irmãos que, em gemidos de dor, talvez maiores do que os nossos, aguardavam uma oportunidade para poderem ter a graça de sentir novamente o sopro da esperança, o beijo da VIDA? Pois assim fizemos. Quatro outras vítimas do destino, em estado terminal, receberam uma nova chance e puderam nascer uma segunda vez...



Ainda sentimos muito a perda de Cleverson, ou simplesmente Kezo; a tristeza é muito grande, a dor arraigada, as lágrimas incontidas, reveladas através destas letras que, pela primeira vez, quase me faltaram (estou chorando); mas o que nos conforta é ter a certeza de que hoje ele dorme no infinito seio do Criador dos seres! Fala na voz dos ventos, no chorar das aves, nas ondas do respiro flébil! Contempla-nos lá do Céu e vive nas batidas de seu coração, fazendo alguém FELIZ, assim como ele sempre foi....

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui