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Artigos-->CULTURA E PRECONCEITO -- 08/11/2005 - 22:14 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CULTURA E PRECONCEITO



Francisco Miguel de Moura*



O “Dia da Cultura” é comemorado, no Brasil, a 5 de novembro de cada ano, data escolhida porque assinala o nascimento de Rui Barbosa (Salvador, BA, 5-11-1849), um dos homens de mais erudição do século XX. Em Teresina, enquanto nos outros anos, havia também manifestações culturais chamadas clássicas, neste dia, houve mais apresentações teatrais, musicais, cantores, danças, folclore etc. conforme noticiaram os jornais, que se enquadrariam melhor na área popular. O Prof. Paulo Nunes, que várias vezes tem retomado essa discussão do popular versus erudito, firma-se peremptoriamente contra a separação da cultura em popular e clássica. Cita Miguel Cervantes (1547-1616) e seu famosíssimo D. Quixote, cuja primeira edição é de 1605, completando agora 400 anos, e está mais vivo do que quando saiu, demarcando o fim do ciclo de romances de cavalaria para dar início ao que chamamos de romance moderno. Ora, D. Quixote é uma obra eminentemente popular, embora escrita numa linguagem e num estilo de excelente qualidade, de forma que nele se juntam o erudito e o popular, tornando-se assim o mais famoso romance da literatura ocidental.

Para apresentar um exemplo de casa, eu mesmo acabo de escrever, e será lançada ainda este ano, a obra “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”, sobre meu pai, onde recupero boa parte dos cordéis e romances populares que ele produziu em sextilhas, como todos os repentistas e violeiros. O livro-biografia tem feição de literatura clássica, até prova em contrário. Mas toda a matéria versa sobre o que Miguel Guarani cantou de improviso, ou escreveu. Lembro aqui um poeta erudito, Cid T. Abreu, de saudosa memória, que escreveu cordéis; lembro Domingos Fonseca, o rei dos cantadores, que escreveu poesia considerada erudita; e mais, Torquato Neto, que está em “Literatura do Piauí” como participante das duas correntes (pois compositor da música popular brasileira), além de João Francisco Ferry e R. Petit. Mostro que a literatura do Piauí tem um forte apelo popular, onde bebe a linfa da terra. Entendo que cultura é tudo o que o homem, faz, fala, canta, escreve, cultiva expressando o pensamento, as emoções, a vida e as dores do mundo acumuladas em séculos. Hoje ciências são apenas as exatas: matemática, biologia, astronomia, medicina, etc.etc. Fora dessa área, o saber é classificado como ciências humanas, tais são filosofia, psicologia, as artes, aí as letras... Já as magias, supertições, crendices, religiões, preceitos morais... cabem ao terreno da religião. Mas a ciência foi se multipartindo; matemática virou álgebra, geometria, aritmética, por exemplo. As artes são sete ou oito, nelas estão a literatura, tudo que está ou pode ir para a letra. Outrora os tratados de medicina, lendas, religiões, costumes, guerras, a história eram escritos em versos como a Bíblia, a Ilíada e a Odisséia. Depois, tudo foi se bipartindo, tripartindo, até chegarmos à literatura específica, por exemplo, e às outras artes. Daí a idéia de separação da literatura da classe culta daquela feita pelo povo. Essa divisão remete à estratificação da sociedade, que foi acontecendo através dos séculos. Mas, com a globalização real que acontecerá certamente, dentro de pouco tempo, a população pobre tornar-se-á cada vez mais alfabetizada e consciente, entranhar-se-á na classe média de jeito a tornar-se apenas uma, pela informação, o intercâmbio entre os saberes e o desejo de imitar a classe mais alta. Portanto, não tem sentido a divisão entre literatura popular e erudita. Seria preconceito e discriminação inaceitáveis.



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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí.

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