A criatividade popular tem a capacidade de sintetizar os desejos da galera. Esses antropólogos do cotidiano são humorados e concisos. Apenas uma frase é essencial. Quando o Internacional repetiu o placar do jogo anulado contra o Coritiba, a torcida colorada, em coro, homenageou o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luiz Zveiter.
- Ei, Zveiter, vai tomar no...
Perfeito! Era o que todos nós, sensatos e analíticos, gostaríamos de dizer em altos brados. E esse cântico retumbou na geral do Gigante da Beira-Rio. Uma justa lembrança para quem esculhambou com o campeonato.
Como torcedor, também estou estupefato com a maneira que o tribunal desportivo solucionou a falcatrua de um árbitro delinqüente. Luiz Zveiter, numa atitude unilateral, anulou os onze jogos do campeonato brasileiro. O Corinthians foi escandalosamente beneficiado, pois jogou partidas que havia sido derrotado. Para o Inter, um risco, pois teria que jogar uma partida que havia sido vitorioso.
Após os escândalos na política em que pinóquios dos mais diversos quadrantes ideológicos depondo na CPI nos deixaram descrentes. A corrupção entra em campo e altera jogos do brasileirão. Os jogos anulados mexeram com a paixão dos brasileiros. O futebol, além de envolver milhares de torcedores, é um negócio. O Inter foi sumariamente prejudicado pela anulação dos jogos e por um gravíssimo erro de arbitragem. Quem vai cobrir os dividendos financeiros que teria direito como campeão brasileiro? Quem recompensará os ganhos publicitários, que teriam direito, os patrocinadores de um time campeão?
É impagável a alegria dos pequenos torcedores comemorando nas ruas e praças. Quem vai devolver o sorriso aos coloradinhos do Rio Grande? Quem paga essa fatura?
Agora, pouco adianta o Marcio Resende posar de “Madalena Arrependida”.
O campeonato encerrou com a imprensa publicando duas listas de classificação, com e sem os jogos anulados. E o veredicto da CBF: os paulistas são campeões. Meus pêsames, torcedor. Nós, que temos o coração vermelho, não reconhecemos esse título.
Nesse momento de revolta e indignação, tomo emprestado o título de uma obra de Érico “O resto é silêncio”. Essa é a única atitude digna para não ser chulo.
Sinto-me ultrajado nos meus sonhos juvenis e no sorriso de felicidade dos meus filhos e reprimo meus instintos mais primitivos, como diria um ex-deputado.
Embora, no aconchego de minha quietude, sinto um dever de sussurrar para o mundo e protestar. - Ei, Zveiter...