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Artigos-->PALAVRA E SILÊNCIO: UM CASO -- 06/12/2005 - 23:26 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PALAVRA E SILÊNCIO: UM CASO



Francisco Miguel de Moura*



Há muitas frases e provérbios sobre a palavra e o silêncio. Mas, por enquanto, vamos deixá-los em paz, ou melhor, no olvido. Muitas vezes um fato é mais ilustrativo do que teorizações, idéias, etc. etc.

Faz mais de dez anos e eu estava hospitalizado. Era paciente de uma cirurgia de próstata. Naquele tempo ainda não chegara a vez do raio laser, ou a maioria dos médicos não confiava no procedimento cirúrgico por essa maneira. Entrei no bisturi, tiraram-me a próstata. Porém, a anormalidade é que eu ficaria mais tempo no hospital por falta de recuperação da cirurgia. A urina saía manchada de sangue, cada dia mais amarelo ficava, e sem forças. Minha família ficou primeiro perplexa, depois irritada, e pressionou-o para que desse um jeito logo na situação. Eu ficava cada dia mais sem vontade de nada, morrendo à mingua. Passou uma semana depois da operação, tempo de voltar para casa bonzinho. Mas nada de melhora. Outros já teriam ido pra casa em bom estado. Então, o cirurgião revolveu mandar fazer novos exames, agora mais minuciosos e, em seguida, abriu-me numa nova cirurgia que completava a anterior. Ou teria deixado algum instrumento cirúrgico lá dentro? Nunca se sabe. Restou-nos a dúvida. O certo é que fui, numa tardinha, levado à sala de operação, agora recebendo apenas anestesia parcial. Consciente, fui mexido e remexido. No meio da história, ou já findando, houve necessidade de um medicamento injetável e o hospital não possuía. O médico esbravejou. Ao fim, não sei se o remédio foi buscado em outro hospital, ou não. Sei que comecei a sentir dores, muitas. Foi a maior dor de minha vida. Eu estava “passado” como diria mamãe, ou melhor, “ultrapassado”. Fazer o quê?

- Ai, ai, ai - gritava cada vez mais alto.

Nunca me esqueço da enfermeira que me acompanhava. Chegou-se a mim e disse baixinho:

- Seu Francisco, o senhor está gritando muito.

- Ai, ai, ai! – eu repetia.

- Quanto mais assim procede, mais a dor aumenta. Experimente ficar em silêncio, concentrar-se, e vai sentir melhora.

Foi o que fiz. Como que adormeci um pouco. Nem pude perguntar-lhe o nome. A dor foi aliviando.

Essa lição de psicologia ficou gravada na minha mente para sempre, como a sensação de dor nunca sentida.

Desde então, sempre que vejo uma enfermeira, lembro-me daquele dia e sinto o bem que elas, a maioria, fazem. Foram suas palavras e meu silêncio que me reconstituíram para a vida. Daí a mais uns oito dias eu estava tendo alta e indo pra casa com alegria, se bem que ainda muito fraco e parecendo ter vindo do “outro mundo”.

De outra, já bem madura, me recordo que aplicava em mim remédios que eram “um santo remédio” para as dores e o sofrimento. Comparecia ao quarto com freqüência, falava palavras confortadoras, de consolo. A esta perguntei seu nome, disse a mim mesmo que iria escrever uma crônica logo depois, a ela dedicada. Embora seus nomes próprios, por isto ou por aquilo, não me tenham ficado na memória, é justo que em nome delas faça uma homenagem às enfermeiras do Brasil e do mundo. Quanto bem não praticam minorando a dor dos pacientes?!



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*Francisco Miguel de Moura é escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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