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Artigos-->A Formação da Mentalidade -- 18/09/2005 - 21:53 (rui simon paz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A FORMAÇÃO DA MENTALIDADE:

Edifício Lógico-Axiológico, Valores, Molduras.



Prof. Rui Simon Paz



Os estudos referentes aos fenômenos sociais, conforme as escolas sociológicas, enfocam ângulos diferentes. De um lado, a abordagem macrossociológica, que têm como expoentes Karl Marx e Èmile Dürkheim. De outro, a microssociológica, onde encontramos a maior expressão em Max Weber.



O enfoque macrossociológico procura apreender o funcionamento das sociedades a partir de estruturas abrangentes, de caráter coletivo, para então compreender os aspectos particulares de cada realidade estudada.

Marx, por exemplo, contemporâneo das grandes transformações advindas com a Revolução Industrial, concentra-se nas relações econômicas, donde busca abstrair as relações existentes entre as classes sociais que se revelam, segundo o autor, em pares dialéticos antagônicos, ou seja, em dominantes e dominados, proprietários e não proprietários. A partir desse enfoque, determina a periodização da história das sociedades humanas em face do modo como produzem a sua subsistência.

Na Idade Média, a estrutura econômica baseava-se no trabalho servil, tendo a terra como meio básico de produção. Os principais atores sociais eram, de um lado, os senhores feudais, proprietários das terras, instrumentos, utensílios e pessoas que se encontrassem em seus domínios; de outro, os servos das glebas, que detinham todo o conhecimento dos instrumentos e instruções necessários à manutenção da subsistência, tanto sua, quanto do senhor feudal, através da corvéia. Assim, esse período caracterizou-se pelo chamado Modo de Produção Feudal.

Na Sociedade Capitalista, desaparecem senhores e servos para dar lugar a burgueses e proletários, ou capitalistas e trabalhadores, estes também interagindo como pares dialéticos, diante do advento da grande indústria. Inaugura-se, assim, o Modo de Produção Capitalista. Com efeito, Marx propõe uma Filosofia da História, onde a dialética da luta de classes constituir-se-á em “motor da história”, conduzindo, afinal, a humanidade ao seu destino inexorável, ou seja, à sociedade sem classes. Note-se, portanto, o caráter escatológico da, por assim dizer, profecia, e o papel secundário reservado aos indivíduos, subordinados às classes sociais economicamente definidas e que deverão, por conseguinte, reduzir-se ao “novo homem” resultante da nova Sociedade. Em outras palavras, a sociedade sem classes, portanto, comunista, está para os marxistas, assim como o paraíso está para a dogmática católica.



Em linha semelhante, temos na França da segunda metade do Século XIX a presença de Èmile Dürkheim, eminente estudioso dos fenômenos sociais e discípulo de Auguste Comte. A sua análise baseia-se também no enfoque macrossociológico, onde o indivíduo deve subordinar-se, não às classes sociais, mas à consciência coletiva, depositária da moral social global. Quanto mais os indivíduos se parecerem em termos de consciência, maior coesão e equilíbrio haverá na Sociedade. Em outras palavras, maior a semelhança de visão, menor o conflito. Dürkheim acreditava em uma Sociedade sem conflito, harmônica, desde que trabalhasse para ajustar os indivíduos à moral social. Encarava a Educação como o móvel essencial dessa tarefa. A coerção dos “fatos sociais” sobre a vontade dos indivíduos era determinante da saúde social. Na verdade, sem se expressar dessa forma, propunha formas de adestramento do indivíduo, para uma adaptação serena à vida social.

Como Marx, Dürkheim foi contemporâneo de um Século de grandes transformações sociais e econômicas, com inevitáveis distúrbios e crises próprias de situações dessa natureza. Ambos procuraram dar conseqüência às suas análises, com proposições para fazer frente à problemática social que se revelara. Como não poderia deixar de ser, operaram o edifício lógico-axiológico cientificista de sua época, acreditando na possível redutibilidade do singular de cada indivíduo a projetos e visões coletivistas. Aqui vemos, portanto, a projeção emoldurada da ótica que o Século XIX desenvolvera em relação ao homem. Um ser passível de moldagem aos desígnios finalistas da sociedade perfeita, seja marxista ou positivista.

Na Alemanha do Século XIX, temos a presença de Max Weber que, também preocupado com o que se passava ao seu redor acerca das transformações políticas, sociais e econômicas iniciadas no século anterior, privilegia a observação dos comportamentos individuais diante de mudanças tão intensas e extensas. Com efeito, pelas características da introdução do modo capitalista de produção na Alemanha, que chega tardiamente em relação à França e Inglaterra, introduzindo novos paradigmas construídos em outras realidades, os cidadãos alemães reagem de forma atordoada em face da rápida obsolescência do seu modo de vida. Logo, as reações individuais irão sensibilizar o olhar sociológico de Weber. O enfoque, portanto, será microssociológico.

O que vemos em todas essas abordagens refere-se à teoria do homem formulada no Iluminismo. Portanto, o edifício lógico-axiológico, os valores e as molduras deles resultantes revelam a visão construída sobre o mundo, a vida, as pessoas, a Sociedade. Em cada época da Humanidade, desenvolvemos o conceptual possível e, em seguida, o conceitual com o qual operamos nossa existência. Por exemplo, as molduras tecnológica medievais, no que se refere aos meios de transporte, baseavam-se em veículos de tração animal. Com efeito, toda a programação de vida de seus contemporâneos se expressava por esse limitador.

O tempo, as distâncias, os desejos, os horizontes, estavam todos delineados por essas molduras. Assim, seria improvável que um habitante do medievo viesse a imaginar poder percorrer alguns milhares de quilômetros em um único dia, como fazemos hoje, na era dos supersônicos. Quando os astronautas fotografaram a Terra a partir da Lua, alteramos nossa moldura cosmológica. A partir daquela emblemática fotografia revelando o nosso planeta flutuando no espaço, coberto de nuvens brancas contrastantes com o azul da atmosfera. Estabelece-se, então, um divisor de águas entre uma moldura cosmológica terrena, isolada, para outra, cósmica, dinâmica, com consciência de pertencimento. Todos nos alteramos profundamente a partir daquela imagem.

Assim, quando alteramos nosso conceptual, alteramos todo o edifício lógico-axiológico, os valores e, finalmente, as molduras que delineiam o mundo diante de nossas consciências.



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