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Artigos-->BUSH E CHÁVEZ, O VACILANTE E O ATREVIDO -- 10/11/2005 - 22:26 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BUSH E CHÁVEZ, O VACILANTE E O ATREVIDO

Vitor Gomes Pinto

Escritor, analista internacional e autor do livro Guerra en los Andes





Conta-se que Hugo Chávez foi perguntar a Fidel o que seria necessário para permanecer no poder e a resposta foi: dinheiro e programas de assistência aos mais pobres, pois estes são seguros, baratos e fáceis de fazer. Enquanto isso, um líder da oposição perguntava a George W. Bush o que seria necessário para tirar Chávez do poder e ouviu: dinheiro e isolamento. Até aqui, os conselhos do velho timoneiro cubano é que estão dando certo. É verdade que os venezuelanos estão mais pobres e não conseguem ver a cor dos dólares do petróleo, mas as chamadas missões sociais cativam as classes D e E. Estas, junto com os funcionários públicos, que receberam bons aumentos e são dirigidos com mão firme por militantes do Movimento V República, representam pouco mais de 30% do total de votantes, ultimamente o suficiente para assegurar vitórias cada vez mais tranqüilas ao governo em plebiscitos e eleições nas quais são praticamente os únicos a comparecer (votar na Venezuela não é obrigatório e opositores e neutros, desiludidos, preferem ficar em casa).

Na América Latina a costumeira escassez de recursos e a ausência de líderes antiimperialismo, por surrada que esta palavra seja, operaram o milagre de fazer com que um comandante de médio escalão (Chávez, quando deu o fracassado golpe em 93, bombardeando o palácio de Miraflores para derrubar Carlos Andrés Pérez, era um desconhecido coronel pára-quedista) se transformasse no novo ícone da esquerda continental. Desde sua eleição em 99 o preço do barril de petróleo multiplicou-se por 8 (de US$ 8 para US$ 64) fazendo com que o antigo sonho da Grande Venezuela o contagiasse. Tentativas anteriores conduziram o país à bancarrota, como na fase da “Venezuela saudita” de 1973 a 1984 quando chegou a ser criado um Sistema Econômico Latino-Americano junto com o México e adesão de 23 países. Agora, o cenário parece ser um pouco mais seguro: a Venezuela é 9ª no mundo em reservas (o campo de Bolívar é o 4º, após Ghawar na A. Saudita, Burgan no Kuwait e Cantarell no México) e em produção de petróleo, além de ser o 5º país exportador. A Petróleos da Venezuela, PDVSA, só é superada por duas companhias, a Saudi Arabia Oil Co. e a Petroleos Mexicanos. O que é feito com o dinheiro? Miguel Sanmartín, colunista do El Universal de Caracas, estimou em 10 bilhões de dólares anuais os gastos de Chávez em projetos de outros países, acusando-o de, com isso, “comprar adesões e respaldo de governos ditos amigos, beneficiados com polpudos negócios, enquanto na Venezuela crescem a miséria, o desemprego, a escassez de produtos básicos, a insegurança e colapsam os serviços regulares de saúde e educação”.

O insucesso das estratégias norte-americanas em alguns países da região levou Bush a tentar uma mudança. Condoleezza Rice, a poderosa Secretária do Departamento de Estado, demitiu Roger Noriega do influente posto de Secretário Assistente para Negócios do Hemisfério Ocidental depois que em seus estridentes discursos não conseguiu evitar quedas violentas dos presidentes do Haiti, Bolívia e Equador, nem a eleição da atual onda de presidentes esquerdistas no sul. Nomeou para seu lugar não um latino nem mais um representante da linha dura republicana, e sim um diplomata de carreira, Thomas Shannon Jr., especialista em política andina que entre muitos postos exercidos nos últimos 21 anos já serviu no Brasil (foi Assistente Especial da Embaixada em Brasília de 1989 a 1992) e se orgulha de ser “um diplomata coberto da poeira das estradas”. Ao ser sabatinado no Congresso, Shannon, que comanda um staff de 8000 empregados e 79 agências diplomáticas com um orçamento de US$ 200 milhões/ano, fez questão de dizer que não considera Chávez como um mero fanfarrão. Diante da pergunta do senador democrata Bill Nelson se poderia reparar o relacionamento com a Venezuela replicou: Sir, as in so much, this depends on Hugo Chávez (de qualquer maneira, isso depende dele). Quanto às importações de petróleo venezuelano, acha que só serão substituídas a médio prazo. O país consome 22 milhões de barris/dia; 13,2 milhões dos quais são importados, sendo 13% da Venezuela. Além disso a CITGO (comprada em 1991 pela PDVSA), é uma das dez maiores refinadoras de óleo nos Estados Unidos onde tem uma rede de 14 mil postos de gasolina, o que levou um outro senador a comentar que, nos EUA, Chávez vende petróleo para ele mesmo. Essa ampla rede é uma das duas razões pela qual Bush permanece indeciso sobre como agir diante do fenômeno Chávez. Fosse ele um irrelevante fornecedor de commodities fácil seria arrasá-lo. A segunda razão é a rejeição crescente à ocupação do Iraque e o mau acolhimento aos últimos giros de Condoleezza e do Secretário de Defesa, Ronald Rumsfeld, pela América Latina, quando tentaram isolar a Venezuela. A sustentação ao governo de Uribe na Colômbia e o Acordo de Livre Comércio a ser assinado com este país, o Equador e o Peru, não parecem ser suficientes para barrar a força do petróleo caribenho, a não ser que o Pentágono se decida a derramar dólares na área, o que (à exceção do Plano Colômbia) não fez até hoje. O agigantamento de um caudilho como Chávez é, em grande parte, fruto da baixa prioridade a que tem sido relegada a A. Latina desde o começo do governo Bush, cujas atenções ficaram concentradas no óleo e nos terroristas do Oriente Médio.

Repetir 1903 é impossível. Então, diante de outra falência venezuelana no governo de Antonio Guzmán - sempre devida a farras anteriores com o encarecimento temporário do petróleo -, o pagamento de dívidas às grandes empresas anglo-germânicas foi suspenso, resultando no bombardeamento do porto de Caracas. Se a violência não resolve, resta a Bush o caminho árduo da negociação, desde que consiga conter seus radicais, como o reverendo batista Pat Robertson que em seu programa de TV “700 Club” ao desejar o assassinato de Hugo Chávez prestou-lhe um favor que Shannon custará a compensar.

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