Lembranças e Histórias de meu Pai
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Meu pai se chamava Anízio
Anízio O. de Medeiros
Amigo das horas incertas
O melhor dos companheiros
Homem de muita valia
Com ele de tudo aprendia
O melhor dos conselheiros
Era mestre de alfaiate
De pouca escolaridade
Mas tinha tanto saber
Sem cursar universidade
Que muita gente indagava
Enquanto a tesoura cortava
Tamanha disparidade
Papai era sertanejo
Da cidade de Pombal
No sertão da Paraíba
Mas viveu na capital
Prá onde sempre viajava
A convite ele tocava
Seu eterno recital
Tocava violão de ouvido
Era músico de nascência
Soprava trombone de vara
Tinha plena consciência
Das coisas belas da vida
Assim fez sua guarida
Acumulando experiência
Compunha e recitava
Tinha boa caligrafia
Fazia cordel e rimava
Seus versos com maestria
Tocava se não me engano
Até mesmo o piano
Dizendo que só bulia
É dele uma história
Que agora me veio à mente
De um concurso que houve
Em meio a tanta gente
Prá definir a saudade
O desafio da cidade
Oferecia um presente
A quem melhor se houvesse
Na definição da proposta
Vieram vários poetas
E fizeram a aposta
Cada qual deu seu recado
Sobre o assunto abordado
Fazendo o que mais se gosta
O primeiro disse apenas
Que saudade é sentimento
O outro fez uma adendo
Só se for sem fingimento
E assim o tema foi indo
Cada definição surgindo
Cada qual com seu talento
Definição não faltava
Saudade era coisa de amor
Saudade não tem remédio
Saudade não tem nem cor
Saudade é coisa sem graça
É coisa que dá e passa
Saudade é sentir muita dor
E assim correu todo o dia
Sem chegar a conclusão
Qual seria a mais correta
A melhor definição
Para o tema da saudade
Que toda a comunidade
Prestou colaboração
Até que surgiu um matuto
Que estava de fora olhando
Aquele total rebuliço
Do povo todo falando
Foi quando alguém o notou
E pro matuto perguntou
Se estava participando
E o matuto então disse
Não, mas posso colaborar
É questão de me dizer
O que vai me perguntar
E o tema foi colocado
E o matuto deu o recado
Começou logo a falar
Jogou fora seu cigarro
E disse com voz de corvo
Com muita simplicidade
E sabedoria do povo
Sem demonstrar alvoroço
Saudade prá mim seu moço
É vontade de ver de novo
