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Artigos-->Acima de tudo, um homem bom -- 26/11/2005 - 03:22 (Alkiria Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Acima de tudo, um homem bom

Gilson Gondim





Pedro Gondim foi um homem competente, exceto para gerir suas próprias finanças (passou quase toda a vida no vermelho). Foi um grande governador da Paraíba, tendo feito um governo desenvolvimentista e modernizante. Eletrificou 69 municípios, criou os distritos industriais de João Pessoa e Campina Grande, implantou o Plano Estadual de Estradas de Rodagem, dotou o Estado de uma estrutura de planejamento ate então inexistente, construiu os primeiros colégios estaduais fora de João Pessoa e Campina Grande, realizou concursos públicos (prática rara na época) e assim por diante.

Pedro Gondim foi um homem esclarecido. NO poder e fora dele, esteve com freqüência cercado de artistas e intelectuais. Poeta, escrevia bem e falava melhor ainda. Executou uma política cultural que marcou época. Nunca houve em nosso estado, antes ou depois de Pedro, nada comparável ao Plano de Extensão Cultural, que promoveu uma imensa circulação de bens culturais, de fora para dentro, de dentro para for e entre regiões da Paraíba. O ponto mais marcante do Plano foi uma memorável excursão, por vários municípios paraibanos, do célebre Teatro de Arena, grupo paulistano que revolucionou o teatro brasileiro, tanto estética quanto politicamente.

Pedro Gondim foi um homem carismático. Bonito e elegante, inclusive na velhice, caloroso e extremamente simpático, tinha uma presença luminosa, uma presença que iluminava qualquer ambiente aonde fosse.

Pedro Gondim foi um homem honesto. Governou a Paraíba por sete anos e três meses, e, ao término do segundo mandato, não tinha uma casa para morar. Tentou construir uma, não teve dinheiro para concluí-la e teve de vendê-la. Chegamos a morar na casa inconclusa, com o chão de cimento. Deputado federal, dirigia um DKW velho (pronunciava-se “decavê”) pelas ruas de Brasília. Eu era criança na época, mas me lembro muito bem do carrinho azul celeste, em que íamos à noite olhar a fonte luminosa. Certa vez, não encontrou o carro onde pensava que pusera e chamou a polícia. Um deputado amigo disse: “Ô Pedro, com tanto carro bacana em Brasília, iam roubar logo teu DKW?” Dito e feito: o carro não tinha sido roubado; ele o havia estacionado em outro lugar. Vê-se que foi também um homem distraído. Cassado pelo regime militar, perdeu o mandato de deputado, o emprego de professor da UFPb e procurador do Estado. Como não tinha reservas, ficou sem dinheiro para fazer a feira. Até reorganizar-se como advogado, precisou da ajuda dos verdadeiros amigos. No seu primeiro discurso em praça pública após a anistia, deu os nomes de todos que nos ajudaram, um a um. Um deles estava na platéia e chorou.

Pedro Gondim foi tudo isso e mais que isso. Mas foi, sobretudo, um homem bom, generoso, de coração largo, sempre disposto a ajudar. Tratava com igual simpatia os poderosos e os humildes. No poder ou fora dele, tratava todo mundo do mesmo jeito, falava com todos efusivamente, nunca se pôs num pedestal. Sempre teve consciência da precariedade e da transitoriedade do poder. Teve todos os motivos para deslumbrar-se e nunca se deslumbrou. Isso talvez explique porque conseguiu se adaptar tão bem à condição de proscrito. Reabriu seu escritório de advocacia e passou a se dedicar a hobbies como a jardinagem. Quem fosse de manhã cedo à nossa casa encontraria meu pai cavando a terra, plantando roseiras, regando as plantas, sempre acompanhado pelo cocker spaniel Zorba, que era meu, mas alucinado por ele, que tinha um jeito todo especial com os cães, do mesmo modo que o tinha com as pessoas. Quando governador, tratara os funcionários públicos com o mesmo carinho com que cuidava das roseiras do seu jardim. Equiparou os inativos aos funcionários da ativa, implantou planos de carreira, concedeu vultosos reajustes salariais. Era amado pelos servidores que conheceram seu governo. Foi, em resumo, uma figura humana mito especial. Deixa saudades, imensas saudades.



(texto publicado no Jornal da Paraíba em 30 de julho de 2005 e distribuído na Missa de 7º. Dia)



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