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Artigos-->DEPOIMENTO NECESSÁRIO -- 03/11/2005 - 06:01 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Carta aos leitores de “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”



DEPOIMENTO NECESSÁRIO



Francisco Miguel de Moura*



Certa vez, alguém me disse em público que eu só sabia ler e escrever. Não é verdade. Não gostei do “só”. E como este é um documento público, embora que de menor alcance em pouco tempo, preciso explicar isto um pouco mais. Sei ler e escrever, sim. Mas sou uma pessoa vivida – nasci em 16 de junho de 1933, no povoado Jenipapeiro, cidadão franciscossantense e picoense ao mesmo tempo – e aprendi a fazer muitas coisas, nem todas de muita utilidade. Assim, sou um anti-utilitarista. Hoje só leio e escrevo porque acho o mais importante para um aposentado. Mas trabalhei na roça, fui mestre-escola como meu pai, Miguel Guarani, fui comerciário (naquele tempo, caixeiro de loja ou de armazém) e muitas pessoas de Jenipapeiro e Santo Antônio sabem quanto eu fui competente na última atividade. O primeiro patrão, em Santo Antônio foi Pascoal Silva; o segundo – Isaac Batista de Carvalho, também em Santo Antônio; e o terceiro, já em Jenipapeiro – Areolino Joaquim da Silva, os dois últimos já falecidos. Quando deixei seus estabelecimentos comerciais – o segundo, para ir trabalhar em Jenipapeiro e o terceiro, para ir embora pra Picos – ficaram tristes por algum tempo, o último praticamente chorando tanto quanto eu, por causa do meu sentimentalismo. Mas a vida me chamava. Sebastião Nobre, Francisco Almeida e Manoel Paschoal, os três Guimarães, com os quais trabalhara no serviço de demarcação, me colocaram em contato com um parente em Picos, seu Abraão Conrado, de saudosa memória, e daí fiquei na cidade trabalhando e estudando. Trabalhei em Cartório, fui Escrivão de Polícia. O Cap. Romão era o Delegado e me delegava poderes para resolver muitas questões, além de ter sido um bom datilógrafo, formado na Escola de Datilografia de Elpídio Pereira Bezerra, a quem muito tenho que agradecer também, pelos seus ensinamentos. Tornei-me bancário do Banco do Brasil, em 1957, por concurso duas vezes, a primeira em Picos, a segunda em Fortaleza. Exerci no Banco do Brasil as funções de Investigador de Cadastro, Ajudante de Serviço, Chefe de Serviço e, interinamente, Subgerente. Só não fiz trabalhos que não me convinham moralmente, embora alguns chefes insistissem. Fiz o que sabia e o que devia. Sempre soube até onde vai minha inteligência e meus deveres sociais e éticos, por isto nunca tentei botar a mão onde não alcanço nem dar passadas de sete léguas. Funcionalmente nunca recebi uma reprimenda, nunca minha ficha foi manchada com uma falta. Os gerentes com quem trabalhei gostavam de mim e eu deles, com apenas uma exceção. Fora do Banco desenvolvia outras pequenas atividades tais como estudar (fiz o Curso de Letras) e lecionar em colégios do Estado. Depois troquei a sala de aula por um programa de rádio, na Clube de Teresina. Foram 26 anos batidos de bancário, 2 de escrivão na Polícia, 4 de comerciário, totalizando 32 anos até me aposentar, sem falar num tempinho que trabalhei nas “Casas Pernambucanas”. Aprendi com minha mãe, Josefa Maria de Sousa (Zefa de Miguel), a fazer cofo, surrão, vassoura, abanador, esteira, chapéu, algumas comidas, etc. ainda muito criança, do esqueci quase tudo; e com meu pai, Miguel Borges de Moura (Guarani), a ler, escrever e contar – o mais importante para minha vida profissional, e aprendi a pescar, sobretudo boas amizades. Aprendi a obedecer e, sobretudo, ouvir os mais velhos, os que tinham mais experiência – eram eles nossa televisão e internete. Aprendi a perdoar e ser humilde, jamais a ser humilhado. A escolha com liberdade e a opinião responsável foram e são importantíssimas na minha formação e na minha vida pública e privada. Se mais não aprendi foi por falta de tempo e de inteligência. E esta Deus é quem dá, e da minha nunca me queixei.

Já perdoei todos os meus inimigos declarados ou não, sem esperar que algum venha a me pedir perdão. É que, comumente, as pessoas são muito orgulhosas e é preferível não melindrá-las no seu amor próprio.

Sou amigo da verdade e da sinceridade, nervoso, polêmico, às vezes explosivo, mas tudo não passa de um momento. Volto à razão, com a mesma rapidez e intensidade de antes. Quem guarda velharias é museu. Eu só guardo as boas coisas: lembranças, saudades e o amor de quem mo dedica e ao qual correspondo.

“Sou pequeno, pobre, feio e moro longe”, mas não chorem por mim. Sou poeta e amo até sem ser amado, quando poucos têm a honra de assim ser e fazer. Já publiquei 23 livros, metade deles de poesia, a outra metade de prosa. Minha estréia se deu com “Areias, (Teresina, 1966). Daí por diante não parei mais, passando para tantos outros, tais como “...E a vida se fez crônica”“, Ternura” e “Laços de Poder”. Os mais recentes são “Sonetos Escolhidos” (Rio de Janeiro, 2003), e “Os Estigmas” (Teresina, 2004), sem contar este “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro” – uma prova de amor a meu pai, a minha mãe, a minha família, a meus parentes de Jenipapeiro e à própria terra onde nasci. Quem não ama sua terra e sua gente não ama ninguém, nem a si próprio. E eu me amo. Sou escritor e poeta dos bons, dizem os críticos; e não tenho inveja nem faço inveja a ninguém, porque não me sinto o maior nem o menor. “Jamais me sentiria feliz se, em o sendo, pudesse tornar os outros invejosos”, frase lapidar de Ascendino Leite. E eu a estou repetindo com ele.

Á pequena turma do contra, por isto ou por aquilo, ofereço como lembrança o “poeminha” de Mário Quintana: “Todos esses que estão aí / atravancando meu caminho, / eles passarão... / Eu passarinho”. Não faz mal a ninguém. Sem guardar mágoas nem ressentimentos, sem nada esconder de mim ou dos outros, falo tudo (escrevo) e sou feliz, passarinhando... Graças a Deus. Assim seja.



_________________

* Francisco Miguel de Moura é o autor de “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”.

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