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cronicas-->A tangerina da infància -- 07/01/2002 - 22:11 (Marba Rosangela Teixeira Furtado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta larga e longa calçada nada tem a ver com minha infància. Aliás, quando eu era ainda pequena, também eram pequenas as calçadas, estreitas, às vezes nem calçadas, apenas um passeio de terra batida ao longo de intermináveis muros de coloridos portões.
Independente disto, toda vez que passo por esta calçada de agora, me voltam, rápidas, várias imagens, sons e cheiros de 20 anos atrás. Que estranho encanto terá esta longa via?
Descobri, então, que o que me volta as lembranças é o perfume da flor de uma árvore plantada às margens da calçada. Não sei seu nome, mas parece uma orquídea, entre lilás e rosa, às vezes quase branca. Mas que perfume!
Com ele vêm outros cheiros. De cinamomo florido, cheiroso, de sombra fria e úmida; de tangerina colhida no pé, lavada na bica do quintal e descascada diante do portão da frente, separado de uma recente calçada por dois degraus cimentados.
Ali, o sol esquentava corpos miúdos e gelados pelo vento de inverno. Na minha imaginação, a tangerina tinha gosto de sol de inverno. Eram partes divinamente unidas. Cheirava à casimira xadrez e fazia escorrer uma inevitável coriza pelo nariz a cada gomo mastigado com vontade e prazer. Era uma fruta de férias, pois só longe da escola podíamos descansadamente saboreá-la ao portão, vendo passar a hora para almoçar, ou, depois do almoço, esperando chegar o momento do banho e do recolhimento à casa, até o dia seguinte.
De manhã, na época das tangerinas, o sol nascia tarde e ia derreter o congelado orvalho das plantas e telhados. Na janela, a criançada bocejava os vidros e desenhava seu mundo com a ponta dos dedos. Só mais tarde - bem mais tarde - as ruas e calçadas receberiam seus coloridos usuários infantis a descascar as primeiras tangerinas do dia, riscar e pular a amarelinha, tirar os fiapos dos gomos, pular corda, morder os primeiros gomos com vontade, jogar bola... Cumprir esta agenda deliciosa era a única responsabilidade daqueles dias.
Escurecia e amanhecia com o mesmo vento gelado; saboreava-se as mesmas frutas, jogava-se as mesmas pedras, cheirava-se o mesmo inverno e os mesmos cinamomos. No entanto, nada parecia igual para quem comia com prazer uma tangerina, sentada nos degraus do portão, tentando enganar o frio com o sol de meio-dia. (21-08-1984)
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