Ele era um vendedor profissional de contos incompletos, para que escritores amadores os continuassem. Ele criava muitos personagens, elaborava uma pequena trama, e depois vendia essas histórias de porta em porta. Carregava os contos numa maletinha de couro marrom, todos eles juntinhos, espremidos um no outro, como se amparassem a si mesmos em busca de quem lhes desse um fim. Tão espremidos que muitas vezes alguns personagens mudavam de um conto para outro.
E o vendedor considerava-se bem pago, mesmo quando não era bem recebido.
Uma porta em sua cara, uma cara feia do lado de dentro, um sorriso inocente de criança; tudo para ele era belo, e ainda que não vendesse conto algum, voltava sempre satisfeito. Com idéias novas para novos contos.
Vivia de literatura interativa, virtualmente alimentado por pequenas e grandes emoções(...)
Original in "Manual da Separação", Edson Marques, Ed. Filosof, 160 pag., SP, 1998.
MUDE
|