Voltando do Piauí,
passei pelo Ceará
e fui ver um repentista
para as bandas do Tauá,
que dizem ser um assombro,
dos muitos que existem lá.
Ao me ver - um forasteiro -,
me tomou como cobaia,
e, em jogo de capoeira,
lançou-me um "rabo de arraia",
talvez pensando:"num gorpe
é possíve qui ele caia!"
E, o ataque começou:
"Quando vim de lá de casa
qui passei no Esquechelô,
tirei um pá de alpercatas
do queixo de teu avô;
das correa qui sobrô
fiz um bom chiqueradô
pra açoitá tua madrinha
no camim do bebedô".
A torcida se empolgou,
sentindo o estranho atingido,
porquanto existe o bairrismo
que por lá é mais sentido,
com muita gente pensando:
"Esse cabra está perdido!"
Respondí: "Seu" Zé Limera,
sua fama é propagada,
sem ter nada de bom senso
(sendo diferenciada),
porém, respeite a madrinha
e meu vovô "seu" Queixada,
que não merecem alusão
nessa sua presepada!"
Eu ão sei se ele entendeu,
mas, ficou foi furibundo
e disse: "Cabra da peste,
sô premero sem sigundo,
si num mi chamo Raimundo
(conforme o Carlos de Andrade),
sô o mió da cidade,
digo, sô mió do mundo
e ninuém nega a verdade!"
E, sem esperar resposta,
Zé Limera continua:
"Num cantei notro praneta,
mas, com Armistrongue, na Lua,
fiz meu mió disafio,
qui é ripitido na rua.
Daí, toda minha glora
- com brilhantina glostora -,
qui cantei por toda parte;
se tivé forsa argun dia
vou cantá inté ni Marte,
usando de bizarria,
num pega cum Bonaparte!" |