Grêmio ganhou do Náutico no grito
Primeiramente como pernambucano - e torcedor do Náutico -, gostaria de
apresentar algumas reflexões sobre os acontecimentos do jogo "Náutico
e Grêmio" (final da 2ª divisão do Brasileiro), que junto com o do
Santa Cruz, mexeram com o nosso Estado
na tarde desse sábado, 26/11/2005.
O que eu quero dizer - e já serei claro: na minha opinião, com a
palhaçada e molecagem que fez - não encontro outro termo mais adequado
para a atitude de seus jogadores, dirigentes e comissão técnica -, o
Grêmio ganhou do Náutico no "grito". E foi o velho grito do Sul nos
ouvidos do Nordeste. Direi por quê.
Todos perceberam, pelas imagens da televisão, que na prática, por
diversos fatores extra-campo, o jogo acabara aos 39 min do segundo
tempo, quando foi marcado o pênalti a favor do Náutico. Desse momento
em diante, o Grêmio ocupou-se, estrategicamente, em "bagunçar o
coreto": viu-se uma sucessão de agressões ao árbitro por parte dos
seus jogadores, expulsões, catimbas e invasões de alguns de seus
torcedores e dirigentes, numa demonstração - altamente desrespeitosa,
arrogante e anti-ética, ao Náutico e ao público pernambucano: de que
não aceitariam - caso o pênalti fosse convertido (e tenho certeza de
que o seria pelo Náutico naquele momento) - a vitória do time
pernambucano, preterindo-lhes o acesso à primeira divisão do
Brasileiro. E confesso que como torcedor era isso o que eu temia a
respeito desse jogo.
Ora, porque o próprio Internacional, em jogo recente, não "pintou o
sete" em São Paulo (exatamente o que o Grêmio fez em desagravo ao
Náutico e ao Recife neste domingo) contra o Corinthians, naquela
garfada clamorosa que sofreu do árbrito, num lance muito mais claro
(cansativamente mostrado pela televisão) e menos discutível, do que o,
ainda passível de questionamento, lance do segundo pênalti do Náutico?
Outra coisa: será que Sport, Santa Cruz ou mesmo Náutico, para
ficarmos em Pernambuco, fariam uma "lambança" igual à que o Grêmio fez
em campo neste jogo no Recife, caso passassem por uma situação
parecida no Olímpico, Maracanã ou Morumbi? Pois eu lhes digo com
certeza: muito provavelmente não, até porque nós, "pequenos", já fomos
e vimos sendo historicamente e sistematicamente - como diz o cronista
esportivo Milton Neves -, "preteridos" várias dessas vezes em lances
também "duvidosos", pela elite do futebol do Sul e do Sudeste, e fica
por isso mesmo. Alvirrubros, rubronegros e tricolores sabem bem disso,
o que vale dizer: o grito do Nordeste não tem força.
O pênalti do Grêmio foi discutível: tudo bem, é coisa do futebol; não
é o primeiro nem será o último lance duvidoso desse tipo. O que se
coloca, e se questiona, entretanto, é o seguinte: é sempre permitido
errar (involuntariamente mesmo) em favor dos times do Sul e Sudeste,
quando então os adversários prejudicados, numa espécie de "sina dos
pequenos" (a não ser se a briga for entre a elite), baixam a cabeça e
nem pensam em "peitar" os "grandes", como o Grêmio fez em Recife
contra o Náutico? Por que não se admite essa possibilidade, a de
enfrentar os "grandes" nessas situações, para os times do resto do
Brasil? Por que quando há lances duvidosos contra os "grandes" eles
não admitem, absorvem, como sendo "coisas do futebol"? As "coisas do
futebol", como se fala tanto no jargão desse esporte, são diferentes
para Sul-Sudeste e Resto do Brasil? Acho que sim.
Aos times de fora do "eixo" não se dá o "benefício da dúvida"? Os
"grandes" não aceitam ser postos nessa situação, mesmo que os
"pequenos" convivam constantemente com ela. O Grêmio não aceitou "tal
coisa" no jogo do Recife, e indiretamente terminou a partida, como
disse acima, aos 39 min do segundo tempo, em franco desrespeito ao
Náutico e ao povo pernambucano.
Quanto ao argumento da suposta inépcia do Náutico, eu diria: observem
o trajeto da bola na cobrança do segundo pênalti, e notem que ela saiu
prensada entre o pé do cobrador e o buraco, isso mesmo, o buraco que
os jogadores do Grêmio cavaram na marca da penalidade máxima. Isso
alterou a cobrança, sim, como o estado emocional de todo o time do
Náutico estava prejudicado pela anarquia praticada pelo Grêmio. O gol
do Grêmio já foi uma brincadeira na sequência da balbúrdia em que se
transformou o campo dos Aflitos.
O Grêmio gritou, bagunçou, esperneou e "venceu".
Disse-se que foi uma vitória maiúscula e viril. Pois bem: se o atual
time do Grêmio é tão aguerrido e viril, porque não permitiu - o que um
time equilibrado faria, e até porque não havia motivo, pelo exposto,
para a palhaçada que se fez - que o pênalti do Náutico fosse cobrado
no curso normal do jogo, para a partir de então - tinha uns 10 min
para isso, empatar, ou virar o jogo em cima do Náutico?
São essas algumas reflexões para quem gosta de futebol, e um pouco de
justiça e equilíbrio. Como torcedor, não queria ver o Náutico na 1ª
divisão, ganhando de um time com 7 jogadores. Foi melhor assim. O
Náutico teve seus defeitos, mas o time do Grêmio neste sábado, por
mais paradoxal que possa parecer, foi pequeno. Perdemos. São coisas do
futebol... Até quando? |