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Artigos-->Cantos Populares -- 28/11/2005 - 11:03 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


“Rapaz, um homem que veio de uma formação totalmente diferente do que é a tradição política brasileira, que cria um partido completamente na contramão da história política brasileira, esse homem entra no poder, eu acho que todas as classes do Brasil, pelo lado da consciência, deviam dar mão a esse homem. Se a gente tem que extirpar a pobreza no Brasil, que é crônica, e supondo que os jornais são vetores mais intelectualmente preparados pra isso – estou falando dos grandes jornais – , eles deveriam se colocar a serviço”.

Antônio Nóbrega, Revista Caros Amigos, Janeiro de 2004.





Já vociferei psicologicamente coisas do tipo: “ Seria muito mais interessante ir pela contramão da História Ocidental européia”. Pelo oposto do tronco cultural que recriou reminiscências de formação luso-espanholas, que ainda nos deforma como uma sub-civilização no Trópico. Estou falando de como tratamos os elementos básicos de nossa identidade. Ora, pois, identificamos códigos tão simplificados acerca do entendimento sobre diversificação musical ( como o rock, o rap e os ritmos eletronizados ) que não importamos do exterior mais que o necessário para os ouvidos, ou melhor, a mente. “Baratinado” estava a ler a entrevista do artista pernambucano Antônio Nóbrega, que há muitos anos vem fazendo um trabalho revitalizador às expressões populares do nordeste, inclusive com grande respaldo no exterior. Em seus estudos musicais, o Caboclinho, Cavalo Marinho, Frevo, Maracatu, Moçambique e a capoeira não são apenas “linguagens estéticas cartesianas”, com uma função unicamente primitivista do ponto de vista histórico. Seria fatídico enquadrar com tais expressões clássicas da Arte européia, essa versatilidade rítmica que é a embolada de Pernambuco, com suas notórias criações de trovadores de pandeiro e rima na ponta da língua. Como dizia o jornalista José Louzeiro, “nunca gostei das versões oficiais”, porque sempre carregam uma orientação ideológica a serviço de uma espécie que não sai do poder. Ela se personaliza como tal. Este é o dito Terceiro Estado – à margem da condição humana. Se as novas gerações tivessem oportunidades sociológicas menos glamourizadas pela “cervejarização” da mulher na TV, tendo como carro-chefe o desejo sexual nas vendagens da skolbussiness da moda, seríamos mais sensatos com nossa burrice. Eu particularmente acho desinteressante assistir 90% dos programas de televisão – por questões muito pessoais, admito – mas detecto uma pulverização das bases referenciais humanas. Longe de ser uma radicalização imprudente, sou muito sensato comigo, mas a analfabetização juvenil é um espelho de futuros medíocres que cultuarão sua marginalidade de espírito. Que Russeau me perdoe – o iluminismo para as sociedades contemporâneas têm sido um horror – não se fala em decomposição do regime há muito tempo. Bolchevismo e marxismo ainda são influências sérias na humanidade. Nossa rica cultura popular é um grande dicionário de resistências e costumes. Pessoas que cantam, dançam, interpretam e, claro, tocam algum instrumento, são mais saudáveis, o que vale dizer começar um pesquisa individual de Arte. Apenas ouvir, sem criticidade acerca do que se produz, julgando isso uma forma de apreciação intelectual, pode ser perigoso. Isto se deve em diferentes níveis psíquicos: leitura, visual, indumental e auditiva. A cultura popular agrega uma linguagem universal, que independe dos mecanismos da indústria cultural. Ela por si mesma, é antiga, atual, “velha”( como prefere a maioria ), consistente e criadora. Foi reinventada com a rabeca nas origens do violino ibérico Stradivarius, mas não mesclou o ensino acadêmico – o que geraria uma deformação lingüística – em suas proposições, eis seu grande mérito. As ladainhas, cantos contemplativos das lavadeiras ribeirinhas ( seja no mar ou água doce ) nos enche de orgulho, pois muitas marchas camponesas neste país de latifúndios, foram protagonizadas com esses cantos em lutas históricas. Cultura Popular foi o que fez Antônio Conselheiro em sua sábia ignorância paternal católica, ao dizer que o sertão viraria mar no Arraial de Belo Monte, em Canudos. Rejeitou as rezas e prognósticos do Vaticano e seus fiéis, que apenas fugiam da miséria, foram degolados.



Ainda somos um continente indefinido, com estados federados antagônicos e promissores, culminando riqueza e miséria. Essas deformações sociais geraram povo de tamanha magnitude, que seus filhos passaram a adornar figuras antropomórficas e celebrar procissões ao céu. O Brasil produz a liturgia, o sincretismo elevado, principalmente nas regiões costeiras à beira-mar: ponto de apoio de portugueses, holandeses, turcos e orixás africanos. O atabaque vai nos salvar um dia, se quisermos. E toda a culinária árabe presente na Bahia não será catalogada por terminologias anglicistas em enciclopédias com traduções positivistas, como preferem nossos “estudiosos” do assunto. Analisemos o que diz o escritor e compositor Zeca Tocantins, em seu texto literário Pequeno ensaio sobre Cultura, Criação e Arte, ainda em fase de publicação:



“Dizer que tudo é cultura é construir o caos. Sempre haverá uma Cultura predominante em cada cidadão, em cada comunidade, e cada aspecto diferenciado impulsiona sentimentos também diferentes. A Cultura de Mercado, por exemplo, é propicia a projetar no cidadão o lado vaidoso, a ambição, desejo insaciável de dinheiro, porque esses elementos são partes fundamentais dessa cultura. Na Cultura Popular, você encontrará o cidadão com os olhos voltados aos valores de sua terra, buscando identificar os elementos que constituem a base de sua comunidade. Podemos observar que essas vivências trazem embutidos valores totalmente diferenciados e que são fundamentais na formação do cidadão”. pp-36.



Zeca perfila no grande dilema: Identidade Cultural, com os paradoxos Cultura de Mercado e Popular. Sem dúvida, numa sociedade onde o capitalismo inevitavelmente mercantiliza todas as possibilidades humanas de ação, o dinheiro torna-se o vínculo maior na representação de valores sociais e culturais. E, levando em conta que nossas instituições educacionais são traços marcantes de escolas européias, a relação de poder entre “instruídos” e “ignorantes”, com demarcações antropológicas ‘definidas’ ( povos autóctones, residentes iniciais e tecnologia diferenciada ) pela ideologia ocidental crônica do país, considerando que a multifacetada fusão étnica é motivo de desagravo. Absurdo pensar assim, sentir-se superior com um diploma, o que muitas vezes nos tornaria mais desinteligentes. Mas essa equivocada mentalidade remonta o Brasil Colonial, cousa que não se desestrutura do dia para a noite.



Resumindo, eu gosto de falar das coisas boas de meu país, aliás, tenho uma fé inabalável nele. É importante frisar os novos pesquisadores da Cultura Brasileira, pessoas que se destacam na mídia especializada levando suas referências artísticas. Criadores como Vanessa da Mata, Marina Machado, Ceumar, Zeca Baleiro, Chico César, Seu Jorge, Naná Vasconcelos, Tetê Espíndola, Mestre Ambrósio, Trio Bonsai, Maíra, etc.



Essas figuras têm mostrado um Brasil diferente das empreitadas jabalescas na indústria fonográfica brasileira. Ricas expressões explodem a todo momento, digo que seja inevitável controlá-las. Oxalá nos ilumine!





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