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Artigos-->REAPRENDER A OLHAR -- 24/11/2005 - 19:51 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


REAPRENDER A OLHAR

PARA VER E PENSAR

João Ferreira

24 de novembro de 2005



“Zuruck zu den Sachen selbst” – “Voltar às próprias coisas”. Princípio famoso do filósofo Edmund Husserl (1859-1938), fundador da Fenomenologia enquanto teoria filosófica.





Muito nos podem ensinar a releitura e a revisão de algumas teorias que a História da Filosofia consagrou como teorias fundadoras e clássicas. Uma delas é certamente a teoria fenomenológica que nos remete aos princípios e à primeira instância da Fenomenologia, apontando-nos um caminho iniciático que consiste no simples retorno às coisas: zuruck zu den Sachen selbst, para usarmos as próprias palavras de Husserl.

Mas pode chegar mais longe a aplicação deste princípio teórico fundador. Muito longe mesmo. Com ele podemos voltar a olhar as coisas por outro ângulo e com isso sermos levados a rever nossos próprios conceitos de mundo, das coisas, de nossas ideologias e de nossos lugares comuns. Voltando a olhar as coisas na origem, podemos ver se estamos ou não contaminados pela rotina do dizer, do ouvir dizer e do fazer já estatuído. Voltando a ver as coisas na origem e a acreditar nelas quando elas mesmas se refletem nos conteúdos de nossa consciência, poderemos com isso começar a construir nossa própria idéia crítica, a partir de uma experiência própria. Isso faz a diferença de quando repetimos idéias simplesmente transmitidas ou impostas pelos outros. Voltar a olhar as coisas em sua mensagem original refletida na nossa consciência dá-nos aquela ousadia de que necessitamos para elaborar nosso próprio conceito sobre os fatos e as coisas. Isto é bom em todos os sentidos. A partir daqui começamos a ser gente. Deixamos de ser rebanho. E passamos a construir nossa própria mundividência, nossa visão de mundo. A partir daqui passamos a elaborar nossas proposições filosóficas, nossas teorias sociais e nossa ideologia política. Após isso, teremos nossa legitimidade de pensamento e nossos adversários nos respeitarão. Não seremos massa de manobra política nem animais de curral. Seremos gente que olha, pensa e age. A coisa é tão importante, que vencida esta etapa, seremos mais que membros de um partido, mais que cidadãos de segunda classe, mais do que trabalhadores de ficha limpa. A partir daqui, com nossa visão realinhada, todo o nosso processo mental baseado nas origens está preparado para questionar os principais problemas da vida humana. Nesse questionamento, as coisas serão vistas com outra exigência. Possuídos por uma nova consciência não iremos apenas reler páginas de algum livro ou revista para sabermos do Brasil. Nosso princípio será o de “voltarmos ao próprio objeto”. Questionando-o. Nesta dinâmica conceptual, vamos sondar e questionar o que o Brasil nos diz de novo. Vamos sondar e questionar o que a vida política nos diz de novo. Tudo dentro de uma reformulação original. E por aí adiante. Vamos sondar o que a vida social nos diz de novo, o que a nossa participação nos diz de novo. Etc. Por outras palavras, a partir do momento em que voltamos de olhos limpos a ver de novo as coisas, com segurança e independência, novas mensagens aparecerão. Isto no plano pessoal do pensamento, da atitude perante a vida, no plano político, religioso, profissional. Uma nova luz, quando vem dentro, ilumina tudo. Este princípio de Husserl, de base filosófica, é um bom convite para pararmos um pouco, para arejarmos nossos neurônios cansados, e rever nosso mundo conceitual já bastante contaminado. Dar um tempo, como dizemos em bom português do Brasil, e recomeçarmos em novo ritmo..

Entrar nesta iniciação, seria essencialmente isto. Limpar os olhos e voltar a olhar as coisas. Com simplicidade. É como se nos candidatássemos a assumir de novo a condição de alunos que querem compreender melhor as coisas e o mundo. Quando alguém chega aqui e decide fazer algo como primeiro passo, pára um pouco. Observa. Vê como acontecem os fenômenos. Aí sim, começa um novo pensamento, uma nova atitude e depois uma nova caminhada, uma nova jornada. Porque na observação, todo o ser inteligente vai perceber que antes das teorias e das sínteses, o ser humano passa pela experiência dos dados que lhe são mostrados na dinâmica de sua própria consciência.

O regresso às coisas, será esta experiência. Talvez uma experiência deslumbrante, iniciadora, renovadora. Uma experiência necessária para as pessoas saturadas no seu dia a dia, no seu quotidiano, na sua vida rotineira. As coisas têm uma alma. Uma manifestação. Uma mensagem. Uma ou muitas luzes. Elas nos iluminam. As coisas nos revelam a nós próprios. As coisas nos inspiram. As coisas nos dizem coisas. Se a cada hora regressarmos a colher a lição das coisas, recomeçaremos com alma nova a maratona da nossa grande caminhada pelos signos, pelas vivências, pela palavra, pela ação, pela determinação. Depois do retorno às coisas (zuruck zu den Sachen selbst, talvez recomecemos a viver e a pensar de outra maneira, projetados e reiniciados num novo estilo de vida. Este retorno às coisas é um jogo de suspensão, é uma caminhada em direção à essência das coisas, antes que o mundo recomece para nós, na demanda de uma consciência iluminada.

Através de uma frase sintética, posteriormente famosa, Husserl, deu a sentença. Há que retornar às coisas: zuruck zu den Sachen selbst.

Voltar às próprias coisas, voltar a reaprender a olhar, a ver e colher nelas a legitimidade de um pensamento novo, de uma teoria, de uma visão de mundo, pode ser uma boa novidade no nosso quotidiano social e político, onde tantas vezes a socialite nos escolhe para servirmos apenas de capachos para os desígnios dos mais espertos. Temos de dar um basta. Podemos alcançar isso, buscando nossa maneira pessoal de compreender e entender o mundo, a partir de nós mesmos. O sentido da proposta de Husserl, originariamente filosófica, tem também esta abrangência existencial e humana. Volte às coisas e aprenda com elas sua própria maneira de se comportar no mundo.

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