CRIANÇAS E BORBOLETAS
* adaptação do conto: A Borboleta”, de Jakob Streit, por Leonore Bertalot
“Havia uma borboleta que voava com asas cansadas pelo prado. A fina garoa molhara sua veste colorida. Sentindo suas asas pesadas pousou sobre o gramado.
Logo notou que suas asas haviam se danificado e por mais de uma vez tentou alçar vôo, contudo, sem sucesso. Mais tarde, foi até uma plantinha de folhas largas e debaixo dela depositou alguns ovinhos bem pequenos e branquinhos.
Ela então dobrou suas asas e calmamente ficou sentada ali, sonhando com flores e raios de Sol. Logo veio a chuva e a borboleta morreu com o vento frio da noite.
Os pequenos ovos da borboleta foram bem cuidados no coração quente da Mãe-Terra. De dia o Sol lhes enviava calor e à noite, o calor da Terra os envolvia. A folha larga os protegia da chuva.
A luz da velha borboleta havia se apagado, porém em cada um de seus ovos brilhava uma faísca de vida.
Depois de alguns dias, algo começou a se mexer dentro dos ovos, e um raio de Sol, percebendo a nova vida, chamou:
- “Venha para fora, venha para fora”... O ovinho se mexeu, a pele rasgou e de dentro saiu uma lagarta, amarelinha, de pele sedosa e pintinhas escuras.
Arrastou-se até a folha larga, que se tornou seu jardim, mesa e casa. Ela gostou do sabor das bordas da folha, e após esburacá-la o Sol cantou: - “Continue a ir pelo mundo verde”. E assim, a lagarta rastejou de folha em folha, e depois de uma semana já era uma lagarta grande, com pelinhos nas costas.
O verão deu lugar ao frescor do outono, e então o raio de Sol disse: - “Procure um lugar quieto, um quartinho para descansar”.
Entre pedras e folhas, vagarosa, ela desceu ao aconchego da Mãe-Terra. Assustada com a escuridão, cochichou:
- “Mãe-Terra, acolhei-me, o Sol me mandou abandonar o mundo verde”.
E bem do fundo surgiu uma voz:
- “Não fique triste de ter perdido o mundo verde, minha filha, o raio de Sol lhe deu um bom conselho. Fique comigo, tire sua veste que é velha e encolhida. Durma, pois as fadas querem tecer um lindo sonho para você”.
Ao abandonar suas vestes, ela teve uma sensação estranha, sua pele endurecera. Ela se sentiu presa, sufocada e tentou chamar:
- “Socorro, estou morrendo”. Mas já havia caído num sono profundo como a Morte, e sua pele se tornou um caixão duro.
Enquanto dormia seu sonho profundo, a lagarta não viu a passagem do inverno, nem tampouco o milagre que aconteceu no seu casulo.
Com mãos misteriosas, as fadas teceram uma veste celestial no túmulo escuro, usando o brilho das estrelas e as cores do arco-íris nos delicados fios da nova roupa.
Com a primavera, a Terra esquentou, as flores desabrocharam e o casulo se abriu na Terra, e do túmulo acordou uma borboleta.
Ela saiu em direção da luz, e ouviu um canto:
- “Venha conosco”. Era o canto das flores. Elas pediam ao Sol:
- “Oh, Sol, como gostaríamos de voar e criar um jardim celestial entre seus raios”.
Então, respondeu o raio de Sol:
- “Vou viajar pelos mares e terra. Esperem por meu pássaro, e ele lhes contará sobre as estrelas e o arco-íris”.
Neste momento, a borboleta se levantou, voou até as flores e se tornou a sua mais querida irmã”.
Moral da história:
Através de uma linguagem em que seres da natureza se comunicam, e que as crianças entendem, podemos admirar o exemplo mais bonito da transformação da Vida, aquele vivido pela lagarta que se encolhe, adormece, morre, para ressurgir como um sonho colorido, como um mensageiro voador do Sol e das cores do arco-íris.
Não é fantástica a imagem das borboletas que se desprendem do casulo seco, abrem suas belas asas, delicadamente trabalhadas, e numa dança louca de cores, envolvem o mundo das flores, que parecem suas irmãs, porém presas pelas raízes ao solo da Terra?
(...)
* Adaptação de dois artigos editados na revista Chão e Gente (nº 11 e nº 12) de Leonore Bertalot, suíça de origem e brasileira naturalizada, pedagoga formada em estudos antroposóficos na Inglaterra e ex-orientadora da Escola Waldorf João Guimarães Rosa.
postado por Heleida
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