O renomado professor de sociologia da USP e arauto da esquerda brasileira, Emir Sader, em recentíssimo artigo na Folha de São Paulo, defende a tese de que tudo de bom realizado pelo governo Lula é conseqüência da aplicação de políticas da esquerda, enquanto os aspectos negativos decorrem da “manutenção de políticas e métodos da direita”. Ele não deixa dúvidas no seu texto: “os méritos do governo Lula e do PT vêm da esquerda”.
É muita presunção de um simples bancário aposentado discutir conceitos do eminente acadêmico da USP e da UERJ, coordenador do “Laboratório de Políticas Públicas”, praticamente divinizado pelas alas radicais do PT, mas a gente não pode ficar calada diante de tolices que, por virem de famoso cientista social, nem por isso se transformam em verdades indiscutíveis.
É dele, no referido artigo, a afirmação de que “tenta-se desqualificar o arcabouço histórico da esquerda, responsável pelos melhores momentos da história da humanidade...” (o grifo é meu), embora não mencione um só desses momentos para embasar sua declaração.
Acho incrível que, atualmente, um homem desse quilate, continue a dividir o mundo em dois lados, esquerda e direita, sem se dar conta de que são posições inteiramente ultrapassadas, esquecendo o que as ideologias fundadas sobre esses conceitos produziram em nosso mundo, durante um longo tempo do século que acabou de findar-se.
Foram os governos de regimes totalitários de direita e esquerda que realizaram o maior genocídio de todas as épocas, algo que se estima superior a 100 milhões de seres humanos, muito além da mortandade provocada pelas duas guerras mundiais.
Foram igualmente os mesmos regimes que implantaram ditaduras impiedosas na União Soviética, na Albânia, na China, na Alemanha, no Chile, na Argentina, na Itália, para ficar nesses poucos exemplos, que amordaçaram a imprensa, proibiram a religião e perseguiram seus praticantes, fecharam as fronteiras de seus paises, estabeleceram a “democracia do partido único”, estatizaram os meios de produção, revogaram todos os direitos individuais, calaram a Justiça, fecharam os parlamentos e impediram as pessoas de se locomover, de sonhar, de serem livres, entre outras iniciativas.
Não se sabe, por exemplo, se Stalin mandou matar mais de 20 ou de 25 milhões de patrícios e quantos chineses morreram por conta da “Revolução Cultural” de Mao, embora se estime que só de fome desapareceram mais de 10 milhões.
Os registros quanto aos assassinatos oficiais do regime nazista são imprecisos e ninguém efetivamente tem idéia de quantos opositores (comunistas, religiosos, sindicalistas, etc.) simplesmente desapareceram. Calcula-se apenas que mais de 6 milhões de judeus foram exterminados durante a “Solução Final” de Hitler.
À luz da história, portanto, a gente percebe que pouco importa se as ditaduras têm o carimbo de esquerda ou direita, tanto elas parecem iguais quanto aos resultados que obtiveram no campo dos direitos humanos.
É claro que quando o professor Emir Sader fala de “melhores momentos da história da humanidade” não quer se referir a nada disso, que é conveniente esquecer.
Aliás, o bom da vida é ver certas mudanças, como a do atual presidente da Câmara dos Deputados e segundo na sucessão à presidência da República, Aldo Rebelo, que, em declaração recente disse que somente nos regimes totalitários existe o julgamento coletivo, logo ele, um comunista discípulo das teses do Enver Hoxha, responsável por um dos mais impiedosos e fechados regimes políticos do mundo moderno.
O professor Emir Sader parece esquecer que há experiências de resultados excepcionais, em várias áreas, inclusive na educação e saúde em países que supostamente adotam políticas de direita, como também em regimes de esquerda, como é o caso da Cuba de Fidel Castro, que infelizmente ainda mantém um regime ditatorial de partido único, em que os direitos humanos são desrespeitados.
Para quem não se preocupa com essas questões transcendentais e nem tem a preocupação de elaborar teses acadêmicas o que importa nos dias de hoje é a eficiência da ação dos governos, estejam eles vinculados a posturas ditas de esquerda ou direita. O que se quer é competência gerencial para fazer com que as coisas aconteçam e probidade pessoal dos agentes públicos.
E o que se vê hoje em dia é o abandono de dogmas ideológicos em favor da adoção de um pragmatismo gerencial pelos governos que perseguem o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida da população.
Muito acima desse maniqueísmo inadmissível para um pensador, que mais parece um panfletário, os paises comunistas e socialistas estão criando bolsas de valores, privatizando empresas, atraindo investimentos e capitais estrangeiros, permitindo a instalação de organizações capitalistas e estimulando parcerias com elas e direcionando sua economia para o setor de exportação, enquanto países onde impera a economia de mercado investem maçiçamente no ensino fundamental público, de olho no futuro.
Afinal, as políticas públicas, sejam de “direita” ou de “esquerda” formam um estoque de idéias à disposição dos governantes de todos os quadrantes, que não precisam pagar royalties para usar essas patentes.
No nosso país, contudo, se prevalecerem as teorias do professor Emir Sader vamos continuar “patinando”, sem rumo...
