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Cordel-->Discurso de Posse na Cadeira 12 de Paulo Nunes Batista -- 09/11/2002 - 20:37 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Discurso de Posse na Cadeira no. 12 da ABLC
A vida e a Obra de Francisco das Chagas Batista (Cordel)
Autor: Paulo Nunes Batista

Discurso de Posse na
Cadeira número 12
Da ABLC – em verso-
Sem muita etiqueta e pose.

Por Paulo Nunes Batista,
Em direito bacharel,
Jornalista, repentista,
Especialista em cordel.

Em 19 de outubro
De 92, no Rio.
Ante o Cordel me descubro
E esta Fala pronuncio.

Gonçalo Ferreira da
Silva, Ilustre Presidente
Desta Nobre Academia;
Cada Digno Componente
Da mesa; Irmãos Cordelistas;
Meus Amigos; minha Gente...

É de Francisco das Chagas
Baptista, que foi meu Pai, -
Sua vida e sua obra-
Que falar seu filho vai.
Sendo meu Pai e Patrono-
Da Cadeira 12 o dono-
Com ele o filho não cai.

A Musa me inspira e assista
Pra eu cumprir bem meu papel,
Sendo – de Chagas Baptista-
Um biógrafo fiel.
Possa em meu verso sem brilho
Provar que sou mesmo filho
Desse mestre do Cordel.

Meu Pai nasceu menestrel,
De uma Família Poeta.
Foi sobrinho de Ugolino
Do Teixeira, em linha reta.
Irmão de Antonio Batista
Guedes, grande repentista
De fama antiga e completa.

O Clã de Chagas Baptista
É Raça de Cantadores.
Vem lá de Agostinho Nunes
Da Costa, um dos Trovadores
Mais antigos do Nordeste:
Merece a glória que o veste-
É um rei, entre os Glosadores.

De Agostinho vem Nicandro,
Dito “O poeta Ferreiro”,
E Ugolino, meu avô,
Seu irmão - um Violeiro
Que era um mestre no Repente
E espalhou essa semente
No Nordeste brasileiro

Descendentes de Ugolino
Poetas diversos há:
Antonio Batista Guedes,
Odilon Nunes de Sá,
Otacílio, Louro e Dimas,
E entre esses Ases das Rimas
É que o meu Patrono está.

Meu Pai teve treze irmãos.
E entre esses irmãos havia
Vários que, de nascimento,
Trouxeram o dom da poesia:
Antônio, Manoel Sabino,
Raimundo...todo um destino
De Cordel e Cantoria...

Manoel Sabino Batista,
Poeta intelectual,
Em Fortaleza, com outros
Funda um grêmio cultural
Unindo Prosa e Poesia:
É a famosa “Padaria”
Chamada “Espiritual”...

Fabricando o “pão de espírito”
Cada membro era um “padeiro”.
Sabino deixou dois livros-
Flocos e Vagas. Luzeiro
Refulgindo em plagas novas,
Tem “ditado” do Além – trovas
Ao Chico, o Médium mineiro.

Pois é o Espírito que
Possui da poesia o dom.
E sempre o leva consigo,
Pois que ele não morre com
O corpo...E, no Espaço, Vivo,
Prossegue poeta, ativo,
A produzir o que é bom!

Antes de alcançar a meta
Cujo alvo era a Poesia,
Chagas Baptista, já adulto,
Quase escrever não sabia...
Trabalhou como cassaco,
Mas...sem dar parte de fraco,
Pra frente e pro alto seguia...

No ano de mil e oitocentos
E oitenta e dois e no mês
De maio, no dia 5,
Francisco das Chagas fez
Sua entrada neste mundo.
Viu, do sertão lá no fundo,
A luz a primeira vez.

Foi na Vila do Teixeira,
Lá, bem no alto da Serra
Da Borborema, o seu berço
Que toda a beleza encerra
Da Paraíba do Norte.
Nasceu para ser um forte,
Como é o Povo dessa terra.

O autor de Os sertões não erra
Ao dizer que “o sertanejo
é antes de tudo um forte”.
Tinha razões de sobejo
Euclides da Cunha, quando,
Do sertanejo tratando,
Retratou-o, em seu bosquejo.

Afastar-me não desejo
Do tema e real objeto
Que é a vida de meu Patrono
E Pai, meu mestre dileto
Aos dezessete de idade
Meu Pai era, na verdade,
Pouco mais que um analfabeto.

No ano de mil novecentos
Deixa a Vila do Teixeira
E vai pra Campina Grande
Buscando a melhor maneira
De viver e se educar.
À noite põe-se a estudar-
E vai fazendo carreira...

De dia carrega água
E lenha em costas de burro.
Como operário de estrada
De ferro, dá grande murro.
Luta pra sobreviver,
Quer subir e quer vencer –
Forte, teimoso, casmurro...

Aquela estrada de ferro
De Alagoa Grande, faz
Enrijecer seu caráter,
Provando que ele é capaz,
Lutador, perseverante
E caminha para adiante,
Do Ideal seguindo atrás!

Conseguindo aulas noturnas
Vai, inteligente e arisco,
Dos versos que lhe saem da alma
Já traçando algum rabisco.
Aos 20 anos, então
Seu Saudades do Sertão-
Folheto – edita Francisco.

Sai, em Alagoa Grande,
Em velha tipografia,
Esse primeiro folheto
Que Francisco imprimiria.
Do Brejo as feiras percorre,
Vende versos, se socorre –
Para viver – da poesia...

Chega à cidade de Areia
E outros folhetos publica.
E viaja vendendo versos,
Sua vida modifica:
Era operário braçal –
Agora, é intelectual,
Torna a existência mais rica...

Desce à capital do Estado-
que era Paraíba – e lá
o Saudades do Sertão
Chagas reimprimirá.
“O Comérico” e a “União”
elogios lhe farão –
conhecido ele já está.

N’ “A República”, em Natal,
Henrique Castriciano
Tece palavras de estímulo
Ao moço paraibano.
Sai no “Ateneu Campinense”
Seu soneto Um Canto... Vence
E aos poucos sobede plano.

No ano de mil novecentos
E cinco, um articulista –
M.M. – escreve sobre
Versos de Chagas Baptista:
Modinhas Frescas comenta,
Tece encômios, apresenta
A alma lírica do artista.

Esse artigo é publicado
No “O combate”. Ao tempo, Chagas Baptista vendia versos
Nas pernambucanas plagas.
Da mente tirando o suco,
No cão de Joaquim Nabuco
Da vida ele vence as vagas...

Em 909
Chagas Baptista se casa
Com sua prima Hugolina.
E segue mandando brasa,
Fazendo versos e filhos:
Deixa doze, nesses trilhos
Por onde espalha sua Asa...

Desses – sete são poetas,
O melhor deles, morreu.
Foi Luiz Nunes Batista,
Que muito verso escreveu,
Pouca coisa publicou.
Desse povo, o que ficou,
O menor deles sou eu...

Faleceram: Pedro Werta
E o mano Sebastião.
Também Maria das Neves.
Resta o José – foi-se o João.
Esses que foram pro Espaço
Lá dos Poetas no Paço
O seu recado hoje dão.

Em Guarabira, meu Pai
Residiu e se casou.
Para a capital do estado
Finalmente se mudou.
Aí funda a “Livraria Popular”
Que editaria
A produção que deixou.

Leandro Gomes de Barros,
Seu compadre e seu amigo,
Na “Popular Editora”
Encontrou ajuda e abrigo.
Os dois – muito publicaram:
Cordel, juntos, divulgaram
Naquele passado antigo.

Meu Pai foi auto-didata.
Lendo é que ele progrediu
E uma regular cultura
Nos livros adquiriu.
Como livreiro –editor
De três livros foi autor,
Fora o mais que produziu.

Em 910
Francisco publica “A Lira
Do Poeta”, coletânea
De versos, em que reunira
As paródias que escrevera
Junto aos poemas que lera –
Poeta, em outros se inspira.

Tem “A Lira do Poeta”
Modinhas Recitativas
E Sonetos – as paródias
Que não são imitativas:
Mostram a verve do lirista,
Pois são, de Chagas Baptista,
Composições criativas.

Em 18 edita Chagas
O Poesias Escolhidas
Com versos seus e dos outros.
Contém paródias compridas.
Meu velho, Chagas Baptista,
Foi um grande parodista –
Fez composições sentidas.

Parodiou Castro Alves,
João de Deus, Guerra Junqueiro
Varela, Gonçalves Dias.
Do Brasil e do estrangeiro, poesia que ele gostava,
Batista parodiava
Como um mestre verdadeiro.

Foi, pois, poeta erudito,
Além de ser popular.
Fez poemas e sonetos
Da vida no poetar.
Foi um grande cordelista:
A obra de Chagas Batista
É difícil enumerar...

A Fundação Casa de
Rui Barbosa publicou
Com patrocínio do MEC
Livro que biografou
De meu Pai a vida e a obra
E mostra, em verso, de sobra
O melhor que ele deixou.

Esse livro é TOMO IV
De uma Série – “Antologia”.
O mano Sebastião fez
A biobibliografia.
Do Cordelista Francisco
Das Chagas Baptista – um disco
Melhor não o refletiria.

A obra nos traz a poesia
Com toda a autenticidade
Desse Cordelista autêntico,
Do poeta de verdade
Que não se prostituiu,
Mas, preservou, garantiu
Sua originalidade,

Católico praticante,
Desses de não perder missa.
Por um filme de Carlitos
Vencia qualquer preguiça:
Adorava uma comédia.
Era de estatura média
E tinha a pança roliça.

Pois, Papai comia bem.
Fã de uma boa cozinha,
Ele sozinho trinchava
A grande e gorda galinha
Que Mamãe punha no almoço.
Chagas era um tipo grosso
E Mamãe era baixinha.

O seu cabelo à escovinha
Era o jeito que ele usava.

Era mulato ou cafuzo,
Sua origem não negava.
De branco, de índio e africano
Tinha os sangues – e o tutano
Que em tudo ele revelava.

Calmo, conciliador,
Meu Pai era um homem pacato;
Corajoso, se preciso
porém, prudente e sensato.
Praticava a Caridade.
Da lei da hospitalidade
Era um cumpridor, de fato.

A muito pobre ele deu
Livros, cadernos de graça.
Ajudava a gente pobre,
Condoído da desgraça.
Meu Pai era uma alma boa.
Seu enterro em João Pessoa
Foi dos maiores da praça.

Parentes necessitados
Nunca deixou de ajudar.
A mesa dele era farta
E sempre tinha lugar
Pra quem de fora chegasse.
Mendigo que o procurasse
Tinha sempre o que levar.

Avalizou muita gente,
Muito fiado vendeu.
A mãe de Samuel Duarte
De meu Pai se socorreu
Para ao filho dar estudo.
E muita gente, de tudo
Isso, depois, se esqueceu...

E quando ele faleceu,
Gente descalça, lá vai
Acompanhando o caixão
Enquanto a lágrima cai.
Era a Pobreza sofrendo
E com saudade dizendo:
Morreu meu segundo pai...

Eu sei que repito rimas
De estrofes anteriores.
Mas escrevo é de improviso
Entre sorrisos e dores...
E eu não sou mais, nem um pouco,
Que os Cantadores de Coco,
Os Meus Irmãos Cantadores...

Vamos tentar resumir
A Obra de Chagas Baptista –
A sua contribuição
De Poeta Cordelista.
Quantos são os seus folhetos?
De todos os seus livretos
Ninguém tem completa a Lista!

Em 904
No Recife publicou
O seu “A Vida de Antonio Silvino”
A este juntou “Anatomia do Homem”.
A estes é bom que se somem
Outros, que então editou.

“A Questão do Acre” e
“A Vacina Obrigatória”
vêm à luz. Pedro Calmon
fala dele em sua “História
do Brasil (é...) na Poesia
do Povo” – e ali o elogia.
São flores da trajetória. –

Novamente no Recife,
Em 906,
Chagas publica “O desastre
Do Aquidabã”, e, outra vez,
A “história de Antô(n)i(o) Silvino”
Junta. O célebre assassino
Vai contando o que ele fez...

Saem “As Vítimas da Crise”
E “As Manhas dum Feiticeiro”.
Em 907,
De Silvino, o Bandoleiro,
A História edita de novo.
Chagas retrata pro Povo
O famoso Cangaceiro.

Em 908
Vemos Chagas publicar
De Silvino “Novos Crimes”
E “A Formosa Guiomar”.
Sai “A Morte de Cocada”.
Chagas prossegue a jornada
Publicando sem parar.

“A Política de Antônio
Silvino” vê-se sair.
“Maldição da Nova Seita”
seria o próximo a vir.
Em 11 tem edição
“Traição, Vingança e Perdãp”...
Não é fácil resumir.

Há títulos muito longos
Que deixam a métrica fora...
“a Encrenca da Paraíba”
mais “O estudante Caipora”
saem. E em 12 se atiça,
com “O Enterro da Justiça”,
seu estro, que só melhora.

Em 913
Sai “Os Milagres do Bento
De Beberibe e o Enterro
Da Medicina”. E o portento
Que é a “História do Capitão
Do Navio” (Conclusão).
Chagas mostra o seu talento.

Sai a “Salvação do Rio
Grande do Norte”, também.
“A Vingança” e “As orações
de Antonio Silvino” vêm.
Do facínora notório,
Logo, “O Interrogatório”
Em 14 é o que se tem.

Em 17 aparece
A “história de Esmeraldina”.
O “Casamento e Mortalha”
(de Carlos e de Celina).
Já é consagrado autor:
Sai “O triunfo do Amor”,
Que é a “história de Calina”.

Também dessa mesma época
É a “História de Maria
Rita” e “O Brasil na Guerra”.
Em 18 sairia
A “história da Escrava Isaura”.
E do Cordelista a aura
Popular se afirmaria.

De 20 até 23
Vários folhetos virão:
“Revoltosos do Nordeste”,
“O Marco de Lampião”
e sua história mais bela,
esse “O Valente Vilela”,
romance de grande ação.

Publica “O Mundo às Avessas”,
Publica “O Povo na Cruz”;
Edita “A hecatombe de
Piancó, fazendo luz
Sobre a ação de Lampião,
Que “governava” o Sertão
Seguindo “as leis do arcabuz”...

São dezenas de folhetos
Que o poeta deu a lume.
Num “discurso” como este,
Quando um filho seu assume
Aqui, a sua Cadeira, -
Sua vida e a obra inteira
São um mar que não se resume...

Em 29, meu Pai
Publica o seu “Cantadores
E Poetas Populares” –
Obra que ganhou louvores:
É citada, consultada,
Estudada e comentada
Por diversos escritores.

A Casa de Rui Barbosa
Prometeu nova edição
Preparada e comentada
Que foi, por Sebastião
Nunes Batista, meu mano.
Não sei se ainda existe o Plano
Para essa publicação.

Esse livro de meu Pai
É a primeira Antologia
Que se fez dos Repentistas
E Cordelistas que havia
No Nordeste Brasileiro:
É Obra, pois, de um Pioneiro
Sobre a Popular Poesia.

Se Rodrigues de Carvalho
E op grande Leonardo Mota
Junto a Gustavo Barroso
Andaram na mesma rota-
Nenhum deles superou
O que meu pai anotou,
E isso de cara se nota.

Meu pai, além de poeta,
Foi, assim, Folclorista,
Provando a capacidade
De excelente antologista.
Mereceu, por isso, estudo
Lá de um Câmara Cascudo
O velho Chagas Baptista.

Vários folhetos de Chagas
Sabe a gente nordestina
De cor: o “Amor e Firmeza”
Ou “A Imperatriz Porcina”
Ou “O Menino Jibóia”.
Cada um deles é uma jóia
Que agrada, diverte e ensina.

Afrânio Coutinho em
Seu livro “A Literatura
No Brasil”, volume 1,
Deixou que a grande cultura
De Cascudo ali falasse
E de Chagas nos mostrasse,
Numa síntese,a figura.

Ele é citado e transcrito
Por numerosos autores.
Esses que estudam o Folclore-
Todos os Pesquisadores
Do Cordel e do Repente-
Trazem seu nome presente
Como um dos reais valores.

Orígenes Lessa disse
Num seu artigo na imprensa
Que meu Pai lhe despertava
Admiração imensa.
Sua poesia, em verdade,
Em talento e qualidade
No Cordel não tem quem vença.

E seu verso era Fluente,
Limpo, macio, espontâneo-
Como nasce a água corrente
Brotava lá no seu crânio.
Na Paraíba do Norte
Qualquer Cordelista forte
Respeita esse conterrâneo.

Em 26 de janeiro
De 30, ali falecia,
Em João Pessoa, meu Pai.
Hoje, é minha estrela guia.
Na romaria terrestre
Ele é meu querido mestre
Nos caminhos da poesia.

Que eu possa chegar, um dia.
Aonde meu Pai chegou.
Que eu chegue ao menos aos pés
De Ugolino, meu Avô.
Pois, se isso acontecer,
Eu posso, amigos, dizer
Que poeta eu também sou...

Oito livros de poesia
E folhetos mais de cem
Em meio século, eu
Fiz e editei. Porém,
Rogo a meu Pai que perdoe
A este seu filho, e o abençoe
Pra ser poeta também.

Que eu honre a cadeira 12
Em todo o ponto de vista.
Viva a Poesia, o Repente,
Viva o Brasil Cordelista!
A todos Agradecido
Fica, feliz, comovido
O PAULO NUNES BATISTA.

Anápolis, 2/10/92-11/09/1999.





















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