É a palavra um dom, quiçá perverso
dom com que faço minha atroz mortalha.
É também ninho, lã que me agasalha,
esteio das idéias que alicerço.
É luz dentro da noite. É o breu imerso
na perfeição das faces da medalha.
É o "não" dito como "sim". É falha.
É o cimento e a pedra deste verso.
É gelo seco, pó... se desconverso,
ou diamante. É pedra que retalha
jóias da língua. É fio. É nó. É malha.
É a palavra, enfim, dúbio universo:
Abre caminhos, luzes... É navalha
de dois gumes: também constrói muralhas.
(soneto Shakespeareano)
|