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Artigos-->O PREÇO DOS LIVROS -- 21/11/2005 - 10:33 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A última página do caderno Book Review duma edição recente do New York Times era inteiramente o ocupada por um anúncio de venda de livros.



Anunciar venda de livros no Book Review é comum e faz sentido. O que não era muito comum e parecia não fazer muito sentido era o preço dos livros anunciados que ia de 28 mil dólares a mil e duzentos dólares, por livro. Um Call of the Wild de Jack London por 13.500 dólares, um Hound of the Baskervilles de Conon Doyle, por 4.600 dólares, e por aí fora.



É claro que os preços eram inteiramente justificados pela raridade dos livros anunciados ou pela sua antiguidade. Havia um do século XV de Santo Agostinho e outro John Dos Passos assinado pelo autor...



Vem isto a propósito duma conversa de férias sobre um novo conceito de livro, o livro digital. Foi uma conversa muito engraçada que os anúncios do Book Review evocaram à minha velha e estafada memória, como se tudo se tivesse passado ontem, à tarde.



Quando estive nas Flores, o verão passado, precisei de consultar a Antologia Poética dos Açores de Ruy Galvão de Carvalho. Procurei a obra nas bibliotecas municipais, mas o acesso à de Santa Cruz estava temporariamente interrompido. O edifício onde se encontrava instalada, na Rua da Conceição, à Praça Roberto de Mesquita, tinha sido demolido, os livros tinham sido transferidos para a Rua Senador André Freitas e as novas instalações ainda não estavam abertas ao público.



Fui às Lajes. E foi lá, na biblioteca municipal, que aconteceu esta conversa engraçada que a leitura do Book Review evocou e eu quero partilhar com os meus sobrinhos.

A Biblioteca Municipal das Lajes não tinha a Antologia Poética dos Açores, o que, no fim, não me surpreendeu, dada a exiguidade do número de obras ali existentes, mas também não tinha catálogo, nem em ficheiro, nem informatizado, de maneira que foi preciso fazer uma busca aturada, antes de nos convencermos da inexistência da obra..



A pessoa que me ajudava estava convencida de que o livro existia, e só podia ter sido colocado na prateleira errada. E assim eu, pela muita necessidade que tinha de consultar a Antologia e ele, movido por imensa simpatia e paciência, fomos passando a pente fino cada uma das estantes.



Enquanto procurávamos íamos conversando. Falámos de bibliotecas, de ficheiros, de bibliotecas digitais e das facilidades de acesso que a tecnologia moderna nos proporcionava. Foi-me dizendo o simpático funcionário que havia realmente um catálogo informatizado, mas que o computador tinha emperrado e o programa deixara de funcionar... Eu que nunca gostei de computadores aproveitei para dizer da desconfiança que aqueles caixotes mágicos sempre me inspiraram.



– Não há nada como o livro, o livro real – dizia eu – o livro de papel. Esses programas nos computadores são uma ilusão. Faz-se um programa e arruma-se lá um monte de livros sem gastar uma folha de papel. O acesso é instantâneo e universal. Óptimo. Mas avaria-se o programa e pronto – vai-se tudo ao ar. Os livros duram gerações e podem ser recopiados. Não tem fim. Por alguma razão a literatura é de todas as formas de arte a que mais e melhor dura. A pintura, a escultura, a música... do tempo de Homero perderam-se. A Ilíada e a Odisseia estão aí à disposição de quem quiser lê-las, com a mesma frescura com que saíram da mente do seu genial criador.



O meu interlocutor achava que não. Para ele o livro era uma velharia, quando muito artigo de museu. Passé, pronto. Ele estava pessoalmente envolvido em investigação histórica e era nas bibliotecas digitais que encontrava a mais abundante e acessível informação. E eu não fui capaz de o convencer da razão das minhas razões.



Quando vi os anúncios no Book Review, estive para os recortar e para os mandar ao meu argumentativo amigo, com uma notinha que dissesse somente:



-Vê, vê? Eu bem lhe disse que o livro, o livro de papel, era o mais duradouro meio de preservar a criatividade humana.



Mas acabei por não mandar coisa nenhuma. E se calhar foi melhor assim. Estou mesmo a ouvi-lo retrucar-me que os meus anúncios apenas provavam que o livro, o livro de papel, especialmente o livro de 28 mil dólares, é muito mais peça de museu, do que meio de informação...

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