UMA JANELA COM PÁSSAROS
para ROSE HOLANDA.
Sob um céu diuturno,
da janela e alado, voarei
com uns pássaros
irrequietos, buscando
o que não amealhei.
Pés se espreguiçando
na janela, parapeito
da alcova, donde sinto
sagrado gosto instante
de fêmea saciada.
Sua pele alabastro,
o olhar acastanha,
a manhã que se infesta
do cheiro de terra
e dos sabiás.
Povoando a janela,
buscando um a um
passarim, passarim
o ciúme da manhã
ao quebrar seu jejum.
Tantas cores lá dentro
da nascente matina,
esparramam-se juntas
sob densas matizes,
sobre seu despertar.
Um matutino verso,
já desperto conosco,
cumpliciou a noite,
varou a madrugada
de adequado espanto.
No entanto, dia pronto
se apossa da amada
que atinge o orgasmo
na precoce energia
da canora manhã.
Quem me dera entender
de ornitologia,
e construir os pássaros
com o tempero noite
e o herbário dia.
De resto me acomodo
no colo da amada
e seu canto que vela
nossa vida diária
a voar na janela.
Camaragibe,PE
22 de maio de 2002.
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