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Artigos-->A máscara de gesso -- 26/10/2005 - 10:28 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Eis o grande dilema: produzir cultura neste país. De um ponto de vista técnico, ou melhor dizendo, que atenda às necessidades do mercado artístico brasileiro. Amar a Arte e sobreviver dela significa atirar-se ao mar, sem a certeza da ilha portuária mais próxima. Significa dizer que os ventos elísios que sopram do Atlântico Sul, resolvam não cooperar com o marujo. Seu destino pode ser outro – e todo marítimo, por mais experiente que seja, não gostaria de encontrar pela frente uma tormenta oceânica ou recifes traiçoeiros. “Existem muitos talentos que são vencidos pela exaustão”, diria o teatrólogo Sábato Magaldi. Só a vocação não basta, precisamos perceber isso com muita rapidez se não quisermos afundar como tantas outras fragatas portuguesas. Sabemos que no Brasil a maré nunca esteve boa e o mar favorável aos peixes. Quando muitos artistas no Brasil conseguem comer três vezes ao dia, pode ter certeza de que isso está sendo feito a duras penas. Quem não for bissexto não sobreviverá. Tirar vantagens das circunstâncias e agarrar oportunidades, estão validadas pela Lei de Gerson: tirar proveito de tudo. Pense você que já vivi situações difícieis , porque nosso mercado é informal o suficiente para permitir as maiores explorações possíveis. Temos alguma lei federal que nos garanta pelo menos uma previdência social? Não. De qualquer modo, somos responsáveis por uma parcela significativa do PIB ( Produto Interno Bruto ) nacional. Geramos emprego, desenvolvemos ações estratégicas, suportamos longas datas sem políticas culturais, fomentos minguados e muita especulação, ou seja, fala-se muito em dinheiro, mas ninguém sabe onde e como consegui-lo. Não funcionamos como uma empresa social no sistema de contribuições da União, embora repassamos impostos a rodo quando precisamos analisar as cifras de um orçamento ou organograma de ações de um projeto. Afinal, elaborar projetos culturais no Brasil é desvendar o mapa da mina. E como essas minas andam concorridas... Garimpar parece difícil nos extremos rincões do Brasil. A Lei Rouanet ( 8.313/91 ) é a única garantia de que os empresários terão retorno financeiro considerável em seus negócios. Nas esferas Municipal e Estadual, se você não está apoiado numa lei específica ( seja de subvenção ou dedução de impostos ), a coisa se complica. A maior preocupação das empresas é saber se de fato, tal investimento vale a pena. Pela orientação do inciso II, na redação da mesma lei, projetos culturais que não se enquadram como projetos especiais ( artigo 476 ) não conseguem deduzir integralmente o valor desembolsado ( artigo 475, parágrafo 1º ). Há uma contrapartida entre 30% e 50% do valor investido. A análise dos benefícios de marketing cultural é que determinam a utilização destes projetos. Esta é a Lei Rouanet convencional. Por outro lado, a “setorização” do mercado cultural dificulta a grande maioria das propostas ao Ministério da Cultura. Obviamente que muitas barreiras do establishment das artes vem sendo quebradas, mas a passos lentos. O Seminário Nacional de Culturas Populares, promovido pelo Governo Federal no início do ano, fortaleceu de modo articulado o Terceiro Setor ( ONG’s e Movimentos Sociais ) e táticas novas ganham terreno no país, explorando potencial criativo nos chamados projetos sociais, em voga no mercado. Se cultura neste país tivesse um caráter menos burocrático no sentido sociológico, seria mais simples imaginar, por exemplo, como aproveitar melhor os espaços cênicos de um espetáculo musical ou teatral, transpondo necessidades técnicas a novos experimentos de encenação. Os custos de manutenção de uma casa de espetáculos prejudica os lucros do artistas, não podendo ganhar seu suado pão como deveria. Isso, claro, é uma opinião pessoal, mas não duvido que produtores culturais refliam sobre tal situação. Existem poucos superlotados teatros no Brasil, atendendo demandas de alto custo com platéias escassas. O que percebo é a Arte Contemporânea no Brasil não ter alinhado seus objetivos centrais aos trópicos. Se crises políticas e econômicas não deixarem de existir, essa contrapartida precisa abandonar o convencionalismo e propor aquilo que melhor permita sua sustentação. Estamos falando de dinheiro. Chega um momento em que os artistas não querem mais passar o chapéu. Artistas não podem permitir a esmola. Eu sei que muitos profissionais vivem dela, mas não dá para manter essa tradição. Muitas Cias e grupos preferem conquistar a ferro e fogo grandes empresas ( estatais, mistas e privadas ) na articulação de seus projetos à longo prazo. Uma alternativa viável – até mais “sociável” economicamente aos grandes monopólios empresariais – para evitar que um produto cultural tenha vida curta. Quem se destaca atualmente no ramo são as majors da telefonia privatizada ( Brasil Telecom, Embratel e Interlig ) que vez ou outra, lançam editais de apoio a propostas nas áreas de Artes Cênicas, Música e Cinema – pelo menos as mais requisitadas. Com lucros exorbitantes, apoiadas pela Lei Rouanet, sua dedução de impostos baseada no recolhimento do ICMS ( Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços ) mantêm um faturamento altíssimo de seus concessionários, se compararmos os valores absurdos para possuir uma linha de telefone fixo residencial. Ou seja, estão ganhando muito dinheiro às nossas custas e ainda investem milhões em publicidade, coisa que fica relegada aos “patrocinados” fazer, faturando cada vez mais. Só que pra eles. O grande problema disso tudo é a responsabilização que o Governo Federal joga para a iniciativa privada. Mesmo não analisando essa estratégia econômica das majors – que ainda remetem todos os seus lucros para o exterior – sob um aspecto de representação física dos meios de promoção e existência dos produtos culturais, as Cias e grupos continuam menos importantes no panorama geral.



Desenvolver uma pesquisa, manter um elenco coeso, investir em estudos custear despesas de manutenção parece ser uma irrelevância grosseira. Promover o crescimento e a profissionalização de mão-de-obra – independentemente de estilo, ideologia e formas de trabalho – é a única alternativa para nichos de cultura duradouros. No Brasil, o problema do teatro é especificamente esse. Ou pelo menos, o maior deles.



O mercado artístico não pode ser uma máscara de gesso, exuberante e sensível. Qualquer movimento ou toque brusco pode quebrá-la. Se possuir exuberância, precisa de resistência. Só assim suportaria longas temporadas de chuva. Nossos grupos precisam existir, é necessário desenvolver uma política de apoio emergencial por parte do governo. Criar mecanismos de fomento direto para montagem e capacitação de atores como uma das metas principais. Facilitar a inclusão macro-estratégica de regiões fora do eixo Rio-São Paulo, levando em conta suas variedades culturais e econômicas. Incentivar novos métodos de patrocínio via projetos sociais de natureza filantrópica, submeter novas pastas governamentais e ministérios a redistribuir recursos que possam ser aproveitáveis culturalmente no mercado. Chega de tanta diplomacia para inglês ver, voltemos o olhar para o Real. Ninguém produz Arte sem dinheiro neste país.

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