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Artigos-->Revitalização do São Francisco -- 02/12/2005 - 21:35 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Revitalização do São Francisco



O “Globo Rural”, que considero o melhor programa da televisão brasileira, exibiu nos dias 13 e 20 de novembro, dois domingos consecutivos, matéria sobre o rio São Francisco, abordando sua degradação e o projeto de transposição de suas águas.

No segundo da série deu a palavra a um membro do Comitê da Bacia do São Francisco e ao ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, cada um que apresentou argumentos contra e a favor da polêmica transposição.

Não obstante, a parte mais importante do programa consistiu na revelação de projetos de irrigação abandonados, um desperdício inominável de dinheiro público, de iniciativas público-privadas que não deram certo, à base de incentivos governamentais e dos graves problemas que tornam o rio agonizante, u´a morte anunciada com grande antecedência, a ser testemunhada por nossos netos ou bisnetos.

Trata-se do assoreamento de sua bacia, do desmatamento inconseqüente e criminoso de suas margens, da fabricação de carvão com árvores do cerrado e da caatinga e outras coisas do gênero.

Na altura do médio São Francisco, em Minas Gerais, na região de Januária, a reportagem mostrou que mais de cinqüenta riachos, alimentadores do grande rio ou de seus afluentes, a maior parte deles perenes, simplesmente desapareceram nos últimos anos, transformando-se em vastos areais e deixando gente, animais e plantas sem água.

A tristeza e dramaticidade dos depoimentos de pobres barranqueiros que a matéria revelou confere uma impressão tão forte que a gente fica comovido com seu sofrimento. Gente simples, muitos certamente analfabetos, todos fazem um diagnóstico muito preciso da doença do rio e do tratamento a ser rapidamente adotado para salvá-lo: há que cuidar urgentemente de sua revitalização.

Aliás, todo mundo, tanto os que aprovam a transposição, quanto os que se posicionam do outro lado, defende a absoluta necessidade de se priorizar a revitalização do rio, programa que deveria ter sido iniciado há muito tempo e que precisa transformar-se em trabalho de caráter permanente.

Os argumentos contra a grande obra que esse governo pretende realizar – e que parece constituir-se na única da presidência de Lula – são de várias naturezas e expressos pelo Comitê de Águas da Bacia do São Francisco, pelos governadores da Bahia e Sergipe, respectivamente Paulo Souto e João Alves, pelo técnico Manoel Bomfim e muitos outros.

O Comitê concorda com o projeto desde que as águas transferidas destinem-se exclusivamente ao consumo humano e animal. Segundo sua ótica, não há porque cuidar-se de fornecer água para desenvolvimento de atividades econômicas longe da região do São Francisco, quando os projetos existentes ao longo de sua bacia estão sem recursos, muitos abandonados e alguns tocados de forma intermitente.

Bomfim e os governadores destacam que as zonas a serem beneficiadas pelas águas transpostas do rio possuem reservas de águas de superfície e subterrâneas suficientes para garantir o abastecimento das populações que se quer beneficiar.

Manoel Bomfim Ribeiro garante que os 70 mil açudes existentes no Nordeste Setentrional acumulam mais de 25 bilhões de metros cúbicos de água, muito mais do que o rio São Francisco despeja, anualmente, no Atlântico. Ele diz que esses açudes são inaproveitados, um verdadeiro “cemitério de águas, um grande espelho evaporativo refletindo, apenas, as luzes das estrelas do céu...”

E ainda há o temor de que grande trecho nas imediações da foz do rio venham a salinizar-se, como já está ocorrendo. Aliás, o governador João Alves refere que a transposição do rio Colorado, que os americanos consideram um grande sucesso, produziu uma tragédia no México. É que as águas desse rio param a 100 km. do mar, provocando a salinização de imensa área fértil.

Eu próprio anoto que o Lago de Sobradinho, em 2001, ficou com apenas 6% de sua capacidade, do que resultou o “apagão” em nosso país. As águas do lago, que normalmente beijam as bordas de Remanso, ficaram a mais de quinze quilômetros da cidade.

As razões apresentadas pelo governo, através do ministro Ciro Gomes, procuram realçar os importantes aspectos sociais da transposição, o acesso à água por milhões de nordestinos, enquanto desqualificam as teses dos antagonistas.

Mas o objetivo deste artigo não é discutir a transposição das águas do São Francisco e sim a necessidade da revitalização de sua bacia.

Quanto a isso todos estão de acordo.

Entretanto, na entrevista que deu ao “Globo Rural” do dia 20 de novembro, o ministro Ciro Gomes disse com toda ênfase que este é o momento de garantir a revitalização, que está no bojo do projeto de transposição. Quero crer que ele não percebeu que sua argumentação implica numa chantagem explícita: ou se aprova o projeto como quer o governo, ou não se cuida de curar os males do rio. Por outras palavras: ou se faz a transferência das águas, ou não haverá revitalização.

Não parecem palavras de um nordestino que é ministro de um presidente nascido em Pernambuco...

22.11.05

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