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Contos-->As noites são iguais aos dias. -- 14/03/2002 - 13:12 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É tão difícil começar a contar uma história quando esta história parece estar em todos lugares, dentro de quase todas pessoas, não por ser óbvia ou simples, mas por muitas vezes participarmos de coisas que se quer nos damos conta.
Muitas vezes nos perguntamos porque fazemos algo sem pensar, mas depois que está feito, não há como voltar atrás, nem Deus pode mudar o passado...
Assim aconteceu com Plínio, que como a maioria dos habitantes deste planeta não sabia o sentido da vida, para onde iria, nem o que iria comer no café da manhã.
Naqueles dias de fevereiro ou março a vida continuava corrida, difícil, doída mas tinha que ser vivida.
" A vida me parece uma sucessão de dias vazios que temos que preencher com trabalho, lazer, sonhos e egoísmo..."- assim pensava Plínio , sobre o que é viver.
Foi assim que aconteceu com Carmem, que tinha os pés no chão, apesar de querer voar:
" Somos prisioneiros de si mesmos e não há como fugir deste destino"- assim pensava Carmem, sobre como é viver.

Nós que desatam

A última vez que Plínio tinha visto Carmen já era noite, não havia muito a se dizer um para o outro, tudo tinha sido dito na discussão da noite passada, se olharam nos olhos sem dizer uma palavra.
"Ela parece ter chorado, talvez tenha se arrependido, mas agora também, já é tarde"
Carmen terminava de recolher seus últimos pertences, restavam apenas seus CDs , perfumes e algumas roupas, colocava tudo numa caixa só, tinha pressa, parecia incomodada com a presença de Plínio.
Da cozinha Plínio tentava disfarçar que também se sentia incomodado com a situação, esquentava a água para fazer um café, pensou em oferecer para Carmem assim que ficasse pronto, mas recuou.
"Aposto que ela tá levando todos aqueles CDs que tem nossas musicas, desde a primeira...mas tudo bem se ficassem eu jamais os escutaria de novo."
O café ficou pronto e Plínio tomava devagar, sentou na cadeira e olhou pela janela:
"Sabia a amiguinha tá lá esperando, aposto que deu a maior força para ela sair daqui. Essa Carol nunca me enganou me tratava bem pela frente mas aposto que me apunhalava pelas costas , espero que não seja lésbica, porque a Carmem odeia isso."
De repente notou que não havia mais barulho no quarto onde Carmem recolhia suas coisas e foi espiar e descobriu que ela já tinha partido, ela se quer bateu a porta, apenas a encostou, talvez ela não quisesse que ele a visse partindo.
Plínio então correu para a janela para vê-la ir embora, pode apenas ver Carol apanhando as coisas de Carmem e colocando-as no porta-malas do carro.


Dói mais em mim.

Carmem havia saído mais cedo aquela tarde do trabalho, precisava acabar de pegar suas coisas no apartamento que um dia foi o lugar mais seguro para ela e para o seu amor, não queria encontrar com Plínio para evitar constrangimentos e novas brigas.
Ao girar a chave na porta as lágrimas começaram a rolar e um medo tomou conta dela:
"Carmem para com isso, você precisa ser mais forte do que nunca, vai ser para o seu bem e para o bem dele! Não volte atrás mais uma vez, todas chances foram dadas."- pensava quase que brigando consigo mesma, como se houvesse uma outra Carmem ali.
Mas aquele apartamento parecia fazer parte dela, foram os momentos mais felizes e infelizes da sua vida, cada cantinho tinha uma história, o cheiro do apartamento não era dela, era deles. Nas paredes posters de fotos do casal abraçado, beijando, brigando, sorrindo , chorando.
"E se ele me pedir para ficar, se ele resolver mudar, uma história tão linda assim não poderia nunca acabar...Não, assim sozinha não possa agüentar tanta dor, preciso ligar para a Carol..."
A amiga chegou logo e encontrou Carmem com álbuns de fotos no colo, chorava muito:
"Carmem, por favor, seja forte, você vai conseguir sair dessa, não adianta ficar lembrando o passado, vocês já não eram mais felizes como nessas fotos.."
Aquelas palavras calaram fundo dentro de Carmem, era verdade, aquelas fotos eram apenas sombras, retratos de um tempo que não voltava mais.
As amigas então conversaram sobre tudo, sobre como aquilo era dolorido, como era difícil desatar os nós que juntavam aquela relação, mas que era preciso ser feito.
"Me deixa ficar só mais um pouquinho aqui, quero me despedir desse lugar"
"Mas promete que não vai mais chorar?"
"Ah Carol, você sabe que sou chorona, só quero dar uma ultima olhada em tudo, me certificar que nada ficou para trás..."
"Acho bom você andar logo, o Plínio daqui a pouco chega"
"Eu sei, vai ser rápido"
"Estou lá embaixo te esperando"
Assim que Carol virou as costas Carmem voltou a chorar, pensava em como iria viver daqui para frente, como Plínio iria se virar sem ela.
"Ele vai sentir minha falta, mais logo arruma uma vagabunda para ficar no meu lugar, tenho certeza disso"
Nem bem havia terminado esse pensamento escutou Plínio entrar, suas pernas bambearam, seu coração disparou, deu apenas para fitar ele nos olhos...
"Que olhos lindos ele tem, pena que não brilham mais como antes, não temos mais nada a dizer"
E baixou a cabeça, fingiu terminar de recolher as coisas, percebeu o desconforto de Plínio, quando viu que ele estava distraído na cozinha, pegou a caixa e saiu pé ante pé., deu apenas para pensar:
"Que Deus nos ajude"



Buscando um refugio

Aquela era a primeira noite do mais novo "solteiro" da cidade e as notícias se espalhavam rápido, parecia que todos amigos sumidos e afastados resolveram ligar de uma vez só:
“Fala mano velho, já tô sabendo que tu tá solitário de novo, vamos agitar umas baladas, sacudir a poeira. Lembra daquele velho e sábio ditado dos tempos do colégio? Mulher é igual biscoito, vai uma, voltam oito!”
Esse era o Dildo o mais antigo colega e parceiro das baladas, uma cara um tanto quanto “atrapalhado” e machista, mas que era engraçado e alto astral, enfim a companhia certa para quem acabou de ter uma rompimento, uma separação, pelo menos na visão do Plínio.
“Tô precisando ver gente nova, beber e relaxar, vai toda galera?"
"Calma lá mano velho. Tu tá querendo tudo ao mesmo tempo, uma coisa de cada vez. Hehehe, brincadeira, já tá marcado, a balada e no Vou Vivendo, nosso bar das antigas, aniversário da Marcinha."
“Pô legal, espero que dê para relaxar um pouco tô meio tristão , velho"
"Ah mano velho sai dessa! O negocio é alto astral, muita calma nessa hora, tu vai ver umas gatinhas novas, rever as velhas, vai ser massa velho!"
"Beleza então, vou tomar uma ducha e daqui a pouco tô pintando na área"
"Belê rapá, vou fazer o mesmo, nos vemos na balada!"
No banho Plínio tentava parar de pensar em Carmem:
"Esse xampu era dela, porque diabos ela não levou, aposto que fez de propósito, só para mim lembrar dela, mas nada disso, não vou fraquejar, hoje é a minha noite"
Plínio sabia lá no fundo que não era tão simples assim, ao acabar o banho se enxugou na toalha e lá estava o perfume dela.
"Que saco, o perfume dela ainda está em todos lugares, parece perseguição"
Na hora de vestir, colocou um monte de camisas, nada parecia combinar, nenhuma roupa lhe caia bem.
"Se a Carmem estivesse aqui estaria provavelmente rindo do meu gosto e já teria escolhido minha roupa, melhor agora, não preciso da opinião dela e tenho liberdade de escolha, posso ser eu mesmo!"
Escolheu então uma camisa azul que adorava, mas logo depois lembrou que era também a preferida de Carmem:
"Não vou usar nada que me lembre ela, pode dar azar!"
Escolheu uma então preta, cor que Carmem odiava:
"Pronto, sempre quis usar preto, fico legal, nunca pôde. Viva a liberdade!"
E se olhava no espelho com satisfação, se sentia realizado, era como se Carmem estivesse ali e ele estivesse a contrariando.



Novo lar

"Você pode colocar suas coisas aqui, Carmem"
"Obrigado Carol , você tem sido um anjo para mim, sem você talvez eu não fosse capaz de fazer o que eu fiz"
" Imagina minha amiga, não fiz nada que você não faria por mim, agora vai tomar um banho para a gente jantar"
No banho Carmem só pensava em Plínio, no que ele estava pensando, o que estava fazendo:
"O que será que ele tá fazendo? Aposto que todo mundo já ligou, o Dildo já deve até arrumado um lugar para eles afogarem as magoas. Aqueles dois se merecem"
Quando ia lavar os cabelos lembrou:
"Ai, esqueci meu xampu, aposto que o Pli tá usando, só para lembrar do cheiro dos meus cabelos. Hehehe!"
Depois do banho, Carmem se sentiu bem mais bem disposta e se animou com o jantar.
Na mesa tinha uma comidinha leve, só saladas e um franguinho grelhado.
"Não é atoa que você tem esse corpão, né Carol?"
"Claro, minha filha, se eu não gostar nem cuidar de mim quem é que vai?"
"Eu e o Pli comíamos..."
"Pode parar senhorita, nada de eu e o Pli"
"Só ia dizer que comíamos um monte de besteiras"
"É mais aqui só comidinhas leves, você vai entrar na linha e vai adorar"
"É... estou precisando mesmo, nestes últimos tempos engordei um bocadinho, tenho saudades do meu tempo de magrinha"
"Hehehe, lembro quando te chamávamos de "Pau de virar tripa", você ficava muito brava "
"Hehehe, é mesmo, mas eu era assim tão magrinha é?"
"Não era implicância de adolescente"
E as duas ficaram ali lembrando de quando eram adolescentes, de como os garotos se derretiam por elas, riram a beça e relembraram o quanto foram felizes nessa época.
"Bom vamos mimi linda?"
"Vamos que amanhã é dia de branco, você me dá uma carona?"
"Claro, vamos juntas...Você tá bem mesmo?"
"Estou amiga, amanhã vai ser outro dia, enquanto isso, vou vivendo."

Nos braços da noite sem fim

A noite prometia, todos na mesma mesa de sempre, ali do lado do pianista, no cantinho do bar onde dava para ver todo mundo entrar e sair.
Tinha a Claudinha com aquela voz fininha e irritante, mas que era gente boa, tinha o Daniel com aquele topetão de Elvis Presley, a Nina loiríssima e sedutora, o Floral com sua mania de naturalista e esoterismo mas que não resistia a uma cervejinha e tinha essa apelido porque era viciado em florais de bach , a aniversariante Marcinha que estava mas linda do que nunca, com aqueles cabelos negros esvoaçantes e compridos que brilhavam muito.
“Saca só a minha onda com a Claudinha”- era Dildo alardeando para Plínio seu flerte com a aniversariante.
“Marcinha tu continuas linda como sempre, estes teus cabelos negros iguais a esses olhos que parecem duas jaboticabinhas...”
“Hahaha, jaboticabinhas? Agora você se superou , corta esse xaveco furado, você sabe que não é meu tipo de homem”
“Ah Marcinha tu sabe que não existe mulher difícil, existe é mulher mal cantada e esse negocio de tipo de homem é papo de mulher que foi mal amada e que tem medo de se entregar”
“Ah é ? Mal amada e mal cantada? Desde de quando o senhorio entende tão bem de mulher e tão bem de Marcinha?”
“Tu sabe que eu mancho bem desse babado e sempre tô pegando umas gatinhas por ai que dão mole”
“Pelo que eu sei você não anda pegando nem resfriado..”
“Ih qualé Marcinha? Vai me tirar assim desse jeito é?”
“Não gato, é só brincadeirinha pra te irritar”
“Tá ai! Já saquei a tua onda, você gosta de bancar a difícil, né?”
“É... digamos que mais ou menos por ai...”
Plínio e o resto do pessoal trocavam umas idéias cabeça bem ao lado do flerte dos colegas:
“Eu acho que o mundo está se tornando um lugar quase impossível de se viver, estamos sempre insatisfeitos com o que temos, todos querendo sempre mais...”- Floral com suas ideologias dava um toque meio revoltado a discussão.
“O fato das pessoas quererem sempre mais é o sistema capitalista que cria necessidades, cria produtos que se tornam indispensáveis e a vida impensável sem eles, como celulares, ar condicionado no carro, etc.”- Daniel pegando a onda da discussão.
“Eu acho que as pessoas de hoje são muito egoístas, só pensam em si mesmas, acham que o mundo gira em torno delas, passam a vida inteira tentando serem amadas, por aquilo que tem e não pelo o que são”- Plínio colocando para fora um pouco da sua mágoa.
“Vocês sabem o que eu acho das pessoas?”- Claudinha com aquela voz fininha e estridente-“Eu penso que elas precisam se amar mais uma as outras, que só o amor constroi uma vida mais justa e feliz...”.
Todos deram uma gargalhada das palavras simples , divertidas e carregadas de ingenuidade de claudinha, aqueles amigos embora cada um fosse de um jeito, de uma certa se completavam e se ajudavam, distraindo a cabeça, bebendo de bem com a vida, curando tristezas, criando esperanças, traçando planos só por traçar.
“Galera vamos cantar uma canção em homenagem a nossa aniversariante"...

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