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Artigos-->Mitos brasileiros -- 01/01/2006 - 21:15 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O Sací Pererê

Leon Francisco Rodriguez Clerot



O Sací é um dos gênios da mitologia indígena. O seu mito vai do extremo norte até o extremo sul.

Esse mito é multiforme com variantes e deformações desde as suas versões primitivas até a intercorrência de elementos afro-negros e das superstições de origem católica.

Originariamente como filho do Curupira ou Caapora, gênio guardião das florestas, era seu auxiliar nessa tarefa.

O mito do Saci tem dupla simbolização: andromórfica e ornitomórfica; esta predomina no norte do Brasil e aquela nas demais regiões do país, no Paraguai e na província guarani de Missione na República da Argentina.

No norte do Brasil o Saci individualizou-se na ave Tapera naevia –L.da família Cuculidae, cujo pio triste e difícil de localizar na mata, ora próximo, ora afastado, mudando a todo momento de direção, deve ter contribuído para a sua identificação com o personagem mitológico, tendo ainda a considerar que a forma sônica do seu canto repete o nome sa –cí acrescido de pê-rê-rê ligado desde então ao nome primitivo inicial.

Em muitas regiões do Norte o Sací é considerado como ave maléfica que anda pelos caminhos enganando os viandantes com as notas do seu canto, fazendo-lhes perder o rumo. Em outras asseveram que ele haure as almas dos que se deixam desviar pelo seu pio triste e enganador. Em outros, finalmente, acreditam que ele encarna a alma de um Pagé que, não satisfeito de ter praticado o mal durante a sua vida, continua agourando e anunciando desgraça a todos que escutam o seu canto.

Nas demais regiões do país a tradição ornitomórfica foi substituída pela antropomórfica, sendo muitas vezes confundido com o Curupira.

A simbolização antropomórfica do Sací apresenta-o como um homúnculo, perneta, de cabelo ruivo, privado dos órgãos eliminadores dos resíduos da alimentação.

Na Bahia, por influência do elemento afro-negro o Sací tem a tez preta; perde a sua denominação tupi-guaraní, tomando o nome de Romão e Romãosinho por força do costume que os negros tinham de substituir os nomes dos seus “totens” e “tabus”pelos santos da igreja católica entre os quais julgavam haver analogia ou que mais devoção lhes mereciam. Essa modificação subiu o S. Francisco e atingiu o Norte de Minas Gerais.

Mais para o Sul, o Sací readquire o seu nome tupi, enfeita-se com um barrete vermelho que nunca tira da cabeça, traz sempre na boca um cachimbo apagado; passa a ser bípede em algumas regiões; o seu pé humano muda-se em pé bifurcado como o dos caprinos ou tem os dedos do pé ligados por uma membrana como o dos palmípedes; a sua côr preta, porém, continua atestando s persistência da influência africana.

No vale do Paraíba do Sul o Sací perêrê é tido como um negrinho maléfico e irrequieto tendo um dos olhos doente e o outro muito vivo e buliçoso.

Em São Paulo vive mais nas “estâncias” do que nas estradas e toma por isso o nome de “Negrinho-pastorejo”.

No Rio Grande do Sul é o “Negrinho do pastoreio”; ali é bípede novamente e não é mais gênio malfazejo; é um diabrete sem maldade, abantesma invocada para aquietar crianças manhosas ou impressionar simplórios. No Rio Grande do Sul dão-lhe por vezes o nome de “generoso”, considerando-o já como gênio benfazejo, atribuindo-lhe a função de achador de objetos perdidos e rezes tresmalhadas, função essa peculiar a Santo Antônio na superstição da crença católica. Dizem lá que o “Negrinho” anda sempre a procura de objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem encontrados pelos seus donos, mediante um tôco de vela acesa em sua intenção, cuja luz leva para o altar de Nossa Senhora, madrinha de todos que a não tem.

O nome do Sací sofreu também diversas modificações como o seu mito. No Norte do Brasil de Sací – pererê adulterou em Mati-taperê, Matim-taperê e Matinta-Pereira. Na região centro meridional o nome de Sací conservou-se inalterado e, apenas o complemento perêrê modificou-se para tapererê, sererê e ririri.

Sací-pererê é a voz onomatopéica do canto da ave acima citada; entretanto sã-cy traduz no tupi, mãe das almas de h-ã, h-ang, o que é das almas e cy, mãe; o h demonstrativo correspondente a y e muda-se em c ou s quando se fixa ao tema.

Sací-saperêrê como é conhecido no vale do Paraíba do Sul pode traduzir: olho doente, olho bom; de eçá, olho, cy doente, sa, por eçá, olho, e pererê vivo, muito experto, buliçoso.

É interessante comparar o mito do Sací-pererê com o do Yací-yaterê do Paraguai.





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