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Contos-->Tadinha da Cleuza! -- 24/03/2002 - 16:36 (Rutinaldo Miranda Batista Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tadinha da Cleuza!


Cleuza se encaixava no perfil da mulher moder-
na.Independente,culta,dona do próprio nariz e,
aos trinta e quatro anos,...encalhada.Tadinha
da Cleuza!Diante das evidências que estava fi-
cando pra titia,até que andava se esforçando.
Passara a frequentar toda boate e clube de
dança que encontrava pela frente.E,lá ficava
sentada,sozinha numa mesa,jogando o cabelo pro
lado,fumando cinematograficamente.Acalentando
a esperança que alguém a notasse.Mas,homem que
era bom,nada.Verdade seja dita,a noite não
passava em branco.Sempre surgia um engraçadi-
nho com a promessa de uma noitada inesquecí-
vel,regada a colchão d água,teto espelhado,ca-
ma vibratória,etc.Certa vez,no Clube de Dança
Buraco Quente(olha onde a Cleuza foi parar!),
seus ouvidos foram testemunhas de uma propos-
ta sadomasoquista.Ela vestida de BatGril,chi-
cote em punho,distribuiria lapadas calientes
nele,o velho descarado de terno e gravata,ar
sério,sentado à sua frente,que rolaria no chão
vestido de Pantera Cor-de-Rosa.Refeita do cho-
que,Cleuza tinha uma estratégia para esses ti-
pos de cantadas.Fingia não ter ouvido,deixava
o sujeito falando sozinho,colocava a bolsa no
no ombro,ia para casa.
Já estava se acostumando com a idéia de ser
uma solteirona.Mas,dos filhos ela não abriria
mão.Quando eles perguntassem quem era o pai,
diria,revoltada,que recorrera à inseminaçao
artificial,pois os homens tinham desaparecido
da face da Terra.Assumiria uma produção inde-
pendente.Seria fácil,bastava dar uma olhada
nos jornais.Estavam cheios de clínicas espe-
cializadas.Após alguns contatos,chegou à con-
clusão que fazer um filho em laboratório cus-
tava caro.Se não fossem a última lipoaspira-
ção,as prestações do carro novo,do apartamen-
to bem que sua conta bancária não estaria no
no vermelho.Tadinha da Cleuza!Sem homem nem
dinheiro para ter um filho.Restava tomar me-
didas extremas.Vestir uma carapuça,sair pelas
madrugadas.Pular em cima e estuprar o primei-
ro que encontrasse pelo caminho.Não,não podia
se submeter a isso!Era uma mulher sensata.Ou-
tros meios deviam existir,certamente.Folhean-
do os classificados,encontrou a seção de "tra-
balhos".Então,resolveu consultar o Pai Zeca
de Ogun.Afinal,ele atava e desatava,fazia e
desfazia.Tudo garantido ou a pessoa recebia o
dinheiro de volta.Uma voz feminina com sotaque
espanhol fajuto agendou a consulta.
Cleuza chegou ao terreiro no dia e horário
marcados.Um preto velho fumava seu cachimbo
sentado debaixo de uma enorme mangueira.Apare-
ceu uma assistente e a levou até o velho.Cleu-
za sentou sobre as folhas secas.O preto pegou
ao lado uma garrafa de pinga,deu um gole.Ofe-
receu a Cleuza que recusou.Ofereceu novamente.
A assintente informou que,se ela não bebesse,
o santo não baixava.Tadinha da Cleuza!Pensou
que iria morrer ao sentir a pinga descendo a
goela e rasgando os bofes.
Ficaram alguns instantes em silêncio,até a as-
sistente explicar que,se o cheque não fosse
assinado antecipadamente,o santo também não
baixava.Cleuza tinha esquecido o talão.A as-
sistente,sorriso em pessoa,disse não ter pro-
blema.Pai Zeca aceitava cartão.Finalmente,após
entregar o cartão,o santo baixou.Arregalando
os olhos,Zeca de Ogun falou que teria de fazer
um trabalho forte,já que a cliente tinha um
encosto de pombagira sapatão.Consistia em
amarrar a boca de um sapo com uma calcinha
dentro.Mas,não um sapo qualquer.Tinha de ser
um sapo-boi da barriga amarela.Bicho difícil,
manhoso,que só dava as caras em noite de lua
cheia.E,como o preto velho estava muito velho
para andar atrás de sapo,caberia a Cleuza con-
seguir o bicho.
Lagoa da Barriguda,vinte e sete de setembro,
noite de lua cheia.As câmeras da Organização
Não-Governamental Amigos do Mato estavam cui-
dadosamente camufladas para filmar o raríssi-
mo Strupicius Strupicius,polularmente conheci-
do como sapo-boi da barriga amarela.Tudo cor-
ria bem,quando apareceu uma maluca,não se sa-
be de onde,e pulou sobre os pobres dos sapos.
Imediatamente agarrada,foi levada pra delega-
cia.Diante da fitas,o delegado não teve dúvi-
vida.Era integrante de quadrilha internacional
de traficantes de animais com sede na Tasmânia
Presa com a prova do crime,um sapo-boi macho,
Cleuza teve sua foto impressa nas páginas po-
liciais.Pior que isso,foi saber pelo seu advo-
gado que,sendo um crime inafiançável,ficaria
trancafiada junto com aquele sapo pelo menos
uns vinte dias até o julgamento.Tadinha da
Cleuza!Tadinha mesmo!Até eu,que escrevo esta
história,acabei ficando com pena dela.Por
isso,resolvi dar uma força.Acontece que duran-
rante esses vinte dias,nos quais Cleuza olha-
va pro sapo e o sapo olhava pra Cleuza,surgiu,
digamos,uma amizade entre os dois.Absolvida
depois de descobrirem que o pessoal da ONG
fazia,na verdade,pirataria biológica,Cleuza
saiu da cadeia com seu novo amigo.Então,acon-
teceu o improvável.O sapo começou a falar.
-Dá um beijo.
-Quê?!
-Dá um beijo.
-Ai,meu Deus,pirei de vez!
Iria processar o Estado.Todos eram testemunhas
que entrou na prisão sã.Quer dizer,nas condi-
ções em que foi presa,correndo atrás de sapo
em plena madrugada,deveriam tê-la encaminhado
ao menos para um psiquiatra.Não a trancar na-
quela gaiola,sozinha,tendo um sapo por compa-
nhia.O resultado é que seu juízo não aguentou.
Agora estava vendo o sapo falar,pedir beijo.
Fazer beicinho com aquela boca pegajosa.
-Dá um beijo.
-Não!
Foi impossível não notar a tristeza no sem-
blante do sapo que se afastou cabisbaixo.Cleu-
za sentiu uma ponta de remorso.Ele foi sua
companhia nas noites solitárias,um ouvinte
atento de suas queixas e acabou tratado daque-
la forma.Porém,dar um beijo naquela boca vis-
cosa da qual saia uma língua quilométrica em
direção a moscas desprevenidas...paciência!Po-
dia negociar.Quem sabe um abraço?Chamou o sa-
po que veio saltitando.
-Dá um beijo.
-Não,um abraço.
O bicho ficou por instante pensativo,mas aca-
bou consentindo.Cleuza o apertou contra o pei-
to.Fechou os olhos.O sapo,malandro,aproveitou
a oportunidade,saltou no seu rosto e deu uma
bitoca.Sentindo a baba fria nos lábios,ela
abriu os olhos para estrangular o bicho,só que
não acreditou no que viu.
À sua frente,imóvel,estava o Antônio Fagundes.
O galã da televisão,quem diria!,não tinha si-
do sequestrado como todos pensavam.Fora vítima
de uma fã despeitada que encomendou uma man-
dinga poderosa ao Pai Zeca de Ogun.Transforma-
do em sapo,Fagundes literalmente caiu na sar-
jeta.Por uma via de esgoto clandestina,descam-
bou na Lagoa da Barriguda.Tudo isso,entretan-
to,era passado.Livre do feitiço,o que ele que-
ria mesmo era ficar junto de sua alma gêmea,a
Cleuza.Para tirar o atraso,ela marcou o casó-
rio logo para o mês seguinte.E,foram felizes
fara sempre.
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