Tempo do esquecimento
maria da graça almeida
Guardei meu rosto de moça
na fundura de um espelho,
a boca sem gosto, insossa,
o corpo lanhado de relho.
Da moldura, pelos cantos,
colori minha figura,
quem na vida passa em branco
não aperta, nem segura.
Furtei do antigo espelho
os temores do degredo,
no ardor de seus conselhos
instalei-me entre seus dedos.
Meus ouvidos tão meninos
atirei secos ao fosso;
ao repicarem os sinos,
soterrada, não os ouço.
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