Toda vez que ouvia esse termo “Soul music”, ou música da alma traduzindo literalmente para o português, ficava intrigado e ao mesmo tempo extasiado, pois se há uma coisa que vem da alma, essa coisa se chama música, agora estou tendo a oportunidade de escrever sobre o tema.
A “soul music” é uma combinação de “Rhythm and blues”(que por sua vez é uma combinação entre Blues e Jazz) e a música gospel, originalmente usada para louvar a Deus nos cultos evangélicos norte-americanos.Esse gênero de música enfatiza a capacidade vocal de seu intérprete, é a expressão solidária dos negros em busca de uma identidade e combate a segregação racial vigente nos anos 50 nos EUA.A voz potente de um negro cantando equivale a de 100 brancos gritando.
É nesse cenário que encontro meu personagem de hoje, Marvin Gaye, um dos maiores divulgadores dessa “música da alma”.
Um das características marcantes de Gaye era que ele utilizava os fracassos nos relacionamentos para compor canções de sucesso, explicitava tudo o que acontecia sentimentalmente com ele em forma de música.
Marvin, como quase todos os experts da humanidade em alguma área, teve sua vida ponteada por disparidades e conflitos profundos, a criatividade parece florescer melhor em mentes que vivem sob um estado de continua interpelação.
A morte de sua primeira parceira, Tammi Terrell, causou o primeiro abalo em sua carreira. Ela desmaiou durante um show da dupla e descobriu-se que tinha um tumor no cérebro.Marvin largou tudo, decretou um auto-exílio e só retornou à música um ano depois.
E quando ressurgiu transformou a música negra em uma bandeira social, criticando posturas da sociedade americana como a pobreza e a Guerra do Vietnã.
Marvin incorporava em suas canções elementos das músicas espirituais das igrejas e as silabas incompreensíveis que ouvimos nas interpretações de artistas ainda hoje, são influencias diretas da Soul Music.
Paralelamente às mensagens sociais, o cantor ressaltava o sex appeal em seu trabalho e apesar do sucesso,Gaye vivia com problemas financeiros, além do envolvimento com as drogas. As brigas judiciais com a ex-mulher levou anos e ele chegou a ceder todos os direitos autorais de um disco para ela. A vida conturbada o fez mudar-se para o Havaí, para a Bélgica, sempre em busca de seu eixo. Na Europa, compôs seu último grande sucesso, Sexual Healing .
O hit mundial o fez voltar triunfante aos EUA. Já separado da segunda mulher, foi morar na casa dos pais, mergulhou ainda mais na cocaína e entrou em depressão. Isso aumentou os conflitos com seu pai, um ministro de um braço extremamente conservador da Igreja Adventista do sétimo dia(denominada “Casa de Deus”), que misturava elementos pentecostais e do Judaísmo Ortodoxo, o radicalismo religioso nessa religião determina que os códigos de conduta sejam tão rigorosos que nem os dias santos devem ser comemorados
No dia 1º de Abril de 1984, véspera de seu aniversário, quando completaria 45 anos, Marvin Gaye foi assassinado pelo próprio pai, após um desentendimento familiar, onde ele foi defender a mãe.Marvin e seu pai jamais se entenderam e alimentavam um ódio mutuo desde a infância do filho.
Marvin estava mergulhado numa profunda depressão e sentia sua alma vazia, talvez de tanto se esvaziar dela e não conseguir vencer as drogas.
E infelizmente calava-se assim uma das maiores vocês já conhecidas da “música que vem da alma”
