As armas e os barões assinalados
Sem à dita de Aquiles ter inveja
De princípio ao fim Deus o proteja
Mestre... Entre tempestades e maus fados.
Os meus deuses estão determinados
E satisfazem-me em contentamento
Pela Poesia e o Movimento
Que herdei de poetas afamados.
O mundo roda e os afortunados
Sorriem de pena à indigência
Como se os dentes tivessem ciência
Para evitar a fome aos desgraçados.
A nossa luta desfeita em mil bocados
Mestre... Tem e terá o esplendor
Daqueles que pelejam e de amor
Se entregam ao destino irmanados.
Do pior ao melhor foram mostrados
Como vão de moral os sentimentos
Da marinhagem em face dos tormentos
Que o mar do verbo pôs aos descuidados.
Mestre... Os motins enfim dominados
Se porventura existe algum talento
Que doravante sensatos no alento
Logremos rumos bem mais inspirados.
Já se conhece dentre os embarcados
Quem de fogo nos ilumina o convés
E todos debruçados a seus pés
Mestre... Pedimos mais luz em seus recados.
A arder de anseio iluminados
Teimamos na imensa descoberta
Da ilha feliz que aguarde aberta
E nos acolha os sonhos naufragados.
A nau aqui onde somos soldados
Tem quilha em horizonte sempre avante
Mestre... E nenhum de nós é navegante
Que se conte algures nos regressados.
Sigamos pois em frente confiados
Aos ventos da língua que peleja
As armas e os barões assinalados
Sem à dita de Aquiles ter inveja!
Inicio e termino este cordel com o primeiro e último dos versos de "Os Lusíadas". Como já lá vão mais de cinco séculos e meio, esquecemos que a obra é um magnífico cordel produzido por um rico desgraçado.
Do Porto - Portugal
À mesa do Café Novo
Para todos os usinais navegantes sem excepção.