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Contos-->O ABRAÇO -- 12/03/2002 - 00:03 (Fabio Poletto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ao sair da escada rolante, já ao nível da rua, postou-se ante a plataforma número quinze, coincidentemente a primeira à sua esquerda. A ansiedade que lhe enchia o peito naqueles últimos minutos tinha muito de medo e vergonha. Estava tomado por devaneios próprios, mistos de futuro imaginado e de passado distorcido pelo próprio decorrer do tempo. Ficou como uma estátua, olhando para o vazio por exatos quinze minutos, até que chegou o ônibus. A quarta pessoa a descer do intermunicipal foi ela. Um olhar de satisfação quebrou todas as expectativas negativas que Marcelo ainda poderia manter. Estava petrificado, os olhos tristes e o esboço de um sorriso lha marcavam a face. Aquele homem, sempre tão altivo e decidido, sempre tão firme, estava flácido, caído dentro de si mesmo, sem ação.


Inconscientemente, aguardou que Márcia se aproximasse – o que, diga-se, foi visto por ela como certo desdém, mas não a impediu de se aproximar a passos curtos.


Ele abriu os braços como quem vai ser crucificado - e compartilhava muitos dos sentimentos de uma pessoa nessa situação. Encostou-se em Márcia e fechou os braços, puxando-a para si e acolhendo-a num abraço redentor, daqueles em que todas as partes do corpo se tocam, daqueles que geram uma troca de energia sensível inclusive por quem está bem próximo. Vindas da sua memória, as lembranças dos momentos perdidos, desperdiçados em troca de rixas mesquinhas e inúteis, nesse instante surgiam todas de uma vez em seu pensamento, como um flashback nervoso, tal qual um videoclip de imagens antigas, deixando-o triste, fazendo-o sentir uma pena terrível de si mesmo. Aquela pessoa que ele um dia teve nas mãos – pensava mesmo com essas palavras, tinha tanto a oferecer-lhe, mas ele abriu mão, e agora estava arrependido. Aquela mesma pessoa que ele contava ter à sua disposição pelo resto da vida, estava agora à beira da morte – isso já era visível, e isso fazia com que Marcelo se sentisse o mais imbecil dos homens.


Não conseguiu conter a lágrima.


Com as mãos espalmadas sobre as costas da mulher, a apertava inocentemente contra si, abrindo os dedos das mãos, num gesto típico de quem tenta cobrir a maior parte possível do corpo alheio com o seu próprio – e Márcia lhe retribuía o gesto. Com certeza lhe retribuía também o sentimento. Mesmo ciente de seu esforço para trazer a razão a Marcelo durante seus ataques de fúria, coisa que ela não fez poucas vezes – e disso ela não podia se esquecer-, nesse momento, como é normal, o sentimento de culpa é recíproco, inunda os dois corações, mas, ironicamente, não convém falar em culpados. Ela soluçou, imaginando-se prestes a perder o controle. Segurou-se. Não queria mostrar-se tão suscetível à emoção naquele reencontro. Num instante, concentrou-se no jantar programado para a sexta-feira no restaurante em que jantaram pela primeira vez – mesmo ciente de sua própria condição, já não o tirava da cabeça. Magicamente o tenente também vislumbrou o mesmo evento, imaginando-o como um ato de dedicação e reconforto, mesmo que pelo breve durar de um jantar e, sem se dar conta, já ansiava por aquela noite.


Mas era tarde demais, e esse plano em comum seria desfeito pelo derradeiro efeito do câncer, em algum momento entre aquele abraço e sexta-feira.
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