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Artigos-->A sexualidade do dinheiro -- 01/11/2005 - 13:28 (Janete Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A sexualidade do dinheiro

Vida financeira pode ser chave para entender nossa personalidade



POR OSCAR PILAGALLO





A psicanálise freudiana dá grande ênfase à análise da infância do paciente como meio de identificar patologias mentais. Os primeiros anos de vida, porém, não são a única fonte de luz a iluminar os recantos sombrios de nossa personalidade. O dinheiro é igualmente importante, defende o psicólogo junguiano Axel Capriles. "A exploração da vida financeira de um paciente é tão necessária quanto a análise da infância", escreve ele no recém-lançado Dinheiro - sanidade ou loucura?.



Empresário e intelectual, Capriles se relaciona com o dinheiro de maneira prática e abstrata. O título do livro no original em espanhol é "o complexo do dinheiro", algo que substituiu o papel que a sexualidade desempenhava na psicologia de Freud. "Há muito mais loucuras e doenças associadas ao dinheiro do que ao sexo ou a qualquer outro componente mental."



Na trilha aberta por Jung, o autor trabalha com a perspectiva de que a doença mental e a loucura nada mais são do que manifestações extremas da matriz de problemas vitais que, no íntimo, todos enfrentamos. As taras monetárias, como a avareza e a compulsão em gastar, podem se manifestar em pessoas consideradas normais. Tudo é uma questão de gradação.



A avareza tem sido a patologia monetária mais estudada. O que intriga no avarento é sua própria contradição: o rico que vive na pobreza. Capriles resume o ponto de vista da psicanálise ortodoxa: trata-se de um distúrbio no desenvolvimento psicossexual do indivíduo, uma fixação na fase anal. "A acumulação de dinheiro se converte, assim, no equivalente simbólico da retenção e do controle merecedores da aprovação familiar e social."



O autor, porém, sugere outra interpretação: a posse do dinheiro, como potencialidade e valor futuro, neutralizaria o risco de decepção associado a um objeto real, ou seja, o desejo se mantém no nível de possibilidade abstrata e, assim, faz com o que o indivíduo fique imune à desilusão.



Na outra ponta, a compulsão em gastar também é um uso emocional do dinheiro. O perdulário, mesmo sem saber, procura uma satisfação de natureza sensorial. Mas as engrenagens psicológicas podem ser mais complicadas. "Há casos em que o dinheiro gera sentimentos de culpa complexos e incontroláveis que obrigam inconscientemente as pessoas a se livrar dele."



A psicologia do dinheiro incide sobre todos os aspectos da vida, diz Capriles, e a identidade sexual não é exceção. Ele cita o escritor Naipaul, que, ao comentar a relação de dependência entre virilidade e dinheiro, observou que as chaves, por serem símbolo de propriedade, costumam ser exibidas pelo macho. Cita também uma psicóloga argentina, Clara Coria, para quem, numa sociedade patriarcal, o dinheiro aparece claramente sexuado, "e está associado à potência e à virilidade, convertendo-se quase em um indicador da identidade sexual masculina".



Capriles é venezuelano. Fosse brasileiro, talvez citasse Nelson Rodrigues: "O dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro".



Dessa perspectiva, o problema maior é não ter dinheiro, problema que tem o peso de um ataque à imagem sexual do homem, "experimentada intimamente como castração e despotencialização do ego". Daí, conclui Capriles, "o aumento das disfunções sexuais nos períodos de recessão".



Outro problema, tendo o homem posses, é seu dinheiro não ser importante para a mulher. Atavicamente, o macho é o provedor e nisso consistia seu atrativo sexual. "Na condição social contemporânea, em que os atrativos econômicos deixaram de ser uma atribuição exclusiva do homem, o machismo perdeu um de seus pilares de sustentação. Dilui-se uma das determinantes de atração entre os sexos."



É por tudo isso que, diz Capriles, o dinheiro é o caminho de entrada mais direto para as zonas escuras da personalidade. O livro é um farol para quem se aventurar.



Oscar Pilagallo é editor da revista EntreLivros

pilagallo@duettoeditorial.com.br



A OBRA:

Título: Dinheiro: sanidade ou loucura?

Autores: Axel Capriles

Editora Axis Mundi

189 págs / R$ 32

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